A Raríssimas é uma vergonha nacional
Quando há desmazelo na aplicação de dinheiros públicos, essas práticas têm de ser desmascaradas. Não pode haver crime sem castigo, disso os portugueses estão fartos.
Há muito trabalho louvável na área social e muitos desses casos são desconhecidos, fazem o bem sem olhar a quem, sem luxos, sem presença mediática. Há muita gente que faz de uma causa o empenho de uma vida e merecem todo o reconhecimento da comunidade, por isso não tomemos a nuvem por Juno. Porém, no meio desse rebanho humilde e trabalhador há sempre ovelhas negras que mancham a credibilidade e reputação de outros.
A Raríssimas é uma boa causa, disso não tiremos o mérito, e atraiu muitos ilustres e mecenas que contribuíram como puderam para a ajudar. Paula Brito e Costa é uma deslumbrada com os milhões que lhe bateram à porta, caiu no vício dos luxos e na soberba das atitudes. É grave o camarão, as viagens e vestidos, mas o que me escandalizou mais, foi a obrigação dos funcionários a tratarem por «doutora» e a de se levantarem na sua presença. Isto é de uma degradação moral, de uma mesquinhez e de um nepotismo típico de regimes dos coronéis Tapioca e Alcazar.
Nós não temos nada a ver com os donativos particulares, cada um faz o que quiser com os seus pertences, mas a Raríssimas recebeu 5 milhões de dinheiros públicos, do nosso dinheiro, segundo diversos jornais, e com isso não se brinca. A opacidade que rege uma série de associações e instituições que recebem subsídios do erário público tem de ser fiscalizada rigorosamente pelo Estado no bom nome da transparência. E suspeito que não será o único caso, pois há bons exemplos de gente que andava com uma mão à frente e outra atrás e hoje evidencia vida de milionário à conta de cartões das instituições a que presidem. Ora, isso é repugnante, desmobiliza o apoio que a comunidade pode dar a causas que a todos devem mover.
O deslumbramento e nepotismo já descrito da presidente da Raríssimas é uma vergonha nacional. A senhora podia ter subido na vida, do quiosque aos encontros com a princesa Letizia de Espanha, devido ao seu trabalho nesta área, mas é evidente que não tinha “gravitas” nem virtudes para ocupar tal cargo. Podem aparecer mais histórias sobre esta instituição, mas a sua honra está beliscada desde já e levou à queda de um secretário de Estado que parecia um imbecil a responder à Ana Leal, enquanto víamos as fotos de diversão no Brasil na companhia de quem o contratou em tempos. Um folclore abjecto que parecia não ter rei nem roque, pois ninguém controlava as despesas e concupiscência da «doutora« Paula.
Mas há outro lado que não podemos esquecer. É que segundo o jornal Público, 84 por cento dos equipamentos sociais do país são propriedades de entidades não lucrativas, como associações ou instituições particulares de Solidariedade Social, as tais IPSS. São mais de 11 mil equipamentos, como divulgava a notícia citada, que prestam serviços a 850 mil pessoas, sobretudo crianças e idosos. E isto acontece porquê? Porque o Estado delegou noutros as tarefas que lhe deviam competir. Passou as responsabilidades e paga a factura sem se chatear muito, acrescentaria eu. Se assim é, não basta passar o cheque, tem de se fiscalizar duramente onde se gasta o dinheiro dos portugueses e criar mecanismos para que estas práticas lamentáveis não se multipliquem. Se isso não acontecer, a desconfiança será generalizada.
E tudo isto se descobriu por um grande trabalho de investigação da TVI. Exibindo aquilo que tenho escrito e defendo noutros artigos. Sejam quais forem os protagonistas, sem politiquices de esquerda ou direita, quando há vigarices, corrupção ou desmazelo na aplicação de dinheiros públicos, essas práticas têm de ser desmascaradas e, portanto, para o bem das democracias e da comunidade, não podemos ter uma comunicação social débil e raquítica. Todos a devemos desejar pujante, corajosa, curiosa e com força para investigar o que está podre. Para depois a Justiça poder formar uma acusação e condenar os culpados. Não pode haver crime sem castigo, disso os portugueses estão fartos.
Nota: o autor escreve segundo a antiga ortografia
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