Os últimos (bons) 30 anos

Que após estes 30 anos ainda exista muita gente que continua a defender o Comunismo, uma ideologia que apenas trouxe morte, miséria e totalitarismo, não pode deixar de se lamentar.

Há 30 anos caia o Muro de Berlim e há 28 anos implodia o bloco de Leste e a própria União Soviética. Tratou-se de um momento histórico, que muitos caracterizam como o fim do século XX (embora saibamos que o século apenas terminou a 31 de dezembro de 2000 – sim, 2000 e não 1999 – uma vez que não houve ano zero, dado que os Romanos conheciam o conceito, mas não o número, então temos ano 1 antes de Cristo e ano 1 depois de Cristo; como tal, a década termina no ano 10/20/30…, o século termina no ano 100/200/…/1900/2000, e o mesmo para o milénio: o 1º milénio terminou em 1000 e o 2º milénio em 2000).
Mas dizia eu, para muitos historiadores, a queda do bloco Soviético marcou o fim de uma era e o início de outra era.

E de facto, assim foi. Perguntar-se-á: como foram estes últimos 30 anos, desta nova era? Estamos hoje melhores que há 30 anos? A resposta só pode ser um claro e inequívoco: estamos muito melhor. Sim, os últimos 30 anos foram bastante bons para o computo geral da humanidade.

Os últimos 30 anos foram antes de mais de um mundo que se tornou global. Até ao final dos anos 80 do século XX a economia capitalista abarcava cerca de menos de mil milhões de pessoas. Era o chamado “mundo ocidental”: América do Norte, Europa ocidental e alguns países da Asia e Oceânia: Japão, Coreia do Sul, Austrália e Nova Zelândia. Hoje, todo o planeta (com exceção de 2-3 países periféricos como a Coreia do Norte) vive num regime capitalista (embora nem todos num regime democrático). O Capitalismo, os mercados e a livre concorrência e o livre comércio foram os grandes vencedores do fim da Guerra Fria.

Por um lado, a União Soviética e o bloco de Leste implodiram quase sem violência. É verdade que houve 2 guerras nos Balcãs e conflitos na zona do Cáucaso. Mas se considerarmos a queda de outros impérios no passado, esta foi uma transição muito suave. Quando, ainda por cima, tinha um potencial de destruição muito superior. Quando a União Soviética acabou os seus dirigentes tinham um vasto exército, com mais de 4 milhões de efetivos, um vasto arsenal no exército, marinha e força aérea, além da capacidade nuclear para destruir o planeta várias vezes. A URSS gastava cerca de 15% do seu PIB na Defesa. É extraordinário que o fim de um império tão vasto e (aparentemente) poderoso, tenha sido feito praticamente sem que o seu poder dirigente tivesse feito uso da enorme capacidade militar que disponha.

Adicionalmente o número de Democracias subiu consideravelmente. Não apenas os países do Leste Europeu ganharam a sua liberdade (interna e face ao domínio Soviético), como noutras zonas do globo a Democracia avançou. Em 1989 havia 57 democracias, hoje há 100. Desde 2000 que o número de democracias passou o número de autocracias. Em 1989 havia cerca de 2 mil milhões de pessoas (em 5.2 mil milhões – cerca de 40% da população mundial) a viver em regimes democráticos, hoje são quase 4 mil milhões (em 7 mil milhões – quase 60% da população mundial). Falta a China para termos 4/5 da população mundial viver em democracia. E depois falta o mundo Árabe e parte de África para a Democracia ser praticamente global. Também o número de conflitos militares caiu substancialmente. Apesar das ameaças dos últimos anos, hoje vivemos num mundo menos perigoso e mais livre.

Por outro lado, a vitória do Capitalismo, do mercado e do comércio global trouxe um período de prosperidade quase sem precedentes, mesmo com a crise financeira de 2008.

