Chinês ou americano?

Não quero que as infraestruturas portuguesas que possam suportar a condução autónoma ou a telemedicina sejam controladas pela China. Mas também não quero que sejam controladas pelos Estados Unidos.

Existe em Portugal há três décadas, nunca foi votada no parlamento, nunca foi referendada pelos portugueses e pode paralisar o país em segundos. É a internet.

Permitiu-nos ler, ouvir e ver o que não estava ao nosso alcance e depois comunicar em direto com quem estava distante. Democratizou o acesso à informação, reduziu desigualdades e deu-nos a base para nos surpreendermos a nós e aos outros com novos serviços, novos produtos e novos empregos.

O aviso de que “se tudo está interligado, tudo pode ser corrompido” tem tanto de antigo como de atual. São crescentes os ataques à privacidade e à segurança de pessoas, mas também de empresas, e até de países inteiros como foi o caso da Estónia em 2007. E se o novo normal de 2020 tem muito de tecnológico, uma das suas maiores marcas é a evidência de que estar em negação é estar vulnerável.

O poder tem dimensão política, económica, militar, religiosa, e nos últimos anos ganhou também uma dimensão digital que pode multiplicar todas as outras e de que é prova a guerra comercial a que temos assistido entre a China e os Estados Unidos. Nós, por cá (pela Europa), vamos assistindo sem qualquer outra influência que não seja a de escolher de quem vamos ser clientes, como temos feito relativamente ao 5G.

Não tenhamos dúvidas. Não quero que exista qualquer hipótese de que as infraestruturas portuguesas que possam suportar a condução autónoma ou a telemedicina sejam controladas pela China. Mas também não quero que sejam controladas pelos Estados Unidos ou por outro país qualquer. A solução para isso está no fornecedor de equipamentos que escolhemos? Não.

A solução estava em ganhar esta corrida tecnológica que a UE perdeu. Assim não fosse, não tínhamos inclusivamente os fornecedores europeus a utilizar componentes chineses nos seus equipamentos. Naturalmente, teremos de recorrer a quem está à nossa frente, que é o mesmo que dizer que a nossa segurança depende de como nos podemos proteger internamente: investindo em segurança de redes, garantindo um mix adequado de fornecedores que evite monopólios e criando capacidade técnica na área da ciberdefesa e cibersegurança.

Os que não estão em negação sabem que a sociedade e a economia não desligam, nem estão off, e sabem também que ficar parado não é só ficar para trás: é ficar refém do que existe, é ser cliente, ou é até tornarmo-nos nós mesmos um produto comercial. Chinês ou americano? É discussão que valerá então de pouco se não nos preocuparmos mesmo em descobrir como poderá ser europeu.

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