Foi assim há 100 Anos: Depois da crise, welfare, progress and happiness

As crises trazem sofrimento e desespero. Mas, historicamente, as fases que se lhe sucedem têm proporcionado novos modelos de trabalho, progresso e felicidade.

Depois da I Guerra Mundial e da centenária crise pandémica da gripe espanhola, os anos 20 do Século XX trouxeram uma nova fase de prosperidade e de bem-estar e duas novas tendências empresariais: a mecanização e a aprovação de programas sociais.

A mecanização e a automação trouxeram a produção em massa, o desenvolvimento de linhas de produção e a melhoria da qualidade de vida de milhões de cidadãos. O pós-I Guerra Mundial e o final da pandemia foram marcados, nos países mais desenvolvidos, por um tremendo boom económico, sustentado no aumento exponencial da produção industrial. Nos Estados Unidos da América, por exemplo, entre 1924 e 1929, a produção de automóveis, de produtos químicos, de aço e de energia cresceu cerca de 50%. Os lucros empresariais permitiram mais fusões e aquisições, suportadas pela banca, que também cresceu de forma significativa. Surgem as grandes empresas, como a a U.S. Steel, a Anaconda Cooper, a General Motors, a Colorado Fuel & Iron, ou a Westinghouse Electric. Estas grandes empresas, por sua vez, passaram a preocupar-se com o bem-estar dos seus trabalhadores. Foi a génese da responsabilidade social.

Depois da consagração da jornada de 8 horas de trabalho, as grandes empresas viraram-se para novos welfare programs, assentes na melhoria das condições de trabalho. É nesta fase que surgem os primeiros investimentos em segurança e saúde no trabalho, incluindo a ventilação e iluminação dos locais de trabalho; os primeiros programas de formação profissional; assistência médica prestada aos trabalhadores e seus familiares; programas de financiamento e de stock options; bem como seguros de acidentes de trabalho e, nalguns casos, programas de reforma. Na ausência do Estado Social, as empresas investiram no bem-estar dos seus trabalhadores, criando programas sociais capazes de proporcionar uma trilogia dourada – “welfare, progress and happiness”. Os salários aumentaram e muitas empresas criaram “joint labor-management committees” centrados na criação de paz social, onde se discutiam programas de bem-estar e políticas de boas condições de trabalho. Estas comissões, que juntavam representantes das equipas de gestão e trabalhadores, permitiram também diminuir a litigiosidade laboral, prevenindo queixas e despedimentos.

Cerca de 100 anos volvidos, voltamos a viver uma grave crise pandémica, que traz igualmente uma crise económica e social. Todavia, tal como sucedeu há 100 anos atrás, podemos ser otimistas e admitir que, depois da tempestade, pode vir a bonança.

Foi com esse intuito que os Estados Unidos aprovaram o seu Plano de Recuperação Económica – “American Rescue Plan”- que tem em vista a recuperação económica pós-pandemia. De resto,no que diz respeito ao mercado de trabalho, o Plano parece já estar a dar resultados: no último mês, a economia americana criou mais empregos do que era expectável, em linha com o aumento da vacinação e com a injeção de dinheiro na economia, em particular no setor dos serviços e da restauração. A recuperação do mercado de trabalho parece estar no caminho certo.

E foi com esse objetivo, também, que a Europa aprovou a sua famosa “Bazuca”, que infelizmente ainda não disparou como devia. Tal como na vacinação, também a nível da recuperação económica a Europa volta a marcar passo face aos Estados Unidos, o que não significa, contudo, que não venha a ser bem sucedida.

Seja como for, uma coisa parece certa: assim como há 100 anos, a recuperação económica trará novos desafios e novas oportunidades, em especial no mercado de trabalho.

Se os anos 20 do Século XX trouxeram a mecanização e os primeiros programas sociais de índole empresarial, os anos 20 do Século XXI podem trazer a digitalização, uma nova geração de convenções coletivas, uma nova regulação do trabalho prestado nas plataformas digitais, a generalização do trabalho remoto em moldes híbridos, uma nova vaga de nomadismo digital, um novo sistema previdencial que abranja os trabalhadores independentes, bem como a a introdução da inteligência artifical nas novas formas de trabalho.

As crises trazem sofrimento e desespero. Mas, historicamente, as fases que se lhe sucedem têm proporcionado novos modelos de trabalho, progresso e felicidade.

Trabalhemos para que assim seja, sob a agenda do trabalho digno.

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