Macron aos olhos de um publicitário

Nas duas semanas que faltam até à derradeira eleição, o grande desafio de Macron é demonstrar que por trás de tanta imagem, existe também algum conteúdo.

Na semana passada escrevi um texto com um título semelhante, mas sobre Le Pen. De facto, os dois “vencedores” desta primeira volta francesa não são apenas políticos inteligentes, mas são acima de tudo políticos com uma visão aprumada sobre como o marketing político, as novas ferramentas digitais e uma gestão cuidada da imagem pública podem contribuir para um bom resultado eleitoral.

Aliás, a bem da verdade, é preciso referir que também o candidato da extrema-esquerda, Jean-Luc Mélenchon, soube fazer um bom uso de todas estas ferramentas. Neste caso, recorrendo, por exemplo, até a tecnologia holográfica que lhe permitiu estar simultaneamente em vários comícios por todo o país.

Mas centremo-nos em Macron. O candidato francês que não deixa de ser um político de carreira (com 39 anos já foi assessor e Ministro), que tem uma carreira sólida na banca de investimento (Rothschild & Cie Banque diz-lhe alguma coisa?) e que foi inspetor das finanças.

A nível académico tem um percurso tão diverso que consegue conjugar uma licenciatura em Filosofia na mítica Universidade de Nanterre (na piscina da qual foi desencadeado o Maio de 68, pelo seu agora apoiante Daniel Cohn-Bendit), um mestrado em Public Affairs na Sciences Po (sim, a mesma de José Sócrates) e um diploma em gestão na prestiagiada École nationale d’administration.

Macron é um dos melhores produtos de marketing dos últimos anos (sou publicitário, por isso não o digo com nenhuma carga negativa). Conjuga na perfeição uma boa aparência, dons oratórios, juventude, currículo profissional, experiência académica e um apurado sentido estratégico de gestão da sua imagem no espaço mediático.

A forma como criou o seu movimento “En Marche!” são prova disso mesmo. Aliás, “En Marche” não quer dizer absolutamente nada enquanto marca, mas denota algo bastante interessante: “EN” mais não são do que as iniciais do próprio Emmanuel Macron. Esta é a essência do seu movimento, assente num único ponto relevante do posto de vista de comunicação, ou se quisermos em “marketês”: uma marca com um único propósito e que comunica apenas dois benefícios: o carisma e a personalidade de Macron.

Do ponto de vista político, Macron afirma-se como “não sendo de esquerda nem de direita”, ou aquilo que alguns politólogos apelidam de “centro radical” ou até “extremo-centro”. Se gostarmos de Macron podemos dizer que é um pragmático, se não gostarmos dele certamente que também o podemos apelidar de calculista.

Nas duas semanas que faltam até à derradeira eleição, o grande desafio de Macron é demonstrar que por trás de tanta imagem, existe também algum conteúdo. Acima de tudo, Macron terá que demonstrar que tem propostas concretas para os problemas franceses. Não baste dizer ao eleitorado que já não faz sentido falar da dicotomia “Esquerda vs. Direita”. Acima de tudo, será preciso prová-lo.

Como já vimos anteriormente, Le Pen é também uma candidata inteligente, com mais anos de política que Macron e que certamente irá explorar todos estes pontos fracos. Deus queira que Macron saiba estar à altura.

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