Editorial

Nova vida para o Novobanco

O fundo que era abutre recuperou o Novobanco, com uma enorme ajuda dos contribuintes, sim. E vendeu-o por um valor impensável ainda há um ano. Sarmento é um dos vencedores do negócio.

Quando, no dia 18 de outubro de 2017, foi assinada formalmente a venda do Novobanco ao fundo americano Lone Star, eram muito poucos os que acreditavam no sucesso e na capacidade de resiliência de um banco e de uma equipa que permitisse a sua viabilização. Pouco menos de oito anos depois, o fundo que era um ‘abutre’ foi afinal capaz de ser o melhor dos acionistas, deu condições à gestão para recuperar um banco partido por uma história trágica e vendeu-o por uns extraordinários 6.4 mil milhões de euros aos franceses do BPCE. Foi a melhor solução para todos.

A venda do Novobanco ao fundo Lone Star sucedeu-se a um período difícil de transição, depois de uma resolução dolorosa do BES, do ponto de vista moral e financeiro, em 2014. Nesses três anos, tentaram-se vendas, que falharam, e a Comissão Europeia era a primeira a desconfiar da viabilidade do banco. E os bancos a operar em Portugal, que poderiam ter comprado o Novobanco nas mesmas condições, também não acreditavam. Desperdiçaram, por razões diferentes, uma oportunidade histórica que hoje, perante estes números, entra pelos olhos dentro mas já se pressentia naquele ano de 2017. Aquele acordo previa que os americanos do Lone Star injetassem mil milhões de euros para ficarem com uma participação de 75% — 750 milhões no closing do negócio e mais 250 milhões — e ainda avançar com uma “reestruturação aprofundada da instituição”, suportada com uma garantia do Estado de 3.9 mil milhões de euros. Os restantes 25% ficaram nas mãos do Fundo de Resolução, que posteriormente acabaram divididos com o próprio Estado.

A venda ao BPCE é a melhor das soluções para o Lone Star e para os seus gestores, que, justamente, vão receber um prémio gordo pela venda, é a melhor para os contribuintes, que recuperam parte do que meteram no Novobanco, mas é também a melhor para o mercado e para a concorrência (leia-se os clientes particulares e sobretudo empresariais) e para a estabilidade financeira do sistema.

Vamos por partes: O valor de venda é absolutamente surpreendente: 6.4 mil milhões de euros, mesmo incluindo dividendos deste ano, estão encostados ao valor superior das avaliações do Novobanco, e é superior em 1.53 ao chamado ‘book value’ do banco no seu balanço. Com esta operação, a mais valia do fundo Lone Star é brutal, mas Joaquim Miranda Sarmento é dos que mais mais sorri. O Estado vai encaixar quase dois mil milhões de euros, entre encaixa da venda e dividendos de 2024, o que significa mais de 50% do valor da garantia pública.

Num mercado com um nível de concentração já elevado, a possibilidade de uma fusão entre o Novobanco e outro dos grandes bancos do sistema, nomeadamente o BPI, seria penalizador para a concorrência, especialmente no segmento empresarial. E também pela concentração de uma posição reforçada de bancos espanhóis (e não é por serem espanhóis, mas por serem do mesmo país). Com a entrada do BPCE a estrutura de mercado vai manter-se, e o facto de serem franceses não é de somenos. O BPCE não está em Portugal, não faz a operação em cima de sinergias ou de reestruturações, e é um investidor, obviamente, de longo prazo.

Passados oito anos, há figuras relevantes em todo este processo que merecem uma citação: Carlos Costa e Sérgio Monteiro, por um lado, e António Ramalho, por outro, foram decisivos no processo de venda e gestão do Novobanco já sob o controlo dos americanos. Joaquim Miranda Sarmento, nesta última fase, jogou uma carta de trunfo arriscada, ao assumir uma oposição ao aumento do peso da banca espanhola em Portugal, mas acaba por sair vencedor com a entrada de um novo banco no mercado português, um novo investidor estrangeiro.

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