É essencial os grupos familiares terem profissionais independentes

A maior parte dos grandes e médios grupos familiares estão fechados sobre si próprios, sobre o seu corpo executivo e sobre os seus acionistas, com sérias e até perigosas implicações para o futuro.

A integração de personalidades independentes, sem ligação a gestores executivos ou acionistas, num Conselho de Administração (CA) é prática comum em empresas cotadas. Estes Administradores independentes (ou NEDs, Non Executive Directors) têm a missão de fortalecer a gestão do Grupo usando as suas capacidades que lhes são distintivas e assumem as responsabilidades fiduciárias associadas ao estatuto de membro do CA.

Um NED aporta benefícios enormes – desafia a gestão executiva, integra comissões do CA, traz opiniões ou sugestões próprias ou desenvolve diligências externas em nome do Grupo A esta riqueza de contribuições junta-se a associação do prestígio do seu nome ao Grupo, mais do que mais do que justificando uma remuneração que é quase simbólica. Na seleção de NEDs pesa a reputação, a carreira, a rede de conhecimentos, o alinhamento com a cultura do Grupo, a confiança pessoal dos acionistas e o entusiasmo com o lugar que vão ocupar. Executivos oriundos do meio empresarial, bancos de investimento ou consultoras prestigiadas tendem a preencher melhor os requisitos do que personalidades do meio académico, face à importância da experiência empresarial para o sucesso do papel de um NED.

Já nos Grupos Familiares não cotados, o grau de incorporação de profissionais seniores independentes como Administradores é muito diferente. Excluindo o Grupo NORS ou recentemente o Grupo José de Mello, não se conhecem neste universo outros Grupos com NEDs. Entramos numa dimensão bem mais fechada, menos profissional e com clara perda de valor, não só pelos benefícios de base do NED, mas pelo valioso papel de arbitragem que este profissional pode prestar em assuntos do foro acionista.

Mas o que justifica esta enorme contradição de todos os grandes e médios Grupos Familiares portugueses? A experiência da ARBORIS evidencia uma enorme a versão a abdicar do conforto da informalidade típica destes Grupos e do qual os acionistas não estão dispostos a abdicar.

No entanto, esses Grupos têm uma ótima alternativa compatível com os interesses: em vez do NED, optar por um Senior Advisor (SA), figura mais flexível que pode ter a mesma largura de âmbito de um NED ou, no outro extremo, focar-se apenas numa área muito específica do Grupo – no coaching do Presidente, na pesquisa de oportunidades de M&A ou no fortalecimento do I&D por exemplo.

Muito comum no UK, em França ou Espanha, a figura do SA ainda é rara em Portugal, mas começa a ganhar terreno: The Fladgate Partnership possui SAs de âmbito alargado tipo NED, enquanto a Tecnimede ou o Grupo Monteiro Ribas integram SAs especializados em domínios distintos. O próprio Grupo Mota Engil usa SAs para além do corpo de NEDS que integra o CA: o Dr. Paulo Portas foi SA antes de ser hoje NED.

Com a exiguidade dos exemplos apresentados se vê que a incorporação de profissionais séniores independentes em Grupos Familiares portugueses é de facto raríssima, não chega a uma dezena dos 200 maiores Grupos Familiares. Consequentemente, a maior parte dos grandes e médios Grupos Familiares estão fechados sobre si próprios, sobre o seu corpo executivo e sobre os seus acionistas, com sérias e até perigosas implicações para a preservação do Grupo a prazo…

  • Falta de desafio sobre as propostas da equipa executiva, aumentando o risco de más decisões.
  • Perda de oportunidade de acesso a expertise em áreas determinantes, ideias e sugestões de valor para o Grupo e de abertura de oportunidades de parceria e M&A.
  • Tendência para excessivo poder do líder na dinâmica do Grupo.
  • Perda de oportunidades de estender a rede de relações em círculos institucionais, setoriais ou novas geografias de comercialização.

Como é óbvio, nenhum destes obstáculos é difícil de ultrapassar se houver vontade – mas o verdadeiro problema está na atitude do líder e dos acionistas, cuja cultura de secretismo, de medo de partilhar “segredos” ou às vezes até vergonha de mostrar o estado da casa, acaba por tornar a gestão do Grupo fechada, atrofiada, menos profissional e cada vez mais dominada pelo líder do corpo acionista. Esta situação está longe de ser sustentável, mas é hoje a triste realidade da maioria dos grandes e médios Grupos Familiares em Portugal.

Em conclusão, a presença de profissionais seniores independentes em Grupos Familiares é determinante. Na ARBORIS não conhecemos nenhum Grupo que tenha dado esse passo e não se sinta muito satisfeito com o resultado. Uma vez definidos os requisitos, o papel e o estatuto (NED ou SA) para o profissional independente, a sua seleção deve assegurar um perfil alinhado com a cultura do Grupo, sólida experiência nas funções a assumir e sensibilidade para a dinâmica do foro acionista. Portugal possui dezenas de profissionais seniores muito bem preparados para ocupar um lugar de NED ou SA e que estão disponíveis e entusiasmados para dar o seu contributo no crescimento e valorização de Grupos Familiares abertos, corajosos, ambiciosos e sem medo de “sair da sua velha casca”

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