O efeito da Pandemia nos resultados do PISA

O declínio nas pontuações do PISA alerta para a necessidade de repensar o nosso sistema educativo e as decisões de políticas públicas tomadas durante a pandemia.

Os últimos resultados do PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) mostram uma tendência preocupante em toda a Europa Ocidental: uma diminuição significativa nos resultados dos testes para os estudantes. O declínio é de tal ordem que na Alemanha já se fala de um novo ‘choque PISA’, semelhante ao que levou a reformas educacionais alguns anos atrás. Portugal teve quedas mais acentuadas que a média da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico), tanto na Matemática como na Leitura, o que deve soar o alarme na política educativa.

Várias razões estão a ser sugeridas para explicar esta tendência preocupante. Uma delas é o impacto da imigração de segunda e terceira geração, e a falta de integração destes estudantes nas escolas. Olhando para os dados, as perdas parecem ser mais acentuadas nos países onde existem maiores discrepâncias nos resultados entre os estudantes de origem imigrante e os restantes. Outro fator que tem sido apontado é a pandemia global do COVID-19, que levou ao fecho generalizado das escolas e à interrupção significativa dos ambientes de aprendizagens tradicionais.

Neste último ponto, os dados apresentam alguns aspectos intrigantes. A Suécia, que não fechou as escolas, também registou um declínio significativo nas pontuações dos testes. Por outro lado, o Peru, um país que suportou um longo período de fecho das escolas, registou uma diminuição quase imperceptível nas pontuações. No caso da Suécia, provavelmente a explicação está nos estudantes imigrantes e nos erros nos dados de 2018, quando muitos estudantes foram impedidos de fazer o teste. No caso do Peru, pode ser atribuído a uma reforma educacional implementada há alguns anos e ao baixo nível de aprendizagem geral. Como a fundação da aprendizagem já estava estabelecida, não foi significativamente afetada pelo fecho das escolas, permitindo manter o nível baixo. Já na Ásia leste, as escolas fecharam muito tempo e não se notaram grandes efeitos.

Ainda é cedo para perceber os efeitos da pandemia no PISA. É possível que apenas os próximos resultados incluam os estudantes mais afectados. Mas estes resultados sugerem também que o impacto da pandemia na educação poderá ser mais complexo do que o inicialmente pensado. Um aspecto a considerar que tem sido relativamente pouco discutido é que além do fecho das escolas, o próprio vírus pode prejudicar a aprendizagem. Neste caso, se fechar as escolas reduz a incidência do vírus, o fecho das escolas até pode ter sido um mal menor e há opções para manter as escolas abertas reduzindo o risco do vírus. Para entender realmente a relação entre a pandemia, o fecho das escolas e o declínio no PISA, precisamos de mais investigação científica. Nos próximos meses teremos análises empíricas que vão permitir perceber melhor o impacto da pandemia nas aprendizagens.

Entretanto, uma coisa é clara: Independentemente das razões por trás deste revés educacional, a nossa resposta tem sido inadequada. Quando o vírus estava sob controlo, deveríamos ter estendido o calendário escolar para compensar o tempo perdido e investido mais nos nossos alunos, fornecendo os recursos necessários para recuperar a aprendizagem perdida. Além disso, esta abordagem ajudaria a integrar melhor os estudantes menos favorecidos. Particularmente, os últimos verões apresentaram uma excelente oportunidade para a extensão do ensino. Embora isto tivesse um custo, os benefícios a longo prazo para os nossos alunos, e para a sociedade em geral, provavelmente teriam superado em muito as considerações financeiras imediatas. Um exemplo que volta a ser relevante depois destes resultados do PISA foi esta iniciativa:“Aprendizagens perdidas devido à pandemia: Uma proposta de recuperação”.

O declínio nas pontuações do PISA deve servir como um alerta para uma reavaliação urgente dos nossos sistemas educacionais, incluindo das decisões de políticas públicas tomadas durante a pandemia. Perceber quanto do efeito vem de fechar as escolas, do vírus em si, ou dos dois (o mais provável), é essencial porque mecanismos diferentes necessitam de respostas diferentes.

  • Professor de Economia Internacional na ESCP Business School

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