ChatGPT: inimigo ou aliado?

  • Tânia Carraquico
  • 7 Abril 2023

A inteligência artificial apresenta-se como uma tecnologia com potencial para alterar a forma como aprendemos e ensinamos. As instituições de ensino e docentes têm de se adaptar e criar competências.

A inteligência artificial generativa, popularizada pela disponibilização do ChatGPT, atingiu o mundo como uma tempestade. Esta foi a primeira vez que se disponibilizou um tão poderoso chatbot ao público em geral, através de uma interface gratuita e de fácil utilização. Ao fim de apenas cinco dias após o seu lançamento, o ChatGPT tinha um milhão de utilizadores. Em apenas dois meses atingiu os 100 milhões de utilizadores.

Esta adesão massiva do público tem gerado, ao mesmo tempo, fascínio e alarme em inúmeros setores de atividade. As instituições de ensino e os seus docentes, tantas vezes acusados de conservadores e resistentes às mudanças, não foram exceções. O principal debate tem a ver com a permissão, ou não, para os estudantes usarem estes sistemas nos seus computadores e telemóveis.

As grandes objeções à sua utilização são a avaliação e todas as questões éticas relacionadas, designadamente, com a originalidade e a autoria dos trabalhos apresentados pelos estudantes, bem como, as questões de plágio com elas intimamente interligadas.

Alegam os docentes mais alarmados que o facto de o ChatGPT produzir tão rapidamente texto sobre uma multiplicidade de assuntos faz com que os alunos recorram a este dispositivo para fazer os seus trabalhos académicos, sem procurar fontes mais fidedignas, o que dificulta avaliação de conhecimentos ou a identificação de pensamento crítico original.

Sem prejuízo de as preocupações apontadas terem alguma razão de ser, por outro lado, este avanço tecnológico traz, simultaneamente, um conjunto de benefícios ao processo de ensino-aprendizagem, incluindo à avaliação, que não pode ser negado.

Desde logo, no que vier a ser a sua versão mais sofisticada, traz três grandes vantagens:

  1. Acesso a uma multiplicidade de fontes de informação
  2. Possibilidade de aprendizagem personalizada
  3. Introdução de maior eficiência no processo de ensino-aprendizagem

Deve ser encarado como uma oportunidade para melhorar a aprendizagem dos estudantes, cabendo aos docentes inovar as suas estratégias pedagógicas. Por exemplo, podem usar a aprendizagem invertida para assegurar que as partes mais importantes do trabalho são realizadas em sala de aula. E, assim, focar-se em apresentações orais e multimédia em sala de aula, tendo a oportunidade de dar feedback mais amiúde.

Além disso, o ChatGPT permitirá a aprendizagem através da experimentação. Os estudantes podem testar diferentes estratégias e abordagens à resolução de problemas. Mais, uma das principais vantagens da utilização de inteligência artificial no ensino, e que apresenta resultados promissores, é a criação de sistemas de tutoria inteligentes, que personalizam o ensino em função das características individuais de cada estudante, o que resulta numa aprendizagem adaptativa.

Por seu turno, também para os docentes a utilização de uma versão melhorada do ChatGPT pode reduzir a carga de trabalho, aumentar a perceção acerca do progresso dos alunos e facilitar a inovação em sala de aula. Ou ser usado para facilitar a colaboração e o trabalho em equipa, a abordagem centrada no estudante e a criação e trabalho sobre cenários.

É, pois, imperativo que as instituições de ensino e professores transformem os desafios em oportunidades. Como qualquer outra inovação tecnológica que entre na sala de aula, pretende-se que as práticas pedagógicas de ensino-aprendizagem, incluindo as de avaliação, se adaptem aos novos desafios à medida que estes surgem.

Na história da educação e do ensino, várias inovações tecnológicas têm sido vistas como o fim da educação tradicional como a conhecemos. O cinema, a rádio, a televisão, os computadores, a internet, as tecnologias móveis, as redes sociais e a realidade aumentada, foram anunciados como revoluções para a aprendizagem e ensino.

A verdade é que ambiente de aprendizagem tradicional permanece, no essencial, inalterado. Mais do que uma ameaça, o ChatGPT representa uma enorme oportunidade para a inovação no ensino e da aprendizagem e para uma verdadeira transformação na educação.

  • Tânia Carraquico
  • Vice-Presidente do ISEC Lisboa (Instituto Superior de Educação e Ciências de Lisboa)

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