A política da indignação e das boas e melhores intenções não pode ser a norma, Portugal precisa de mais. Portugal precisa de se reconciliar com a ambição de um grande país.

A campanha eleitoral invade o país com o discurso permanente da crítica e do elogio. Todos os partidos se criticam mutuamente. Todos os partidos praticam o elogio evidente. A campanha eleitoral está transformada no scroll permanente das novidades do dia e da superfície das coisas. O país é um circuito fechado, um carrossel em que a palavra política é a negação do político. A campanha eleitoral é em directo, mas as políticas são em diferido. A festa é a norma no país que não percebe a causa das eleições nem a lógica do voto. A mensagem dos partidos agita-se na promessa de uma revolução impotente e incessante. A mensagem dos partidos denuncia uma legalidade democrática que é a marca dos interesses e da corrupção. A mensagem dos partidos aponta para a acção governativa como o grande problema do país. Todos os partidos são geniais em campanha e banais no Governo. O génio que tudo promete fora da realidade, a banalidade de tudo falhar na realidade. A campanha é o grau zero da política transformada em fraude eleitoral.

Discurso tremendista? Observem a campanha na sua real dimensão política e vão encontrar uma caricatura de Portugal. Os portugueses são objecto de um discurso político insensível ao movimento do mundo civilizado, um discurso estranho ao progresso que agita as sociedades mais avançadas, como se os portugueses fossem os últimos representantes de um povo ignorante e pobre saído da longa noite fascista ou às portas da nova era populista.

Para além da retórica eleitoral, e sem apoios sociais, 40% dos portugueses são pobres. Este é o grande tema do Portugal moderno e europeu. Talvez não haja ideias políticas para as políticas públicas necessárias para recentrar o país no novo século. A política está transformada no mais puro assistencialismo das promessas eleitorais. A política está projectada na disseminação de um ressentimento social que legitima uma visão política única e centrada na sensação de que metade do país explora a outra metade do país – Como se Portugal fosse uma colónia que pertence apenas a metade dos portugueses. Quando o país político exibe sem noção ou escrúpulo uma pobreza política que ofende, celebra-se a festa das eleições como solução para a estabilidade. A estabilidade da pobreza ou a estabilidade da riqueza?

O que a campanha eleitoral esconde na escassa consideração entre os líderes políticos decisivos é mais profundo e mais estrutural. A campanha pretende esconder as divergências políticas que pertencem ao domínio da ignorância e da demagogia, não ao domínio das soluções e da proficiência políticas. Na agitação da campanha perde-se também a diferente perspectiva entre visões sociais que não são alternativas porque não consolidadas nem organizadas em identidades políticas autónomas e originais. Sobra sim a inveja social, o discurso emotivo, a superfície cínica, a virtude de uns e o vício de outros. É a política da Campanha Carismática. Brilha na campanha o confronto fatal entre interesses opostos que se tentam anular mutuamente – É o retrato de um Portugal dilacerado pelos recursos escassos que só o domínio do Estado permite mobilizar e distribuir. Nenhuma força política é capaz de esclarecer que antes de Portugal ter um problema político o que verdadeiramente divide a nação é a questão económica e a estrutura administrativa. Melhor administração, melhor economia, são a marca de água da melhor política.

Na falsa circulação entre Estado e mais Estado, na falsa ilusão entre Mercado e mais Mercado, a campanha eleitoral deve esclarecer os portugueses de como celebrar a prosperidade da nação para além dos interesses de curto prazo e da necessidade desesperada de ganhar eleições. Os partidos de poder devem explicar como deve o capital público passar a produzir riqueza em vez de alimentar clientelas. Os partidos de poder devem esclarecer o país da nova estrutura económica que pode e deve aumentar o salário médio dos portugueses, o salário médio dos servidores do Estado, a remuneração média dos funcionários privados e o índice máximo de satisfação nacional.

O discurso encantatório sobre o salário mínimo e as pensões são a confissão da impotência política e a manutenção de uma menoridade social imprópria de um país europeu e civilizado. Portugal deve ter a vontade de ir além dos mínimos sociais. Os partidos de poder têm o dever de garantir aos portugueses que os Ministros são pagos pelo Estado para servirem a nação e não para servirem interesses partidários em particular e interesses particulares em geral. Os partidos de poder têm a obrigação de garantir aos portugueses que serão os melhores e mais competentes e mais inteligentes que governam o país e não uma legião de “partidários insolentes” e medíocres. E já agora que o Parlamento seja a casa dos críticos e das alternativas.

A política da indignação e das boas e melhores intenções não pode ser a norma. O Serviço Nacional de Saúde não pode ser a religião oficial da República. Portugal precisa de mais. Portugal precisa de se reconciliar com a ambição de um grande país.

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