O PIB mundial passou de cerca de 36 biliões (notação Europeia, isto é, triliões na notação Americana) em 1989 para um valor em 2019 de quase 85 biliões. Trata-se de um crescimento acumulado, em 30 anos, de quase 140%, o que dá uma média de crescimento anual de 3% ao ano. O PIB per capita mundial em 1989 não chegava aos 4 mil Dólares. Hoje ultrapassa os 11 mil Dólares. Em preços constantes passou de 7 mil para 11 mil neste período.

Os níveis de pobreza caíram significativamente a nível global. Em 1990, 36% da população mundial vivia abaixo do limiar de pobreza definido pelo Banco Mundial. Hoje, são 10%. Onde a queda foi brutal foi na Asia, ao passo que em África a situação piorou. Aqui fica mais um exemplo de como a abertura ao Capitalismo, ao mercado livre e ao comércio global tem um impacto elevado nas condições de vida das pessoas. Os países Asiáticos, nomeadamente a China e a India, abriram as suas economias e prosperaram. Os países Africanos não o fizeram na mesma medida e tem menos crescimento e riqueza.

A mortalidade infantil também caiu significativamente, de 65 por 1000 em 1990 para 25 por mil atualmente. A grande queda foi sobretudo nas economias emergentes, dado que nos países ocidentais a mortalidade infantil já era, por regra, bastante baixa. A esperança média de vida em termos globais passou dos 64 anos para os 73. Passamos de 25% de analfabetismo em 1990 para cerca de 10% atualmente. Na Ásia passou-se de 5% da população com estudos superiores para 35%. Na Europa de 36% para 63%. Na América do Norte de 73% para 84%.

Adicionalmente, nos últimos 30 anos assistimos a uma explosão tecnológica sem precedentes. Há 30 anos poucos imaginariam smartphones, internet, tablets, carros elétricos, eficiência energética e na utilização da água e dos solos, avanços na medicina, etc. Isso permitiu uma melhoria dos padrões de vida, bem como uma enorme mobilidade.

E simultaneamente, apesar dos problemas ambientais que enfrentamos, uma redução do consumo de recursos per capita. Se não acredita pense no seu smartphone. Tem a capacidade computacional que apenas computadores que ocupavam uma sala inteira tinham nos anos 80. Por outro lado, substitui máquina fotográfica, máquina de filmar, calculadora, agenda, leitor de música, jornais em papel, etc. Na investigação e desenvolvimento, o mundo passou de 1 milhão de patentes anualmente para mais de 3 milhões.

Na grande maioria dos produtos de consumo os preços reais caíram substancialmente nos últimos 30 anos, por via da inovação tecnológica e da globalização (com uma muito maior eficiência na utilização dos recursos). Hoje precisamos de muito menos horas de trabalho para comprar um cabaz variado de produtos.

Claro que há desafios pela frente. As questões ambientais, de utilização dos recursos e de escassez de água. Há ainda 10% da população mundial a viver abaixo do limiar de pobreza. Há questões importantes em termos de desigualdades. Nos países desenvolvidos a globalização e o comércio internacional trouxeram problemas à camada de população com menores competências (aquilo que designamos por “Teorema de Stolper-Samuelson” – os trabalhadores menos qualificados num país desenvolvido tendem a ficar pior quando o comércio internacional aumenta, porque são facilmente substituídos por trabalhadores com qualificações similares de países menos desenvolvidos, que têm um custo de mão de obra mais baixo).

Mas após 30 anos, só podemos regozijar com o fim do Bloco Soviético. Trouxe mais paz, mais Democracia, mais prosperidade e mais riqueza. Reduziu as assimetrias mundiais. Permitiu um período de expansão económica e de melhoria da vida da maioria das pessoas.

Que após estes 30 anos ainda exista muita gente que continua a defender o Comunismo, uma ideologia que apenas trouxe morte, miséria e totalitarismo, não pode deixar de se lamentar. Que em Portugal representem 20% do Parlamento é apenas um sinal do nosso atraso e penúria.

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