Coisas da Direita

Para os portugueses e para Portugal, para a Direita voltar a ser importante e relevante, a Direita não tem de representar uma visão resignada do passado.

A Direita não está na moda. Mas a Direita nunca foi de modas. A Direita é um clássico que está para além das modas. No entanto, a Direita não é a única produtora de cannabis política, o que significa que tem de perceber em que Mundo vive e reconhecer que para continuar um clássico tem de avaliar, compreender e influenciar o sentir e o sentido da Sociedade. Os tiques e os toques de Direita são apenas presunção e um disfarce para a menoridade política.

O Movimento Europa e Liberdade é um balão atmosférico que pretende salvar a Direita de si própria. O nome até podia ser Movimento Oriente e Opressão que o resultado em termos da prática política seria exactamente o mesmo – um múltiplo de zero. Claro que há sempre as opiniões de que o diálogo é melhor do que o silêncio, numa aplicação distorcida da ideia da política como uma conversação entre posições divergentes e responsáveis. Conversação não significa discursos de tabacaria, divagações na corrida de um táxi, declarações de esplanada à porta de um bar. E muito menos a manifestação de um tribalismo e de um sectarismo que fazem parte da cultura política da Esquerda.

Quanto ao designado “Congresso das Direitas”, tudo converge em monólogos políticos copiados à pressa, numa espécie de concurso de talentos para se encontrar o próximo salvador da Direita para glória da Nação. Só que a Nação tem passado bem sem este spray de Direitas. Notáveis, eternas esperanças, jovens esperanças, ilustres académicos, todos ocuparam o palco com discursos de catequese, opiniões de quem usa a indignação na manga, declarações eminentes sobre o destino da Direita. Mas o que transparece de tantas palavras não é a preocupação da reflexão política, o conhecimento da sociedade portuguesa, um elenco de políticas públicas, uma ideia para Portugal, o que se torna visível até à alma é o desespero de quem está fora do Governo e se entende como o legítimo proprietário do Poder Político. Só que não consegue ganhar eleições.

No entanto, não há inconformismo, revolta, disponibilidade para reconstruir o trajecto ideológico que leva ao deserto político, imaginação para pensar um outro paradigma político para a Nova Direita que se aplique à condição do Portugal Contemporâneo. Não. É só lamentações, lamentações, vitimização em palavras alternadas, sem qualquer vestígio ou espaço para as inquietações, inquietações. A Direita é vítima de uma conspiração à Esquerda. E vítima para a eternidade recusa pensar o regresso à Política, com Políticas que falem aos portugueses sobre o futuro de Portugal nos horizontes da Direita. É a lógica imediatista do agora, é a incapacidade para perceber os ciclos políticos, é o desejo de passar para o primeiro lugar da fila por intervenção supra-humana. Enfim, é o Congresso da Direita dos Atalhos. A Convenção foi um regresso ao passado que é sempre um País distante.

Para os portugueses e para Portugal, para a Direita voltar a ser importante e relevante, a Direita não tem de representar uma visão resignada do passado, pois deve ter a arte e o engenho políticos de apreender as tendências e as disposições da Sociedade para construir um projecto político para o Portugal do futuro. O futuro não é um monopólio da Esquerda.

Livre de preconceitos, a Direita precisa de se apropriar de um novo radicalismo político que recupera o sentido original da ousadia política – a Direita tem de estar preparada para pensar e para propor soluções originais, inesperadas, surpreendentes, para os novos problemas políticos, económicos e sociais que o País enfrenta e irá enfrentar no horizonte de dez anos, não de dois dias. O radicalismo não é aqui valorizado como um fim em si mesmo, sendo antes mitigado pela consciência dos limites e pelo horizonte de possibilidades associado à lógica de uma mudança controlada e distante do aventureirismo político da ruptura. Relembre-se a propósito o clássico slogan – demasiado realista para não ser de Direita; demasiado rebelde para não ser de Direita.

A Direita mira-se demasiado no espelho que a Esquerda lhe oferece e não percebe que o espelho pertence ao circo do fim do Mundo. O espelho côncavo só devolve imagens distorcidas que nada têm a ver com a realidade, pois a única realidade é a representação da fantasia deturpada e diabólica que a Esquerda tem da Direita. Universos paralelos separados por tempos históricos distintos. Nada a fazer.

A postura contemplativa da Convenção é um exercício diletante de quietismo político em direcção ao abismo da irrelevância. Todos os Partidos, Grupos e Grupúsculos, falam em nome próprio como se estivessem a falar em nome dos portugueses. Com uma excepção idiótica. O PSD apresenta-se como um “partido do centro” que nada tem a ver com a refundação da Direita. O PSD é o corpo político da Direita em Portugal, desde os tempos em que os portugueses tinham apenas direito à Direita que a Esquerda permitia. Sem o PSD não existe uma solução política superlativa, sofisticada, séria, para o País. Historicamente, para efeitos de Governo, o PSD é a Casa Comum das Direitas. As palavras do Líder do PSD pareciam o discurso de um funeral no adro da Igreja. O som dos sinos ainda ecoa no labirinto das Direitas.

Nota: O autor escreve ao abrigo do antigo acordo ortográfico.

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