O Open Insurance está, finalmente, na agenda!

  • Ana Teixeira
  • 16:59

Ana Teixeira, co-fundadora e CEO da insurtech Mudey, está francamente entusiasmada com a notícia de que a norma Open Insurance está mesmo a chegar. E partilha a sua visão desse novo futuro.

Open Insurance ou Seguros Abertos na sua versão em português consiste no acesso e partilha de dados (pessoais e outros) relacionados com seguros, através de APIs padronizadas, sempre com o consentimento expresso do titular desses dados. Esta é a definição dada pelo European Insurance and Occupational Pensions Authority (EIOPA).

O que está implícito?

  • Colaboração entre as entidades do setor e entidades terceiras credenciadas; uma interação quid pro quo em benefício mútuo;
  • O papel central da tecnologia, definido por uma integração uniforme acessível às entidades, garantindo o movimento de dados de forma segura e consentida;
  • Circulação e portabilidade dos dados de seguros; por exemplo, tipologia, preço, datas de início e renovação, coberturas dos seguros; e dados pessoais do segurado incluindo sensíveis (como o nome, identificação fiscal, historial clínico e sinistros).

A intenção do legislador é melhorar os serviços prestados aos consumidores e fomentar a concorrência no mercado de seguros. Tendo sempre em mente a garantia da sustentabilidade financeira do setor.

A aplicabilidade será diversa em prol do consumidor final: maior personalização da oferta; simplicidade das jornadas de subscrição de seguros, permitindo comparação e apresentação de alternativas para uma escolha informada; sofisticação dos modelos de pricing, tornando-os moldáveis às exigências de um consumidor em constante mudança.

O Open Insurance traz também benefícios às Seguradoras: configuração de novos produtos baseados num volume e variedade de dados, em constante atualização; melhoria da relação com os clientes durante a gestão de sinistros, levando a maior eficiência e redução de custos com os mesmos.

É expectável que a implementação de Open Insurance permita o aparecimento de novos modelos de negócio e formas alternativas de prestação de serviços.

A consolidação que tem vindo a acontecer na distribuição de seguros em Portugal coloca os mediadores de seguros bem posicionados para tirar partido das oportunidades que serão criadas pelo Open Insurance.

O Open Insurance pode ser um acelerador para a distribuição de seguros, abrindo mercados não explorados por via de parcerias com entidades terceiras fora do setor, criando um ecossistema rico e dinâmico.

Os mediadores mantiveram, ao longo dos anos, uma relação de confiança e de proximidade com os seus clientes e, como tal, são quem melhor conhece o que estes necessitam e desejam. Fruto desta consolidação, resulta também uma maior capacidade financeira de investimento em tecnologia, previamente não existente, juntando o conhecimento do cliente com a capacidade de execução.

Os mediadores de seguros que souberem trazer iniciativas de Open Insurance para os seus modelos de negócio, integrando-as nas jornadas digitais dos clientes e na sua prestação de serviços, vão ter uma vantagem competitiva difícil de igualar.

Acredito que o Open Insurance pode ser, de facto, um acelerador para a distribuição de seguros, abrindo mercados não explorados por via de parcerias com entidades terceiras fora do setor, criando um ecossistema rico e dinâmico. Desta forma, o Open Insurance abre portas para uma colaboração sem precedentes, não só entre os intervenientes do setor segurador, mas também com outros setores.

A fluida circulação de dados, bidirecional entre seguradoras e mediadores, e com entidades terceiras, vai permitir uma maior integração e adaptação dos seguros às diferentes fases da vida das pessoas e das empresas; uma forma inteligente de reduzir o gap de proteção de que tanto se fala.

Ao garantir acesso, portabilidade e transparência, ajustando-se de forma ágil a um consumidor cada vez mais digital e em constante mudança, o Open Insurance fortalece o posicionamento dos seguros como relevantes, inovadores e atuais.

Haverá também um efeito a médio e longo prazo que não deve ser descurado, a meu ver, a elevação da reputação do setor segurador.

Atualmente a perceção do consumidor final é de que o setor segurador é complexo, burocrático, fechado. Este novo paradigma pode alterar esta perceção de forma radical. Ao garantir acesso, portabilidade e transparência, ajustando-se de forma ágil a um consumidor cada vez mais digital e em constante mudança, fortalece o posicionamento dos seguros como relevantes, inovadores e atuais.

É em fase de crescimento que se planeia o futuro

Foi com entusiasmo que recebi a notícia que existe vontade em avançar com o Regulamento de Acesso a Dados Financeiros (FiDA). Finalmente o Open Insurance está verdadeiramente na agenda.

Open Insurance ou em português “Seguros Abertos” é, em si mesmo, sinónimo de uma maior transparência, colaboração e partilha, agora também reconhecido pelo legislador.

Em Portugal, o setor de seguros tem crescido nos últimos anos. Em 2024 foi transversal a (quase) todo o setor e aos vários intervenientes, o que demonstra uma cada vez maior relevância dos seguros nos consumidores e nas empresas.

Neste cenário qual o papel de Seguros Abertos? Vale a pena alterar uma fórmula bem-sucedida?

Na minha experiência, é em fases de crescimento que devemos planear e preparar o futuro. Os Seguros Abertos irão chegar numa boa altura para o mercado português, quando estão em curso investimentos em digitalização e tecnologia.

Tudo indica que Open Insurance irá tomar forma via Regulamento Europeu e, como tal, é imediatamente aplicável na ordem jurídica interna dos Estados Membros após a sua entrada em vigor.

São boas notícias. Não há tempo a perder!

No entanto, antevejo desafios na sua aplicação em Portugal. Destaco dois:

  • Inter-conectividade tecnológica: Ainda há um longo caminho a ser percorrido pelos players do sector. Um dos objetivos do Open Insurance é a definição de APIs abertas e padronizadas. Para isso acontecer é necessário que as entidades, nomeadamente seguradoras, tenham já os dados organizados, estruturados e prontos a serem partilhados e consumidos via API;
  • Resistência à mudança: Acontece quando algo novo surge, e é humano. Deixar a zona de conforto para entrar num terreno que, apesar de promissor, é desconhecido.

Mas podemos aprender com quem já vai à frente. Por exemplo, as iniciativas de Open Banking já presentes em Portugal, que estão a permitir uma experiência holística dos consumidores com os bancos, e a acrescentar valor para o setor bancário.

Naturalmente que existem riscos a não descurar (nomeadamente ciber-segurança e questões éticas), mas devemos preparar e abraçar o futuro.

Existe muito para fazer, é arrancar com determinação, dinamismo e energia, e encarar este futuro com espírito aberto, com comunicação e em colaboração.

  • Ana Teixeira
  • Co-fundadora e CEO da Mudey

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