
Como sobreviver a Trump sem perder a cabeça e a carteira
Os mercados estão em queda livre, mas vender no pânico é a receita para o desastre. Mantenha a calma, ignore o ruído, foque-se no longo prazo e transforme o caos em oportunidade.
A queda abrupta dos mercados nos últimos dias deixou muitos investidores a olhar para os seus portefólios como quem olha para um acidente de automóvel em câmara lenta: horrorizados, mas incapazes de desviar o olhar. Não é para menos. Quando Trump anunciou a subida das tarifas na quarta-feira para níveis superiores aos infames Smoot-Hawley de 1930 (que ajudaram a aprofundar a Grande Depressão), os investidores entraram em modo de pânico.
O índice norte-americano S&P 500 despenhou-se 10,5% nas duas últimas sessões após o anúncio das tarifas do presidente dos EUA, o tecnológico Nasdaq registou na sexta-feira a pior sessão diária desde março de 2020 e os índices europeus seguiram o mesmo caminho. Foi uma autêntica sangria nos mercados. E quando o mercado cai a pique, a primeira reação da generalidade dos investidores é vender tudo rapidamente e correr para os braços seguros dos Certificados de Aforro… ou até mesmo a colocar as poupanças debaixo do colchão. Mas, como diriam os nossos sábios antepassados, “decisões tomadas com o coração quente dão para o torto.”
A política comercial protecionista de Trump não é apenas uma mudança das regras, mas uma autêntica reviravolta no sistema económico global a que alguns economistas apelidaram de “a maior subida de impostos dos tempos modernos”. Tratou-se de um aumento colossal das tarifas sobre produtos importados, tendo como ponto de partida uma tarifa base de 10% sobre todas as importações para os EUA e como ex-libris um conjunto de tarifas punitivas ainda mais elevadas para os chamados “piores infratores” como a China (54%, incluindo tarifas já anunciadas), Japão (24%), União Europeia (20%) e até a Suíça (31%).
Também não ajuda que os mercados já estejam a prever uma recessão. A tão temida inversão da curva de rendimentos — em que os juros das obrigações a 10 anos caem abaixo dos juros das obrigações com maturidades mais curtas — voltou a fazer soar os alarmes.
Para complicar ainda mais o ramalhete, alguns economistas estimam que as novas tarifas possam empurrar a inflação nos EUA para perto dos 5%, colocando a Reserva Federal norte-americana (Fed) numa posição extremamente desconfortável de cortar os juros para estimular uma economia em desaceleração ou mantê-los elevados para combater a inflação. Mas será que este cenário quase apocalíptico é motivo para pânico? Não exatamente.
O lendário investidor Warren Buffett descreve os mercados como uma máquina desenhada para transferir dinheiro dos investidores impacientes para os pacientes. E este é um dos momentos em que a paciência pode ser recompensada.
Os próximos meses vão ser atribulados, mas as tempestades acabam sempre por passar. E quando esta passar, quem manteve a cabeça fria e aproveitou as oportunidades, estará em muito melhor posição do que aqueles que se deixaram dominar pelo medo.
A história ensina-nos que quedas significativas nos mercados são frequentemente seguidas por recuperações robustas. Por exemplo, quem investiu no S&P 500 durante o crash da pandemia em março de 2020 viu retornos impressionantes em poucos meses. Além disso, as quedas criam oportunidades únicas para adquirir ações de qualidade a preços de saldos. Buffett compara esta abordagem ao ato de comprar “meias ou ações em saldos”. O segredo está em focar-se nos fundamentais das empresas e ignorar as oscilações diárias.
Foi isso que o Oráculo de Omaha fez em 1988 após o mercado cair mais de 25%, ao investir mil milhões de dólares na Coca-Cola, numa abordagem contrária à tendência do mercado que acabou por revelar-se num dos investimentos mais rentáveis da história da Berkshire Hathaway, num exemplo claro da sua filosofia de “comprar empresas maravilhosas a preços justos”. E foi com o mesmo princípio que voltou a encarar o período da crise financeira de 2008 ao investir mais de 25 mil milhões de dólares em seis grandes empresas que estavam a atravessar sérios problemas (Mars, Goldman Sachs, Bank of America, General Electric, Dow Chemical e Swiss Re) que lhe renderam mais de 10 mil milhões de dólares nos primeiros cinco anos.
O lendário investidor está atualmente sentado numa autêntica montanha de dinheiro de cerca de 305 mil milhões de euros, quase o triplo do montante que tinha há dois anos. Parece que adivinhava o que estava para chegar. O que significa que em breve deverá começar a fazer jus ao seu lema que é “ter medo quando os outros são gananciosos e ser ganancioso quando os outros têm medo”.
Numa nota enviada recentemente aos seus clientes, o UBS apresenta um cenário base (com 50% de probabilidade) em que as tarifas acabarão por ser reduzidas dos níveis anunciados inicialmente. No entanto, este processo levará tempo, e, segundo os analistas do banco suíço, será expectável assistir-se a uma desaceleração do crescimento no segundo e terceiro trimestres.
Para enfrentar este cenário, o banco suíço sugere os investidores a aproveitarem os momentos de queda do mercado para aumentarem a exposição a tendências de crescimento de longo prazo, tanto na Europa quanto na China. Afinal, quanto mais investidores vendem em pânico, melhores são os preços para quem tem sangue-frio.
Se há algo que os mercados financeiros adoram, é uma boa dose de drama. E, com a política comercial agressiva da Administração Trump marcada pelo aumento cego das tarifas sobre as importações para níveis históricos, o palco está montado para uma peça digna de Shakespeare.
A volatilidade faz parte do investimento em ações. Sempre fez e sempre o fará. É o preço a pagar pelo potencial de retornos superiores no longo prazo. As quedas de mercado, por mais assustadoras que sejam, criam oportunidades para aqueles que não estão presos por dívidas e têm uma visão de longo prazo.
Investir não é um sprint de 100 metros, mas uma maratona. E enquanto os mercados caem e os profetas da desgraça apregoam o fim do mundo, é importante não esquecer que o tempo é o maior aliado dos investidores.
Os próximos meses vão ser atribulados, mas as tempestades acabam sempre por passar. E quando esta passar, quem manteve a cabeça fria e aproveitou as oportunidades estará em muito melhor posição do que aqueles que se deixaram dominar pelo medo. Ou, se preferir uma versão mais curta e direta: mantenha a calma e continue a investir. É tão simples quanto isso.
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
Como sobreviver a Trump sem perder a cabeça e a carteira
{{ noCommentsLabel }}