O Desafio da Internacionalização das PME

  • Miguel Pinto
  • 26 Novembro 2024

É imperativo explorar novas soluções para a internacionalização das PME. As estratégias mais eficazes combinam análise rigorosa dos recursos internos com identificação criteriosa das oportunidades.

A internacionalização das Pequenas e Médias Empresas (PME) é hoje uma prioridade inquestionável, exigindo políticas e estratégias que potenciem a sua exposição e competitividade nos mercados globais. Desde a queda do Muro de Berlim, em 1989, até à entrada da China na Organização Mundial do Comércio, o contexto global tem desafiado Portugal a reinventar-se. Sendo uma economia pequena, mas com uma vocação histórica para o comércio além-fronteiras, como exemplifica a emblemática figura do “Oliveira da Figueira” nas Aventuras de Tintin, o país enfrenta a necessidade de expandir a sua atividade económica para novos mercados.

No entanto, as PME portuguesas continuam a enfrentar desafios internos significativos. A sua especialização em atividades de baixo valor acrescentado e reduzida intensidade tecnológica limita o seu potencial competitivo. Acrescem fragilidades estruturais, como a insuficiente qualificação de empregadores e trabalhadores, e a adoção tardia de estratégias de negócio inovadoras. Em alguns setores, a dimensão reduzida das empresas também penaliza a sua capacidade de ter a escala necessária para competir globalmente.

Externamente, o cenário é também extremamente desafiante. A incerteza geopolítica, marcada por conflitos na Europa e no Médio Oriente, as difíceis condições de financiamento e os elevados investimentos requeridos para processos de internacionalização (em áreas como marketing, recursos humanos e logística) complicam ainda mais o panorama. Para além disso, a posição periférica de Portugal na Europa aumenta os custos de transporte e dificulta o acesso a mercados estratégicos.

Neste contexto, é imperativo explorar novas soluções para promover a internacionalização das PME. Não existe uma fórmula única aplicável a todas as empresas. As estratégias mais eficazes combinam uma análise rigorosa dos recursos internos com uma identificação criteriosa das oportunidades externas, garantindo consistência e capacidade para gerar valor ao cliente a custos competitivos.

Qualquer processo de internacionalização envolve benefícios, vantagens, custos e riscos. Para as PME, que representam a espinha dorsal do tecido empresarial português, internacionalizar não é apenas uma escolha estratégica, mas uma necessidade. O esforço conjunto entre empresas, associações e políticas públicas tem gerado resultados positivos: as exportações como percentagem do PIB alcançaram 47% no último ano, refletindo uma trajetória de crescimento expressiva.

Contudo, atingir o objetivo de 60% até 2030, como preconiza a AEP no documento “Exportações, um desígnio nacional”, requer um esforço acrescido e bem orientado. Este crescimento não pode ser apenas quantitativo; é fundamental que seja sustentado por uma maior diversificação geográfica dos mercados de destino. Ampliar o alcance das exportações para novos mercados permitirá reduzir a dependência de mercados tradicionais, aumentar a resiliência económica e explorar oportunidades em economias emergentes e dinâmicas.

O sucesso neste percurso requer uma preparação meticulosa e a resposta a questões-chave por parte de empresários e gestores:

  1. O meu produto ou serviço é competitivo?
  2. Tenho tempo e meios financeiros para abraçar este desafio?
  3. Quais são os mercados-alvo mais promissores?
  4. Qual é a estratégia mais adequada à realidade da minha empresa?

A decisão de internacionalizar pressupõe compromisso e resiliência. As empresas devem estar preparadas para assumir riscos calculados e reconhecer que a expansão internacional pode exigir ajustes internos antes de ser viável. Esta postura, mesmo em fases iniciais, é essencial para garantir o sucesso a longo prazo.

A concretização deste desígnio depende de equipas alinhadas numa visão partilhada, com objetivos claros e planos bem estruturados. A internacionalização não é apenas uma oportunidade de crescimento, mas uma condição fundamental para a sobrevivência de muitas PME e também para o desenvolvimento económico mais sustentado do nosso país. Preparar antes do “tiro de partida” é essencial para competir com sucesso num mundo globalizado e cada vez mais transacional.

  • Miguel Pinto
  • Engenheiro e Gestor

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