Populismos, Socialismos e o PSD aos Cucos

peculiar complementaridade entre a Banca liberal e o Governo socialista implica um perigo para a democracia porque exponencia a divisão entre “nós” e as “elites”, o centro dos populismos.

Crise? Qual crise? Em Portugal vive-se o melhor do progresso e da democracia em toda a Europa. A inflacção é um fenómeno importado. Pela pandemia. Pela Guerra. As altas taxas de juro são da responsabilidade do BCE. Na inexistência da solidariedade da Europa está toda a responsabilidade política. As dificuldades na habitação são a marca do “sucesso da procura turística” e do “investimento estrangeiro”. O Governo só é responsável pelos risos na Assembleia da República perante o espectáculo degradante de uma democracia em paralelo delirante ao país. Afinal, a “cobra fuma”.

O que o Governo não entende é que ri do seu próprio fracasso e disfarça como um comediante perante o silêncio da audiência na sepultura de uma piada falhada. A piada é sobre os portugueses que não têm vontade de rir. O riso não convida ao esquecimento pois serve apenas para demonstrar o prazer de um partido que adora o poder e detesta a responsabilidade. O riso do Governo é uma ofensa a um país cada vez mais falhado. O Governo é hoje uma piada sobre uma piada falhada.

Quando o excedente nas contas públicas atinge os 1,1% do PIB, o Governo não prova nada sobre a virtude das “contas certas”. Mas prova tudo sobre a importância dos portugueses na “obsessão orçamental” do Governo – os portugueses devem sentir-se privilegiados por suportarem a “maior carga fiscal” da Europa. Perversa inversão em que o Governo se serve dos portugueses em vez de servir os portugueses. É isto normal? Em Portugal tudo é normal dentro da deformação política de uma democracia parada entre o retrocesso social e o progresso do Executivo.

E o silêncio dos bancos? Enquanto acumulam lucros sem precedentes, os bancos desaparecem da esfera pública com um silêncio que só pode revelar o pior das críticas marxistas e anti-capitalistas. Existe uma função social associada à acção dos bancos numa sociedade comercial. Uma função que nada tem a ver com o “assistencialismo de Estado”, mas que se revela quando existe a necessidade de “recapitalizações com dinheiros públicos”. Dinheiros públicos que são recursos de toda a sociedade.

O colapso da economia é uma parte do colapso da sociedade. Quando a fábrica social revela sintomas de stress, os bancos não se podem demitir da sua responsabilidade. O silêncio é a marca de uma instituição acima das instituições, enquanto os lucros escorrem automaticamente pelas nuvens de uma decisão administrativa do BCE. Não é uma questão de mais socialismo ou de mais liberalismo. É uma questão de decência nos mecanismos de uma sociedade civilizada.

Esta peculiar complementaridade entre a Banca liberal e o Governo socialista implica um perigo para a democracia. E um perigo porque exponencia a divisão entre “nós” e as “elites”, a base e o coração de todos os populismos. A Moção de Censura mostra até à náusea essa “linha vermelha” bem ao rubro na sede da democracia portuguesa. O musical do Chega enche de prazer a irresponsabilidade do Governo na contemplação moderna da fragmentação da direita. O Chega grita, discursa, insulta, provoca, pratica acrobacias mortais no trapézio voador. Mas o Governo só consegue ver a garantia do poder socialista perante o delírio da direita resignada. O Governo comporta-se como o “dono do regime” e imagina Portugal transformado no Partido Revolucionário Institucional.

Será que a opção política que resta aos portugueses é entre um Primeiro-Ministro “orador motivacional” e a “toxicidade histérica” do Chega?

Nesta parte do enredo nacional tem de entrar o PSD. O PSD no seu estado actual é a sombra de um fantasma que não se lembra do que é estar politicamente vivo. Olhar para a performance política do Grupo Parlamentar é causa para vergonha alheia. Só que a vergonha tem resultado no estado do país e no comportamento do Governo. Queira ou não queira, o PSD é o grande partido da direita portuguesa. O Chega apenas ocupa o espaço que o PSD deixa vazio por indecência, má figura, falta de ideias, erros de casting. Os fenómenos populistas não são um exclusivo nacional. Mas a apatia do PSD não se compreende, não se entende, não se admite. O PSD é o gigante. O Chega é o pigmeu. Em Portugal o gigante tem medo do pigmeu.

A estratégia do PSD tem de enfrentar o fenómeno Chega e não deixar que o “activismo vocal” substitua a consistência política. É da responsabilidade do PSD pensar Portugal à direita e ser a alternativa por onde passam todas as alternativas à impunidade socialista. Tal como Sá Carneiro inventou o espaço político para a direita moderna e democrática, o actual PSD tem de ocupar o seu espaço natural na geografia dos partidos e do regime. E reinventar uma visão política para um Portugal moderno, democrático, europeu. O PSD tem de aprender a condicionar o Chega – dizer não ao Chega é a primeira decisão para ganhar eleições e governar Portugal.

O PSD inócuo e conformista é um peso para Portugal e um banquete no pandemónio populista. O PSD é um tédio de ideias vazias, tiques de desinteligência, o “saudosismo sebastianista” em português suave. O PSD é um escritório sem expediente e vazio de substância política. É todo um caos de coisa nenhuma.

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