O valor das universidades para os jovens no século XXI

  • Miguel Copetto
  • 15 Abril 2025

O ensino superior deve ser capaz de proporcionar uma experiência verdadeiramente transformadora, preparando os jovens para o sucesso profissional, pessoal e social.

Num tempo em que as novas gerações estão habituadas a soluções rápidas e acessíveis para problemas complexos, e onde gigantes como a Google e a Amazon competem diretamente com as universidades ao oferecerem formações curtas, online e direcionadas para o mercado de trabalho, importa questionar: que valor oferecem as universidades a um jovem no século XXI?

Esta questão foi recentemente colocada a 14.563 jovens espanhóis pelo Observatório EsdeES, revelando uma perspetiva clara sobre o que esperam da sua experiência universitária.

Na escolha de uma universidade, o acesso ao mercado de trabalho continua a ser o critério mais valorizado, seguido pela reputação institucional e pelo modelo educativo.

Os resultados apontam para uma insatisfação com a rigidez do modelo educativo atual, que limita o crescimento pessoal e profissional e reforça a necessidade de maior flexibilidade curricular. De acordo com este inquérito, as universidades privadas, sobretudo as que ministram cursos a distância, destacam-se pela qualidade, inovação pedagógica e apoio fornecido aos estudantes. Este é um dado surpreendente, que questiona a perceção de que a presença física é indispensável para a qualidade do ensino.

Um ponto consensual foi o reconhecimento do corpo docente como a principal mais-valia da experiência universitária, desempenhando um papel crucial na promoção da qualidade e na dinamização de outras áreas.

Ficou evidente a importância das aulas práticas externas, que fortalecem a ligação entre o mundo académico e o profissional, e o impacto positivo da universidade no desenvolvimento pessoal, provando que o seu valor vai muito além da componente académica. Este é o valor que as instituições de educação superior oferecem. E tal é ainda reconhecido.

É que, apesar da crescente oferta de formações fora do ambiente universitário, nos últimos 10 anos, o número de estudantes universitários aumentou 20% em Portugal e 18% em Espanha, mesmo num contexto de redução da população jovem. Estes números sugerem que as universidades continuam a oferecer algo que outras alternativas não conseguem replicar.

Quando as universidades cumprem plenamente a sua missão, articulando de forma harmoniosa o ensino, a investigação e a ligação com a sociedade, conseguem criar um ambiente verdadeiramente singular. Os estudantes aprofundam conhecimentos académicos e desenvolvem competências essenciais para o século XXI, como o pensamento crítico, a capacidade de resolução de problemas, a adaptabilidade e as tão valorizadas soft skills, como a comunicação e o trabalho em equipa.

Para que este ambiente singular se mantenha atual e seja atrativo, é fundamental que as universidades saibam adaptar-se às exigências do presente e do futuro. Ouvir as novas gerações (como as que responderam a este inquérito do Observatório EsdeES já aqui no país vizinho), incorporar tecnologias no ensino, reforçar a ligação com a comunidade, promover a interdisciplinaridade e responder a desafios globais são passos essenciais para assegurar a sua relevância.

As universidades não podem estar fechadas em si. Devem adaptar-se continuamente às mudanças sociais e económicas, incentivar a inovação e proporcionar um ambiente de aprendizagem dinâmico, onde o conhecimento académico se alia à prática.

Mais do que conceder diplomas, o ensino superior deve ser capaz de proporcionar uma experiência verdadeiramente transformadora, preparando os jovens para o sucesso profissional, pessoal e social.

Este texto reflete a visão do autor, não necessariamente a da APESP.

  • Miguel Copetto
  • Diretor-executivo da APESP

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