Banca, o bode expiatório do Sporting

O Sporting precisa de 30 milhões de euros. Mas não é de agora. Andou a adiar o problema até à última, mas se correr mal já tem um bode expiatório. A culpa é da banca. É mesmo?

“O Sporting não está a ter o apoio a nível de comunicação, nem de comercialização dos bancos colocadores, nomeadamente, dos três maiores bancos”. A frase é de Francisco Salgado Zenha, vice-presidente da SAD leonina que, por estes dias, está numa “luta” para encontrar 30 milhões de euros frescos para outros tantos que já passaram do prazo.

Era suposto o Sporting ter devolvido 30 milhões aos pequenos investidores em maio. Com a crise na liderança, não houve emissão. E como acontece em todas as SAD, sem nova emissão, e com a banca de torneira fechada para o futebol, não há dinheiro para pagar as dívidas antigas. O rollover ficou em risco. Solução? Adiou-se o pagamento.

Foi uma decisão sensata a de empurrar o reembolso por seis meses. Evitou-se uma crise séria para o Sporting mas também para os outros grandes do futebol nacional, Porto e Benfica. Com a liderança reestabelecida, Frederico Varandas herdou um problema que deveria ter sido a sua primeira prioridade. Mas parece que não foi.

Só no final de outubro é que os alarmes parecem ter tocado em Alvalade. E em tempo recorde o Sporting apresentou contas, já com capitais próprios positivos, ainda que de pouco mais de 500 mil euros, entregou o prospeto à CMVM e a emissão chegou ao mercado. Ou melhor, foi para os balcões dos bancos.

Coincidência das coincidências, o Sporting não foi o único a recorrer aos pequenos investidores para obter financiamento. Num mês em que muitos já pensam nas prendas do Natal, e ainda sem o subsídio nas carteiras, também a Mota-Engil pôs nas agências uma oferta de obrigações.

A Mota-Engil paga 4,5%, o Sporting dá mais. Paga 5,25%, sendo que, diz Salgado Zenha, esta taxa é alta porque inclui um prémio de perda de credibilidade nos últimos meses. Ora, enquanto a construtora vai bem encaminhada, e até duplica o valor da emissão para um recorde de 110 milhões de euros, o clube de Alvalade parece não estar a ter a mesma sorte.

Não há dados públicos das ordens já recebidas, mas à luz do que têm sido as declarações quer de Varandas, quer de Salgado Zenha, o resultado não está a ser muito positivo. Quase todos os dias um deles vem a público, ora incitar aos sócios que acreditem no Sporting, ora criticar a atuação dos bancos. Ou seja, se a emissão correr mal, o Sporting já tem um bode expiatório.

Mas pode o Sporting queixar-se da banca? Primeiro, não fica bem ao clube de Alvalade criticar os bancos que em tempos aceitaram renegociar a dívida da SAD, assumindo perdas. Segundo, não fica bem fazê-lo quando já anuncia que vai voltar a sentar-se à mesa com esses mesmos bancos para renegociar novamente essa mesma dívida. Terceiro, os bancos de hoje não são os mesmos de 2015.

Quando o Sporting foi ao mercado, há pouco mais de três anos, as regras de comercialização de produtos financeiros por parte da banca eram bem diferentes. Eram menos rígidas. Agora há uma coisa chamada DMIF, que exige não só a formação de quem vende o produto, como deixando os registos de tudo o que foi dito guardados para o futuro, procurando evitar os problemas do passado.

Ora, tendo em conta o passado recente do Sporting, estando a conversa entre quem está atrás do balcão e o potencial investidor a ser gravada, que resposta poderá dar o gestor a quem pergunta se é um bom investimento? Principalmente depois de uma resma inteira de riscos que a CMVM, bem, obrigou a SAD a colocar no prospeto? E quem se atreve a dizer que entre Sporting e Mota-Engil, o dinheiro está melhor aplicado na SAD porque paga um juro mais elevado?

Meus caros, a culpa não é dos bancos. Aos bancos até lhes interessa colocar estas obrigações já que geram muitos euros em comissões. Mas não querem, e não podem, encaixar comissões a todo o custo.

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