As trapalhadas de Rui Rio
Assunção Cristas, ambiciosa, sonha, e António Costa, tranquilo, goza o pratinho. Não é preciso ser Nostradamus para adivinhar que isto vai correr mal.
Rui Rio ganhou as eleições internas mas pouco tem aproveitado de uma realidade básica da natureza humana: o coração bate sempre do lado dos vencedores. E as sucessivas trapalhadas levaram à míngua o seu estado de graça, se alguma vez o teve. Tem sido um compêndio do que não se deve fazer na liderança de um partido por parte do homem dos banhos de ética e que tem por hábito ouvir muito pouco.
Já sabíamos que não tem mundo, cultura é algo a que é alérgico e vive na sua redoma de quem tem por melhor amigo a sua própria sombra. Depois, odeia os media, consultores de comunicação profissionais (não me refiro a amadores nem terceiras linhas), para ele, são criaturas do Demo, redes sociais não olha nem percebe. Ora, este caldo de obtusidade em comunicação política é um convite ao desastre.
Não pensem que Rio é um Enviado da Manchúria, criado em laboratório por António Costa, para minar por dentro o PSD. Porém, o que é perceptível é uma enorme instabilidade, incomodidade, mosquitos por cordas no partido, ao contrário da fajuta unidade orquestrada para inglês ver no último Congresso. Qualquer observador da história política portuguesa sabe que, depois de um líder duradouro, incontornavelmente, surge um líder de transição e assim será com o sucessor de Passos Coelho. Ainda não há “The Next Big Thing”, contudo, sente-se perfeitamente que os punhais estão a ser afiados para o momento da primeira derrota de Rio.
Por isso foi de maneira inaudita que uma fonte da direcção laranja sussurrou para o Expresso que o objectivo é ganhar autárquicas em 2021 para depois conquistar o país em 2023. Isto é desde já assumir a derrota nas próximas legislativas (2019) quando nas primárias, o tal homem, Rio, que as sondagens – daquelas que ninguém acredita mas fazem mossa reputacional – diziam que os portugueses compravam mais um carro em segunda mão do que a Pedro Santana Lopes, vendia que era o tal que nunca tinha perdido nenhuma campanha eleitoral. Só registo que em 22 anos de actividade profissional ligada ao jornalismo e Conselho em Comunicação, nunca tinha visto alguém deitar a toalha ao chão tão cedo.
E ainda acresce as sucessivas trapalhadas de Negrão e grupo parlamentar, os eleitores- fantasma de Salvador Malheiro, o desconforto com Elina Marlene, que já tiveram de calar e esconder, e a ridícula situação de Feliciano Barreiras Duarte, «um desavergonhado sem paliativos» como poderia descrever Fernando Aramburu no seu magistral livro, “Pátria”, que, no seu pedestal de Berkeley, rasteirou durante uma semana o líder. E, para lá deste quadro negro, ainda mais importante, iniciativa política nula, novas bandeiras em branco e ideias zero.
Tem sido uma ópera-bufa o que tem saído da São Caetano. Todavia o responsável é apenas um: Rui Rio. Pois os problemas que tem tido resultam, exclusivamente, das suas escolhas. E no caso de Feliciano devia ter sido ele a mostrar a porta da rua ao recém eleito Secretário-Geral para não beliscar a imagem de seriedade que é o seu ponto forte, como bem disse Marques Mendes na SIC.
Com este panorama não há boa vontade que resista. “Opinion-makers” e “influencers” fugiram, Rio está desamparado mediaticamente e com tão pouco tempo de liderança já está tão isolado e desgastado como outros líderes que sofreram erosão e estavam prestes a bater com a porta. Enquanto isso, Assunção Cristas, ambiciosa, sonha, e António Costa, tranquilo, goza o pratinho. Não é preciso ser Nostradamus para adivinhar que isto vai correr mal.
O autor escreve segundo a antiga ortografia
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