Há um futuro para as democracias liberais?

Não falta quem considere que há que compactuar com forças políticas iliberais, alimentando-as ou até intelectualizando-as, na ilusão que estratégias de domesticação serão suficientes para as controlar

Sou dos que viveu com enorme entusiasmo a queda do muro de Berlim, momento que simbolicamente celebra o fim da guerra fria e sinaliza o triunfo contra o comunismo do modelo político das democracias liberais e da economia de mercado como principais âncoras de realização da pessoa e das suas ambições.

A História, como nos escrevia Francis Fukuyama, parecia culminar na liberdade.

25 anos volvidos, o mesmo Fukuyama veio questionar as suas próprias projeções. Não deixando de assinalar que a ideia subjacente ao seu ensaio de 1989 permanecia essencialmente correta, Fukuyama manifestou o seu desalento pelo facto de, em pleno século XXI, os poderes autoritários estarem ainda em movimento em potências mundiais como a Rússia ou China, e muitas democracias – como é o caso da portuguesa – não estarem a corresponder ao que delas se esperaria, escravizadas por máquinas políticas corruptas, em riscos de cair em práticas autoritárias, ou fustigadas por diversas crises financeiras, exibindo crescimentos anémicos e uma grande dificuldade em assegurar a coesão social.

O mundo hoje é bastante distinto daquele que venceu o comunismo no final do século XX, fruto das disrupções provocadas pela revolução digital. E é inegável que a esperança que nos alimentava está a ser substituída pelo pessimismo.

A grande lição que podemos retirar da experiência de Fukuyama é que os inimigos da liberdade estão sempre à espreita, tendo sido um “erro” assinalar a vitória derradeira da democracia liberal. A sua defesa é uma luta permanente, faz-se no pluralismo e na tolerância, mas também na recusa radical das soluções totalitárias, sejam elas maquilhadas com rótulos de esquerda ou de direita. Tal recusa não deixará, porém, de ser inconsequente, se as forças políticas dominantes não forem capazes de inverter o ciclo político deprimente em que vivemos, apresentando soluções políticas que recuperem a esperança e a confiança dos cidadãos.

Se o espaço político da direita está bloqueado, perdido em querelas pessoais e discussões de cartilhas esgotadas, tal deve-se sobretudo à dificuldade em construir respostas que vão ao encontro dos problemas que enfrentamos.

Nesta agonia não falta quem considere que há que compactuar com forças políticas iliberais, alimentando-as ou até intelectualizando-as, na ilusão que estratégias de domesticação serão suficientes para as controlar. A única forma, porém, de defender a democracia liberal e uma economia de mercado ao serviço da realização da pessoa, passa por reabilitar o pensamento político das direitas livres, construindo respostas adequadas aos desafios emergentes da revolução digital e de uma sociedade em profunda transformação.

Urge, também, encontrar novos protagonistas, pessoas mais capazes de liderar uma nova esperança, por contraponto aos que hoje nos querem transportar no seu pessimismo e comodismo. O caminho é exigente, mas não é de hoje: sempre foi difícil defender a liberdade.

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