Gestão do Risco Regulatório no Setor Segurador: Um Pilar da Sustentabilidade

  • Patrícia Azevedo Lopes
  • 12:00

Patrícia Azevedo Lopes constata a complexidade crescente da regulação e motiva as empresas de seguros a enfrentarem a legislação e o cumprimento de uma forma absolutamente organizada.

O setor segurador opera num ambiente altamente regulado, onde a evolução contínua das exigências legais e regulamentares representa um dos principais desafios para as empresas de seguros. A gestão eficaz do risco regulatório não é apenas uma obrigação legal, mas um fator crítico para a sustentabilidade e a competitividade do setor.

O risco regulatório refere-se à possibilidade de perdas financeiras, sanções e impactos reputacionais, decorrentes do não cumprimento das normas legais e regulamentares aplicáveis. No setor segurador, este risco pode resultar de alterações legislativas, interpretações ambíguas da regulação ou falhas no cumprimento das obrigações impostas, desde logo as emanadas pela Autoridade de Supervisão de Seguros e de Fundos de Pensões (ASF).

A complexidade regulatória representa um dos principais desafios do setor, uma vez que o quadro normativo é vasto e dinâmico, abrangendo regulações como Solvência II, normas de prevenção de branqueamento de capitais, concorrência e proteção do consumidor. Além disso, a harmonização internacional exige que as empresas de seguros que operam em múltiplas jurisdições cumpram normas distintas e, por vezes, divergentes.

A digitalização e a cibersegurança impõem novas exigências, como a conformidade com o RGPD, a Diretiva NIS2 e o DORA, impondo medidas rigorosas de proteção de dados e resiliência operacional. Paralelamente, a evolução das expectativas dos reguladores tem levado as autoridades de supervisão a focarem-se cada vez mais na transparência, na governação e no risco ESG, obrigando as empresas de seguros a reforçarem os seus processos de compliance.

A gestão proativa do diálogo com reguladores é crucial para manter uma relação de proximidade com as entidades supervisoras, permitindo clarificar requisitos e antecipar mudanças

Para enfrentar estes desafios, é essencial adotar estratégias eficazes. A monitorização contínua permite manter um sistema de vigilância ativa sobre alterações regulatórias para garantir uma resposta atempada. A governação e a cultura de compliance devem ser integradas na cultura organizacional, promovendo formação contínua e boas práticas entre os colaboradores. O uso de tecnologia e automação é uma ferramenta essencial, facilitando o reporting regulatório e a gestão de riscos através de soluções “RegTech”. Além disso, o reforço da função de compliance e auditoria interna assegura uma revisão independente e eficaz das políticas de conformidade e dos processos internos.

Por fim, a gestão proativa do diálogo com reguladores é crucial para manter uma relação de proximidade com as entidades supervisoras, permitindo clarificar requisitos e antecipar mudanças.

As tendências regulatórias futuras no setor segurador português apontam para uma crescente ênfase na transformação digital e na sustentabilidade. A integração da Inteligência Artificial (IA) está a transformar práticas tradicionais, exigindo uma implementação ética para garantir a confiança dos clientes.

Além disso, a crescente importância dos critérios Ambientais, Sociais e de Governança (ESG) está a influenciar o escrutínio por parte de reguladores e investidores, exigindo que as empresas de seguros integrem práticas sustentáveis nas suas operações.

Estas tendências indicam que as empresas de seguros dever-se-ão adaptar rapidamente a um ambiente regulatório em constante evolução, focando-se na inovação tecnológica e na responsabilidade social para manterem a competitividade e a conformidade legal.

A gestão do risco regulatório é, pois, uma componente essencial para a estabilidade e resiliência das empresas de seguros. Uma abordagem estruturada e proativa não só minimiza o risco de penalizações, mas também fortalece a confiança dos stakeholders, garantindo um posicionamento sustentável num mercado em constante transformação.

Num setor onde a conformidade é a linha entre a resiliência e a vulnerabilidade, as empresas de seguros que encaram a regulação como uma oportunidade estratégica, e não como um custo de conformidade, serão as que prosperarão no futuro.

  • Patrícia Azevedo Lopes
  • Sócia ATLAW

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