“O futurista que gostava que o futuro abrandasse. Só um pouco”
Ou como explicar que um perfume, pode ser neste momento, a última fronteira humana entre o real e o digital.
Quando não se sabe por onde começar, não por falta de tema, mas por excesso de ligações que procuramos – ou procuro fazer, nada como nos agarrarmos a uma expressão, já usada e gasta, mas que nos pode levar ao cruzamento onde queremos tentar chegar: “The past is never dead. It’s not even past” – William Faulkner.
Richard Watson, Futurista residente do Entrepreneurship Centre na Cambridge Judge Business School, considera que o problema de pensar futuro na atualidade, é que as mudanças acontecem hoje a um ritmo louco. “Somehow next Tuesday doesn’t count. Nor does five years ahead – there’s too much of a gravitational pull of the past to stretch how you’d think about probable and possible futures. But at 15 years out, you start to talk about futures that are at the fringes of what we can imagine, and that’s when things get really interesting”.
É precisamente esse o meu sentimento da semana. Ainda que me considere uma late millennial, em determinados comportamentos, a realidade coloca-me entre os Xennials, uma micro-geração que herda algo da Geração X e que tem qualquer coisa que nos aproxima dos millenials, toda uma população que nasceu entre o fim de 1970 e início de 1980. Portanto, de Z temos nada!
Não sendo parte do grupo dos nativos digitais como os millenials ou os Z’s, dou por mim a inscrever-me no primeiro curso “Digital Fashion 101” do The Digital Fashion Group, com módulos como Inteligência Artificial, 3D design, prototipagem virtual, análise de tendências assistida por IA… Primeiro porque acho que a Moda Digital é um dos territórios mais criativos e inspiradores da atualidade, mas também porque sinto necessidade de me digitalizar cada vez mais, pessoal e profissionalmente. Não há dia que não passe pelo Instagram das @limboandhatch, dos @thefabricant, da @Ai-Da, do @showstudio… entre tantos outros que se movem no universo criativo virtual.
O mais curioso é que precisamente esta semana, o The Future Laboratory publicava um artigo onde analisa a forma como as gerações mais jovens, em particular a Z, deseja se (re)conectar com o mundo real, colocando neste caso, as oportunidades que existem para o setor da perfumaria, que se posicionem com aromas que nos tragam essa ligação ao real. É aqui que também eu gostava que o futuro abrandasse, só um pouco, para ter tempo de processar todas as mudanças e tendências que vou lendo.
O artigo é interessante ao colocar o perfume como algo que há muito transcende o tempo e o espaço e que agora pode ser usado para ligar-nos, preencher lacunas digitais e fundir o funcional com o emocional. Até porque as nossas vidas digitais e a pandemia criaram aquilo a que chama de “touch-hungry world”, e apresentam um estudo da Firmenich, que revela que entre entre janeiro e novembro de 2020, dos nossos cinco sentidos humanos, a saudade de toque foi o mais discutido online, dominando 72% da conversa. E quando o nosso consumo digital médio se situa nas 6 horas e 59 minutos, o mesmo estudo revela que a vida sem o toque entre humanos, se assim se pode traduzir, está a elevar também o sentimento de saudade em relação à falta dos outros sentidos, sendo que 56% dos inquiridos diz que desde a pandemia passaram a valorizar mais o olfato. E tudo se torna ainda mais interessante e cruzado, como escrevia no início, quando a indústria da perfumaria já começa a explorar a forma como pode vir a criar experiências digitais de cheiro…
Com as nossas vidas cada vez mais híbridas, o artigo acaba por sugerir que o futuro do negócio dos perfumes está no sentimento, na combinação dos aspetos físico e emocional, do funcional com o cativante. “Tomorrow’s premium fragrance market will begin to tie scent to specific times, spaces and energies, making the invisible visible, the sensitive sensory and the magical real”.
E apetece voltar a Faulkner: “The past is never dead. It’s not even past”…
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