Novas recomendações para apoiar a transição industrial na Europa

  • Céu Carvalho
  • 4 Dezembro 2019

A Comissão Europeia e a OCDE trabalharam em conjunto para desenvolver soluções concretas que visam ultrapassar os obstáculos à transição industrial com que as diferentes regiões europeias se deparam.

A globalização dos mercados originou inúmeras oportunidades de crescimento económico e de melhoria da qualidade de vida mas comporta muitos desafios à justa repartição dos seus benefícios.

Neste sentido, a Comissão Europeia e a OCDE uniram esforços com vista à revisão das regras da globalização para que o “comércio livre” se traduza num “comércio justo” por via da transição industrial das empresas europeias e da Europa como um todo.

Esta iniciativa culminou na publicação – no passado mês de Novembro — de um conjunto de instrumentos que objectivam eliminar os obstáculos à transição industrial identificados em 12 regiões de Estados-Membro da União Europeia.

Não obstante Portugal não ter participado neste projecto-piloto, as prioridades subjacentes a esses instrumentos devem ser acauteladas nos planos estratégicos das empresas portuguesas tendo em conta o seu alinhamento com as directrizes antecipadas para a Política de Coesão para 2021-2027 e, em consequência, para os sistemas de incentivos financeiros disponíveis para Portugal no pós-2020.

São cinco as prioridades que as políticas regionais futuras deverão endereçar para prestar uma ajuda efectiva e eficaz às empresas na superação dos obstáculos inerentes ao processo de transição industrial, a saber:

  1. Preparar os postos de trabalho do futuro – Propiciar um diálogo activo entre as empresas e as universidades para que se criem programas de ensino inclusivos e direccionados às necessidades futuras de qualificações, bem como fomentar uma maior coordenação entre as políticas de investimento, de inovação e de mercado de trabalho, com vista a melhorar a capacidade de adaptação das pessoas às tecnologias digitais emergentes.
  2. Alargar e difundir a inovação – Garantir que os ganhos de inovação não se concentrem apenas nas áreas metropolitanas urbanas, mas sim se expandam para todos os territórios, e que as mudanças tecnológicas não sejam do domínio exclusivo de pessoas altamente qualificadas: pretende-se, assim, colmatar as disparidades territoriais na difusão da inovação e ultrapassar a falta de capacidade de inovação por parte das PME.
  3. Promover o espírito empresarial e a participação do sector privado – Endereçar as dificuldades das start-ups de acesso a financiamento, a redes de negócio e recursos humanos qualificados; por outro lado, também deverão ser propícias à reinvenção das empresas “tradicionais” de modo a que estas se adaptem rapidamente às tecnologias digitais emergentes e às novas necessidades do mercado e, mais ainda, potenciar a interligação entre pequenas empresas/empreendedores locais aos recursos e grandes players das áreas urbanas.
  4. Transitar para uma economia com impacto neutro em termos de clima – Apoiar a reorientação das indústrias existentes, de modo a que estas diminuam a sua pegada ecológica sem incorrem em custos de mudança significativos e criar oportunidades de negócio mais favoráveis aos “inovadores verdes” para incentivar esta transição.
  5. Promover o crescimento inclusivo – Garantir equidade na oferta de bens e serviços públicos em todas as regiões nacionais, assim como a criação de condições propícias ao investimento nas regiões que foram “deixadas para trás” nos últimos anos, uma vez que os desafios da globalização sentem-se, em primeira mão, à escala local.

O futuro de Portugal e da Europa passará, assim, pela criação e implementação de instrumentos de apoio que permitam às empresas definir, como fundamento basilar do seu crescimento, estratégias “glocais” – isto é, estratégias direccionadas aos desafios da globalização que se sentem primeiro à escala local – de inovação, de digitalização e de investigação e desenvolvimento, principalmente ao nível das suas áreas de excelência, de modo a tornarem-se numa força competitiva a nível mundial.

Nota: Por opção própria, a autora escreve ao abrigo do anterior acordo ortográfico

  • Céu Carvalho
  • Partner da KPMG

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