O conflito da esquerda com o País

A esquerda portuguesa quer o país do poucochinho, do “o que é que não funciona?” e do “mas crescemos um bocadinho mais no último trimestre”.

Se dúvidas houvesse, uma sondagem do ICS/ISCTE recentemente publicada pelo Jornal Expresso, sobre o perfil de eleitores por partido demonstra que o perfil de eleitor dos maiores partidos de esquerda é tendencialmente mais velho do que o dos correspondentes partidos de direita, com menor formação académica e que maioritariamente vive com dificuldades financeiras. Esta informação vem confirmar aquilo que já se vinha a sentir: A esquerda está hoje em conflito de interesses com o país.

Se ao país interessa ter uma população cada vez mais qualificada e com maior grau de formação académica, dando a cada vez mais pessoas condições para aumentar as suas qualificações e oportunidades, apenas uma fatia pequena (mais pequena do que dos partidos de direita) do eleitorado do PS, do Bloco de Esquerda ou da CDU tem curso superior (9% no caso do PS, 17% no da CDU e do Bloco de Esquerda).

Se o país precisa de reter os seus jovens e atrair os que já saíram, à esquerda interessa pouco ter esses jovens de volta, que provavelmente votariam mais à direita (a percentagem de eleitores com menos de 35 anos é de apenas 6% no PS e 5% na CDU, e mesmo os 36% do Bloco de Esquerda ficam abaixo dos 50% da Iniciativa Liberal).

Se ao país interessa que as pessoas vivam bem e tenham melhores rendimentos, que haja menos pobreza e melhores salários, a esquerda precisa dos votos de quem vive com dificuldades (57% dos eleitores do PS têm dificuldades em viver com os seus rendimentos; no caso da CDU, são 61%; no que respeita ao Bloco de Esquerda, são 72%).

Quando juntamos esta informação à experiência dos últimos oito anos de governação socialista que parece ter estado mais focada em manter-se no poder do que propriamente em fazer avançar o país, percebemos melhor a dimensão do problema.

A esquerda portuguesa não quer um país com ambição, em que as pessoas acreditam que é possível mais e melhor. Não quer um país que cresce e que cria riqueza, que deixa a cauda da Europa, que não é ultrapassado pela Roménia. Não quer um país em que se exige não ter os serviços públicos degradados e ter uma gestão pública criteriosa. Não quer um país com salários mais altos e menos pobreza, em que as pessoas têm vidas mais confortáveis e os jovens conseguem desenvolver os seus projetos de vida em Portugal.

A esquerda portuguesa quer o país do poucochinho, do “o que é que não funciona?” e do “mas crescemos um bocadinho mais no último trimestre”. Quer o país do nivelar por baixo, do discutir apenas salário mínimo e não o médio, em que se distribui pobreza em vez de riqueza. Quer o país em que as pessoas estão tão (compreensivelmente) preocupadas com o dia-a-dia que não conseguem sonhar com a construção de um país diferente.

A esquerda quer o país a quem pode vender o papão do Passos e da troika oito anos depois de desgovernação socialista e menos de 15 anos depois da bancarrota de Sócrates.

E nós, portugueses, que país queremos?

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

O conflito da esquerda com o País

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião