Milhões para os administradores do BCP e migalhas para os trabalhadores?

  • Paulo Gonçalves Marcos
  • 11 Maio 2018

Haja sentido de justiça, de equidade e, sobretudo, bom senso, de modo a preservar a paz social e laboral no seio da instituição, uma realidade que apenas será mantida com o devido respeito por todos.

No espaço de poucos dias, surgiram duas notícias na comunicação social sobre as remunerações dos administradores do BCP. A primeira oriunda do relatório de contas, divulgado pela CMVM na segunda quinzena de Abril, que veio confirmar publicamente que a equipa de Nuno Amado auferiu em 2017 uma remuneração total bruta de quase 3,8 milhões de euros, o que representa face aos números de 2016 uma subida de quase 82%.

A segunda notícia, publicada esta semana, dá conta da intenção do conselho de remunerações do BCP de levar à assembleia-geral, que terá lugar no próximo dia 30 de Maio, uma proposta para o pagamento extraordinário de 4,9 milhões de euros para os fundos de pensões dos actuais administradores executivos.

Naturalmente, registo com agrado a preocupação existente com a necessidade de remunerar justamente os administradores do BCP e a sensibilidade demonstrada no sentido de corrigir eventuais discrepâncias e distorções nas remunerações.

Não vou aqui reflectir sobre esta décalage que se verifica entre as remunerações dos administradores e as dos trabalhadores. Nem vou também reflectir sobre o hiato temporal existente entre esta política de imediata remuneração dos administradores e o pagamento de dividendos que apenas começará em 2019, ou no distante ano de 2020. Um e outro são temas que por si só merecem espaço próprio noutros artigos.

Mas não posso deixar de valorizar e registar o optimismo visível nesta política de remunerações e o que dela transparece quanto às perspectivas presentes e futuras. Manifestamente, depois de um período muito difícil, que obrigou, aliás, a instituição a ter de recorrer às famosas obrigações de conversão contingente (CoCos), o BCP parece viver dias de normalidade e de até de abundância. Não por acaso, certamente, a proposta para o pagamento extraordinário de 4,9 milhões de euros para os fundos de pensões dos actuais administradores executivos surge depois de a instituição divulgar que lucrou mais de 85 milhões de euros no primeiro trimestre, uma subida homóloga de 70%.

Ora, perante tanto optimismo, parece-me ser da mais elementar justiça que a bonança inclua também aos trabalhadores. Por isso mesmo, o tema será certamente levantado na próxima assembleia-geral, de modo a incluir também o Fundo Complementar de Pensões dos trabalhadores, na medida em que todos devem beneficiar dos tempos de bonança.

Mais do que os administradores, existem motivos acrescidos para recompensar os trabalhadores. Foram eles quem, em primeira instância e muito antes da actual administração entrar em funções, esteve sempre na linha da frente a dar a cara pela instituição e a defender a imagem e os interesses do BCP. Por isso, não há motivo algum para os administradores terem um tratamento diferenciado e privilegiado face aos restantes trabalhadores.

Haja, portanto, sentido de justiça, de equidade e, sobretudo, bom senso, de modo a preservar a paz social e laboral no seio da instituição, uma realidade que apenas será mantida com o devido respeito por todos os intervenientes.

Nota: O autor escreve segundo a antiga ortografia.

  • Paulo Gonçalves Marcos
  • Presidente da direcção do SNQTB e do Conselho Directivo do SAMS Quadros

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