O mundo não pode acordar com medo

É assim que estamos à beira de 2017. Era bom que o antevíssemos com esperança e optimismo. Porém, é difícil.

O ano de 2016 foi o da afirmação das incertezas. O mundo está mais inseguro, receoso, com medo. São várias as nebulosas em diversas áreas. O ponto de interrogação venceu o de exclamação. A expectativa e o pessimismo estão a vencer a tolerância e o optimismo.

Por cada acto terrorista, os valores ocidentais de democracia e tolerância são postos em causa. A Europa sempre acolheu quem fugia da opressão e da violação dos direitos humanos, é essa a nossa cultura, mas há quem não respeite e ouse enfrentar, e atacar sem piedade, cidadãos anónimos que nada têm a ver com guerras religiosas e de puro ódio.

O mundo da guerra fria, é caso já para dizer que saudades, era muito mais seguro. Os inimigos tinham rosto, os blocos antagonistas tinham lideranças, os arsenais atómicos eram quase ingénuos perante a realidade diária dos lobos solitários.

Tenho saudades de Reagan, de Gorbachev, de Bush (pai), de Kohl, de Mitterrand, de Margaret Thatcher. Angela Merkel, e todos os outros líderes actuais, são caricaturas de homens de Estado, com densidade psicológica, que gostavam do poder mas que o usavam para orgulho das suas nações.

É também nesta centelha do vazio das lideranças que se constrói o caldo da insegurança reinante. A América de Trump não dá garantias como gendarme mundial e nem um presente de Natal para as crianças, em muitas capitais, se pode comprar sem olhar para cada esquina ou encarar sem temor um rosto que não nos suscite confiança.

Mas não é só no tabuleiro da política internacional que não estamos tranquilos. A sociedade caminha para a sua «uberização», que é sinónimo de precariedade. Quem julga ter a oportunidade de concretizar a sua realização profissional tem muito maiores barreiras e o desemprego é uma constante e com menos soluções como o murro no estômago de Ken Loach, no fabuloso “I, Daniel Blake”, expôs com clarividência.

A minha geração teve pais que durante toda uma vida trabalharam na mesma empresa ou instituição, hoje, a mobilidade – que não é negativa desde que o mercado de trabalho funcione – é a palavra de ordem. Mas a depressão é maior e o sonho de muitos, não passa de utopia. Quantos cursos universitários são tirados para nada?

É assim que estamos à beira de 2017. Era bom que o antevíssemos com esperança e optimismo. Porém, é difícil. O diagnóstico não dá segurança a ninguém e os sintomas são os de um mundo à beira do colapso. O mundo não pode acordar com medo. É esse o desafio para quem nos lidera.

Desejo a todos os leitores do ECO um feliz Natal e um 2017 cheio de saúde e realizações pessoais.

Nota: Por decisão pessoal, o autor não escreve de acordo com o novo acordo ortográfico.

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