
O futuro nos robôs da Amazon
Nesta nova realidade, as empresas continuam a crescer, a ritmos idênticos ou superiores ao passado, mas fazem-no com menos e não mais trabalhadores.
A Amazon anunciou esta semana que entrou em funções o seu milionésimo robô. Em breve, a empresa americana terá tantos robôs em operação como funcionários nas suas instalações espalhadas pelos quatro cantos do mundo.
A robotização e automação há décadas que dominam o chão de fábrica. A novidade é que entre robôs físicos e bots digitais estão rapidamente a substituir muitos outros domínios do trabalho humano.
O caso da empresa de Jeff Bezos mostra bem como estas tecnologias, aliadas a uma inteligência artificial cada vez mais poderosa, estão a provocar mudanças que terão impactos profundos na economia.
Os robôs da Amazon classificam e separam as encomendas, retiram-nas de prateleiras e colocam-nas noutros robôs que circulam dentro dos armazéns e as levam à zona de distribuição. De forma autónoma ou apoiando o trabalho dos humanos, os robôs já assistem 75% das entregas da empresa.
Esta robotização e automação significa que a Amazon necessita de menos trabalhadores nos seus centros de distribuição. Segundo cálculos do Wall Street Journal, a multinacional tem agora 670 funcionários por cada unidade de distribuição, o número mais baixo em 16 anos. Em 2020, há apenas cinco anos, eram perto de 1.000 por unidade. O CEO, Andy Jassy, afirmou recentemente que o uso crescente da inteligência artificial irá levar a uma redução dos postos de trabalho da empresa nos próximos anos.
Nesta nova realidade, as empresas continuam a crescer, a ritmos idênticos ou superiores ao passado, mas fazem-no com menos e não mais trabalhadores.
O que poderá levar a um aumento do desemprego, que não é ainda visível nos dados, pelo menos nos EUA, onde a taxa recuou para os 4,1% em junho.
Mas quem quer ser um trabalhador manual de preparação de embalagens? No caso da Amazon chegaram a ser notícia as condições indignas em que o trabalho era feito, que incluíam penalizações para quem excedesse o limite de tempo para usar a casa de banho.
Neste admirável mundo novo dos robôs, o tipo de trabalho também está a mudar. Na Amazon, um número crescente de funcionários que trabalhava na preparação das encomendas passou a desempenhar funções de monitorização dos robôs. Uma tarefa muito melhor remunerada.
Alguns estudos têm apontado para o risco de a adoção destas novas tecnologias contribuir para uma maior desigualdade ao acentuarem o fosso remuneratório entre as tarefas mais manuais e as restantes.
A mudança é feita contratanto novos perfis, mas também através do upskiling dos trabalhadores existentes. A empresa afirmou esta semana em comunicado já ter proporcionado formação a 700 mil funcionários, seja através de treino interno ou formação externa, e lançou programas de aprendizagem sobre robótica e engenharia nos EUA.
Outro impacto significativo tem a ver com a produtividade. De acordo com a análise do Wall Street Journal, o número de encomendas distribuídas por trabalhador disparou de 175 há 10 anos para 3.870 agora.
Este salto evidencia a importância vital que a adoção destas tecnologias tem para a competitividade das empresas. O que em grande medida explica a diferença entre o crescimento da produtividade nos EUA e na Europa nos últimos anos.
O caso da Amazon serve de inspiração (e alerta) para os investimentos urgentes em tecnologia e formação que as empresas portuguesas e o Governo têm de fazer.
É impossível chegar ao orçamento da Amazon, que só este ano pretende investir 100 mil milhões de dólares, a maior parte em automação e inteligência artificial, mas há incentivos, por exemplo fiscais, que podem ser usados para apoiar as empresas nesta mudança
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