
A Revolução dos (quase-Extintos) Reformados
O renascimento da esquerda radical é apenas, felizmente (!), a última fase da sua decadência. O futuro de Portugal não está em revisitar os fantasmas do PREC.
A recente notícia de que, no contexto das novas eleições legislativas, o Bloco de Esquerda decidiu ressuscitar figuras como Francisco Louçã, Fernando Rosas e Luís Fazenda não é apenas curiosa. É reveladora. Revela uma esquerda esgotada de ideias, incapaz de se renovar, que recorre a símbolos de um passado que muitos já esqueceram ou prefeririam esquecer. Marisa Matias volta ao Porto, Louçã volta a liderar listas. Parece mais um ‘revival’ de uma banda que já não tem público, mas insiste em tocar nos mesmos bares de sempre, para uma audiência cada vez mais reduzida, feita de saudosistas e militantes com quotas em dia. É triste, mas há algo de reconfortante nessa nostalgia falhada: pelo menos sabemos exatamente o que esperar — os mesmos riffs ideológicos, os mesmos solos sobre a luta de classes, e claro, o encore fiscal para fechar.
Mas há um fenómeno mais profundo por detrás desta tentativa de reanimação: o eleitorado da esquerda radical está a desaparecer. E não é por acaso. Há uma relação inversa entre o capital humano — e com ele, a literacia financeira e cívica, a propósito da “polémica” com o IRS 2025 — e a predisposição para votar em partidos como o Bloco ou o PCP. Quanto mais educada, informada e exigente for a população, menos espaço há para as narrativas fáceis, emocionais e economicamente irresponsáveis que caracterizam estas forças políticas. O PCP e o Bloco vivem de um ideal de Estado que, na prática, significa um Estado grande, ineficiente, omnipresente e cada vez mais dependente da extração fiscal. Um Estado que promete garantir o Estado social cobrando mais e mais impostos, alimentando uma máquina que diz combater desigualdades mas que, na verdade, empobrece todos — sobretudo os que mais contribuem. O discurso é sempre o mesmo: há ricos demais, há lucros abusivos, há que redistribuir. Mas a realidade é outra: há uma classe média exaurida, há investimento que foge, há talento que emigra.
Ora, há os que são bons e emigram, porque não suportam ser espoliados por um sistema que os penaliza. Há os que são maus e emigram, porque também lá fora encontram forma de explorar falhas institucionais (e.g. Luxemburgo). Há os que são maus e ficam cá, muitas vezes integrados na economia paralela, sem pagar impostos, ou os simples coitados que ganham pouco e ficam abaixo do limiar tributário mínimo. E depois há os que são bons e ficam — e são estes que pagam, por todos e em nome de todos. São estes que sustentam o Estado, mas que não têm voz porque não gritam, são educados, são “de bem” (só para irritar alguns), não fazem barricadas, não invadem plenários…
A esquerda radical — agora também woke, para desgraça do debate cívico-político — não se apresenta como uma força de progresso, mas como uma força de ressentimento. Não quer capacitar os indivíduos, quer controlá-los. Não quer um Estado eficiente, quer um Estado que domine. Não quer uma sociedade livre, quer uma sociedade dependente. Quanto mais o Estado se agiganta, mais dependências cria: subsídios, rendas, cargos, fundos. E com estas dependências vem o controlo, a chantagem e a perpetuação de elites disfarçadas de revolucionárias.
É por isso que esta “super” (com “s” minúsculo) esquerda está condenada. Tal como, segundo Newton, a gravidade é inevitável, também a extinção da esquerda radical o é. E, num paralelismo quase malthusiano, trata-se de um processo autolimitado: cresce até ao ponto da própria inviabilidade, colapsando sob o peso das suas contradições. Só precisamos deixá-la morrer — sem interferência, sem ressuscitações forçadas, sem revivalismos patéticos. É uma questão de tempo, de maturação cívica, de evolução democrática. O seu eleitorado natural é uma população pobre — não apenas em rendimento, mas em grande medida também em educação, em exigência, em espírito crítico. E isso não é o futuro que desejamos para Portugal. Não queremos um país que vota na ilusão porque não compreende a realidade. Queremos um país que entende o custo das políticas públicas, que sabe distinguir entre igualdade de oportunidades e igualitarismo populista, que valoriza o mérito, o esforço e a responsabilidade.
Para isso, o Estado tem de emagrecer. Não para deixar de proteger os mais vulneráveis, mas para o fazer de forma (orçamentalmente) sustentável, sem sugar os recursos e a liberdade dos restantes. Um Estado mais leve é um Estado menos tentador para os que vivem dele e não para ele. Um Estado que investe em educação de qualidade, em instituições sólidas, em transparência. Um Estado que dá ferramentas, não mesadas ou esmolas. Que promove a mobilidade social, não o assistencialismo perpétuo. O regresso de Louçã, Rosas e companhia é um grito desesperado de um projeto político que já não fala para o país real, mas para um país imaginado em género de Alice no País das Maravilhas, onde os problemas se resolvem com slogans e (mais) impostos.
Não nos deixemos enganar: O renascimento da esquerda radical é apenas, felizmente (!), a última fase da sua decadência. O futuro de Portugal não está em revisitar os fantasmas do PREC — está em preparar os cidadãos para um mundo onde a literacia, a liberdade e a responsabilidade individual sejam os verdadeiros motores do progresso.
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