Costa, Marcelo e a Europa

O destino de Costa está escrito na areia da praia. Vem uma maré e escreve uma coisa. Vem outra e escreve outra coisa. Na especulação, logo vem o Presidente da República para o interpretar.

Ora vai para a Europa. Ora não vai para a Europa. O destino de Costa está escrito na areia da praia junto ao mar. Vem uma maré e escreve uma coisa. Vem outra maré e escreve outra coisa. O Chefe do Executivo diz o que a Central de Informação e os homens do marketing recomendam. O destino europeu é a prova real do valor da palavra do Primeiro-Ministro de um país parado. O “país do pântano” e das águas estagnadas. O país em que só existe má administração e que tem por hábito designar-se por boa política. A política das “contas certas” de um Governo de Esquerda que governa com a mão direita e enche o discurso com uma falsa consciência social. “Somos Socialistas, logo partilhamos”. Cada português percebe o que o Governo partilha.

Começa o Executivo por partilhar a ficção de um País que não existe. Um Governo que vive sem sentir com as mãos a realidade do País. Um Governo que ignora a dez metros o que se ouve e o que se diz. Agora partilha o Governo a decisão de “aumentar os salários” em pleno mês de Julho. Vergonha e mistificação. O Executivo tem um episódio de decência e resolve rever a tabela de retenção na fonte do IRS. Os portugueses vão deixar de adiantar tanto imposto antecipado ao Governo. Os portugueses vão pagar menos por mês para poder viver e trabalhar em Portugal. Pagam mais ao banco pelo empréstimo da casa e pagam menos ao Governo pelo empréstimo do País. Designar esta operação contabilística como “aumento do rendimento disponível” é uma pequena verdade dentro de uma grande mentira. No final do ano as contas são acertadas, os impostos não baixam e os salários não aumentam. É a vida de um Governo em “esquema de pirâmide”.

Aqui entra a crueldade do Banco Central Europeu na sua cadência infinita de aumento de juros. A inflacção parece não ser sensível aos ataques do BCE e persiste nas ruas e mercados de Portugal e da Europa. O Primeiro-Ministro não tem qualquer responsabilidade, pois o odioso repousa na hidra das sete cabeças de Christine Lagarde. A mesma Lagarde dos anos da Troika, os anos que o Primeiro-Ministro “reverteu” com a sua acção política numa fraterna frente de Esquerda. Talvez a ida do Chefe do Executivo para a Europa tenha como efeito virtuoso o alívio nacional e a mudança de política do BCE. Também deve ser sublinhado o aumento da influência de Portugal junto dos grandes centros de decisão de Bruxelas. Pelos talentos do Primeiro-Ministro até se pode imaginar uma versão “geringonça” nas instituições da Europa, a solução genial para as fracturas políticas e históricas que ressurgem no Velho Continente. Talvez a começar na Polónia e na Hungria com algumas incursões no novo centro da Europa Continental – a Ucrânia.

Mas quando a especulação cresce de tom e inunda o quotidiano político cheio de nada, logo vem o Presidente da República para interpretar os gestos e as palavras do Primeiro-Ministro relativamente às ambições europeias. O Presidente da República continua a ser a “fada do futuro” de um país falhado. O Presidente da República é o histórico “Escuteiro” de Portugal. O inquilino de Belém garante aos portugueses que o Primeiro-Ministro fica à frente dos destinos da Nação, embora se desconheça qual o destino da Nação. Se o Primeiro-Ministro “fugir”, o Presidente dissolve o Parlamento. E se o Presidente dissolver o Parlamento o Primeiro-Ministro recandidata-se ao cargo nas eleições antecipadas. São altos jogos políticos que espelham a desolação de um País infantil. Ninguém está a dizer a verdade e ninguém está a mentir, porque em Portugal a verdade e a mentira são questões relativas à circunstância política, independente da verdade dos factos. No tempo certo, os factos impõem uma lógica metálica imune às declarações de amor à Pátria.

Enquanto a política está transformada numa “novela pornográfica” sem cenas de sexo, enquanto a política se apresenta como um “western spaghetti” com as palavras desfasadas dos movimentos dos lábios, o País funciona numa roda livre sem ritmo e sem lógica numa impossível quadratura do círculo. O País real não são as visitas frenéticas do Presidente da República nem o “Governo de Proximidade” do Executivo. O Portugal dos portugueses habita uma região periférica à política e na qual se vê e se sente um deslaçar da fábrica social do País – as grandes cidades transformadas em parques de diversão para turistas onde os portugueses ocupam os “zoos humanos” para benefício dos clientes; os jovens quadros transformados em novos emigrantes por falta de salários condignos e dignidade profissional; os cidadãos seniores são deportados para a clandestinidade das casas informais como estabelecimentos de alterne para o outro Mundo; os empresários de sucesso que não conhecem o histórico das experiências transformadoras do século e encontram no “digital” as Utopias da modernidade. O optimismo saloio e militante não apaga a consciência do atraso de um País que se reconhece atrasado.

Em 1900 um grupo de intelectuais russos viaja para Paris. Em 1900 um grupo de intelectuais franceses viaja para Moscovo. Encontram-se em Varsóvia e uns julgam-se em Paris e outros julgam-se em Moscovo. Assim está Portugal – o iluminismo de Paris e o exotismo de Moscovo. O País dos equívocos na geografia da Europa.

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