CDS, o ‘Menino Guerreiro’ que também chora

Tal como este menino guerreiro, o CDS também precisa de carinho, de um abraço, porque os meninos guerreiros também choram.

Depois de ter estado uma semana sem escrever aqui nesta coluna, dei por mim a questionar-me com que tema deveria retomar. Pensei, naturalmente, na TAP ou no julgamento Sócrates, mas a verdade é que já tudo tem sido dito sobre estes temas. Vender menos de metade da companhia não devia ser objetivo, não faz sentido. Se a empresa é um fardo para o erário público (e é), devia já ser maioritariamente privatizada. Para além disto, a quem julgar que alguma vez recuperará os 3,2 mil milhões, aconselho vivamente a que vá desistindo da ideia, porque não acontecerá em circunstância alguma. Por outro lado, sobre Sócrates apenas tenho a dizer que já vi novelas com atores menos talentosos ou circos com menos entretenimento.

Esgotados estes dois temas, lembrei-me de voltar à mais bela da pequena política, a política autárquica. As eleições estão aí à porta e, como aqui tenho escrito, o resultado que delas sair será fulcral para o desenlace do desenho de forças saído das últimas eleições legislativas. Doze anos depois, a liderança da Associação Nacional de Municípios está em jogo, com o PSD a ameaçar o lugar do PS como maior partido autárquico português. Fruto, também, de o PS ser o partido que vê mais dos seus presidentes de câmara no limite de mandatos.

Toda esta equação é atrapalhada pelo crescimento do Chega, que em abono da verdade, não se sabe se prejudicará mais o crescimento do PSD ou se ajudará a acentuar a queda do PS. O meu framework de análise ainda me diz que o PSD pode ser quem sofre mais, até porque, nas eleições de 2021, o Chega ainda teve menos de 5% – hoje, com base nos resultados das eleições de março, pode lutar por vencer autarquias particularmente significativas, como é o caso de Sintra. Para além disto, os partidos têm sempre de ter em mente que ganha a presidência quem tiver mais votos, tenha maioria ou não. Naturalmente, neste contexto, as coligações, mesmo com os partidos mais pequenos, ganham uma especial relevância. Em câmaras, desta vez disputadas, como Lisboa, Porto, Braga, V. N. Gaia, Sintra, Cascais, Setúbal, Coimbra, Aveiro, Faro, etc. cada partido incluído nas coligações pode ser decisivo.

Com base nisto, face à ameaça do crescimento do Chega e à oportunidade que o PSD tem de retomar o estatuto de maior partido autárquico (beneficiando dos ciclos autárquicos sobre os quais já aqui escrevi uma vez), a inclusão da Iniciativa Liberal nas coligações lideradas pelo PSD, em especial nas grandes cidades, reveste-se de grande importância. Se por um lado é estranho ver os liberais a apoiarem algumas candidaturas em particular, por outro é benéfico para todos os partidos. Se para o PSD é a oportunidade de maximizar as hipóteses de ganhar, para a IL é o garante de alguma presença autárquica, pelo menos ao nível de vereadores – que com candidaturas a solo não estava garantida.

Perdido no meio deste tango, fica o CDS. Apesar de ainda liderar 6 municípios (casos aos quais prestarei especial atenção durante a noite eleitoral), é claro para todos que hoje se limita a ser uma espécie de PEV de Montenegro. É um apêndice que, por enquanto, o PSD aceita levar ao colo, na condição de não criar grandes problemas e poder beneficiar de alguns votos, que podem significar mais um deputado ou presidência. Também é claro, pelo menos para mim, que o CDS já não existe autonomamente e a manutenção da marca não passa de um mero simbolismo histórico.

É por isto que tem sido muito divertido assistir às ameaças ou mesmo às desistências dos centristas de algumas coligações, devido à inclusão da IL. Já quando se colocou a possibilidade de os liberais entrarem no governo, Nuno Melo ensaiou o discurso, apelando ao sentido histórico da AD e à confiabilidade (que é como quem diz, dependência) da aliança. Já bateram com a porta em Sintra e as particularidades de Lisboa também não parecem estar a ajudar. Se o CDS não quiser acabar como o PPM desta coligação, tem de ir aceitando o lugar cada vez mais reduzido que vai merecendo: é o custo de não ir a eleições. Hoje, é um ministro e dois secretários de Estado, amanhã, será só um e, depois, talvez se fique apenas pelo ministro, provavelmente numa pasta inferior.

Acompanhar estes episódios, estas exigências de quem não tem nada para apostar, fez-me, irremediavelmente, lembrar a música que acompanhou e guiou Santana Lopes na derrota de 2005 – “Um homem também chora/ Menina morena/ Também deseja colo/ palavras amenas/ Precisa de carinho/ Precisa de ternura/ Precisa de um abraço/ da própria candura/ Guerreiros são pessoas/ são fortes, são frágeis”.

Tal como este menino guerreiro, o CDS também precisa de carinho, de um abraço, porque os meninos guerreiros também choram. Estranho é ser aquele que já desistiu de lutar.

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