Depois do milagre do défice em 2016, vem o do crescimento em 2017?

Depois do bom final de ano e da continuação da recuperação dos indicadores de confiança já em 2017 tem-se assistido a várias revisões em alta das estimativas de crescimento.

Será que este bom momento está para durar e depois do “milagre” do défice teremos este ano o milagre do crescimento?

Como correu o primeiro trimestre?

Os indicadores de sentimento económico e de confiança ( dos consumidores e das famílias) continuam a melhorar e a apontar para uma aceleração no primeiro trimestre. E para além disso, com a exceção do indicador de confiança da industria, os restantes sectores voltaram a melhorar em Março, ou seja, o trimestre termina com um momentum claramente positivo, principalmente a confiança dos consumidores que depois dos aumento de salários e pensões e do anúncio de redução de IRS registou o valor mais alto desde 2000.

Quanto aos indicadores de atividade, a maioria disponíveis só até fevereiro, registaram alguma desaceleração no ultimo mês. Isto é válido tanto no caso da produção industrial, como das vendas a retalho e de automóveis (neste caso já em Março). Ainda assim, estes registam neste trimestre taxas médias superiores às do ultimo trimestre de 2016. Desta forma, ainda que os dados de atividade terminem mais fracos do que começaram, apontam para uma expansão face ao final de 2016.

Em suma, tendo em conta os dois tipos de indicadores, tudo leva a crer que o crescimento do PIB tenha neste trimestre acelerado ligeiramente em termos homólogos, para 2.1% e desacelerado para 0.4% em cadeia.

E como vai correr até ao final do ano?

O efeito puramente aritmético deste forte início de ano e final de 2016 faz com que o cenário base do apresentado no OE peque por pessimismo. Se o PIB não crescer em nenhum dos trimestres do ano, mesmo assim, a expansão anual será de 1%. Se o cenário de crescimento trimestral estimado pela comissão europeia para 2017 se materializar, o PIB deverá expandir 1.7%. Caso o PIB cresça os 0.4% e mantenha nos restantes trimestres o mesmo cenário da Comissão Europeia, então a expansão será de 2%.

Assim sendo, e sem grandes choques expectáveis este ano, é de facto possível que economia portuguesa cresça 2%, ligeiramente acima das mais recentes estimativas do Banco de Portugal e do Conselho de Finanças Publicas, que provavelmente assumem alguma desaceleração ou pay-back depois do forte inicio do ano.

No entanto, ao contrário do ano passado em que a atividade foi acelerando ao longo do ano – ainda se recordam da surpresa que foi a primeira metade do ano e a queda do investimento? – este ano deverá ser o inverso.

A primeira metade deverá ser melhor do que a segunda, já que grande parte dos estímulos que levaram a um forte final de 2016 e inicio de 2017 – aumentos de salários e pensões ficarão para trás. E a isto ainda acresce o impacto de um BCE menos amigo e com uma política menos expansionista. As condições de financiamento ainda se mantêm expansionistas, mas deverão sê-lo menos mais para o final do ano…

Claro que este cenário tem muitos “ses” e riscos

Pela negativa:

  1. A confiança pode cair novamente caso surjam incertezas políticas ou orçamentais. Ou seja, se a geringonça tremer ou se Mário Centeno tiver de apresentar um novo plano B suportado por consumidores ou empresas.
  2. Menor procura externa caso a recuperação europeia perca algum fulgor – algo que parece improvável para já, mas que deverá ir acontecendo ao longo do ano, à medida que a inflação continua a acelerar (basta ver os últimos dados do consumo alemão).
  3. Uma retirada dos estímulos por parte do BCE mais rápido do que o esperado – tal levaria a que os não só os investidores tivessem maiores dúvidas quanto a investir em dívida portuguesa e levaria as yields para perto da linha vermelha (5% ou 5.5%), mas também a menor investimento.
  4. Ainda (e para sempre?) o sistema financeiro. Apesar dos recentes passos dados, ainda subsistem dúvidas suficientes, a começar pelo Novo Banco e pelos custos para o Fundo de Resolução.

E pela positiva:

  1. Mário Centeno e António Costa poderão ter encontrado a formula mágica. Caso o governo convença as famílias e empresas de que a os impostos irão baixar, a confiança dos consumidores pode continuar a subir, ao mesmo tempo que as empresas não desconfiam e aumentam o investimento.
  2. A recuperação europeia continua, sem aumento da inflação, e as nossas exportações voltam a acelerar, ainda que perdendo quota de mercado, ao mesmo tempo que o BCE mantém os estímulos por mais tempo.

Concluindo

Provavelmente, o PIB crescerá perto de 2% este ano – não é (ainda) um milagre, mas ainda assim bastante acima do (fraco) potencial da nossa economia e dos 1.5% inscritos no Orçamento de Estado. Até poderá crescer mais, mas só se a Europa der uma ajuda ou o se o governo continuar a distribuir presentes…

Para crescer acima de 2%, a prazo será preciso um verdadeiro milagre. Tentarei explicá-lo em artigos futuros!

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