
O Excel do adulto Montenegro
Até agora, tudo o que conhecemos da visão da AD resume-se a um “parágrafo fiscal”, ineficaz e destruidor das contas certas.
Todas as medidas propostas pelo PS custam menos de metade das medidas fiscais anunciadas pela AD: 1.750 milhões de euros versus 3.760 milhões. Mas o mais grave não é o custo. É o valor — ou melhor, a falta dele. Porque apesar de custarem bastante mais, as propostas da AD valem bastante menos.
Quando o PS apresentou o seu programa, a reacção da direita foi imediata e reveladora: acusaram-nos de “despesismo” e voltaram a invocar Sócrates, como quem tenta fazer política com fantasmas. Mas, ao mesmo tempo, Montenegro tenta afastar-se da Spinuviva — uma empresa unipessoal sob suspeita, que mina qualquer discurso de rigor e transparência. É hipocrisia sem vergonha. Mas, infelizmente, sem surpresa: criticam os outros enquanto tropeçam nos seus próprios esqueletos.
Montenegro governa há mais de um ano, mas continua a conduzir o país com o travão de mão puxado. Sem agenda própria, colado às políticas do PS, encurralado na sua moralidade seletiva. Prometeu virar a página, mas ainda nem conseguiu pegar no livro.
A grande bandeira fiscal da AD é a redução do IRC — e, de forma mal explicada, do IVA da construção. Falam também na descida do IRS, mas basta recordar o que aconteceu da última vez: foram às cavalitas do PS. Foi o PS que assegurou a descida do IRS, mesmo com a AD no Governo. Tal como foi o PS que lançou o maior programa de habitação pública, que relançou a ferrovia, que estabilizou o SNS e que valorizou um dos maiores ativos estratégicos do país — a TAP. Uma empresa que o PSD, consoante o dia, queria privatizar a saldo ou simplesmente deixar cair.
No caso do IRC, a proposta da AD merece ser escrutinada: sabemos que beneficia sobretudo quem já tem lucros — uma minoria no universo empresarial. Bancos, grande distribuição, sectores protegidos: tudo menos a aposta em bens transacionáveis, que são os que realmente acrescentam competitividade ao país.Para o país real, que vive do salário e lida com dificuldades concretas, essa medida pouco ou nada resolve. É uma promessa de crescimento sem garantias. Não assegura mais investimento, nem mais emprego, nem melhores salários. É uma aposta de fé, não uma política com provas dadas.
Já a redução do IVA da construção levanta a dúvida essencial: serve para quê e para quem? Se for uma medida transversal, serve apenas a construção de luxo. Não resolve o problema de quem precisa de casa. Aliás, pode até agravar o desequilíbrio do mercado, incentivando a especulação.
Até agora, tudo o que conhecemos da visão da AD resume-se a um “parágrafo fiscal”, ineficaz e destruidor das contas certas. Efectivamente, a promessa da AD de não rebentar com as finanças públicas assenta numa folha de Excel mal amanhada, onde o crescimento económico é empolado para caberem todas as montenegrices populistas e desvairadas. Em conclusão, Montenegro projeta um milagre económico no Excel do Sarmento e varre a Spinuviva para debaixo do tapete. A coerência é clara: a realidade nunca atrapalha uma boa narrativa.”
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