Reputação de empregador: a emancipação

  • João Silva Santos
  • 19 Fevereiro 2025

O principal protagonista do mercado de trabalho — o colaborador — começa a ter uma voz mais audível nas considerações que faz às suas experiências laborais.

É inegável que a transparência se tornou numa regra fundamental da sociedade contemporânea. Avaliamos, desde as compras que fazemos, até às férias de que desfrutamos, oferecendo feedback de enorme utilidade a inúmeros interessados. Este, por sua vez, é utilizado para aperfeiçoar ao máximo o matching entre as necessidades de cada consumidor e as opções disponíveis.

Diversas dimensões da nossa sociedade tiveram de se reinventar devido à proximidade inédita criada por este fenómeno entre o grande público e a realidade factual. Indústrias inteiras mudaram para sempre desde que os clientes passaram a aceder, em segundos, às avaliações de um sem número de utilizadores sobre produtos ou serviços. Veja-se, por exemplo, o setor da hotelaria, onde os vastos recursos despendidos em marketing viram o seu papel relegado para segundo plano, com as plataformas de reviews a assumirem o papel principal na decisão do cliente.

Estamos agora a assistir ao início de uma transição semelhante no campo da reputação de empregador. Este conceito, cada vez mais relevante na gestão de recursos humanos, está prestes a atingir um nível inédito de transparência, que promete mudar o jogo por completo. O principal protagonista do mercado de trabalho — o colaborador — começa a ter uma voz mais audível nas considerações que faz às suas experiências laborais.

Este movimento teve início há alguns anos, com a criação de websites especializados em registar o feedback direto de profissionais sobre os seus empregadores. Apesar do impacto das certificações externas que promovem empresas como “ótimos locais para trabalhar”, o peso das opiniões de quem vive essas experiências na primeira pessoa é incontestavelmente maior.

Se os websites de avaliações foram o ponto de partida, a emancipação plena está ao virar da esquina. Com o surgimento das plataformas de trabalho para profissionais independentes — os marketplaces digitais —, o nível de transparência sobre práticas de gestão de recursos humanos está a dar um salto gigantesco.

Este é um fenómeno que já apresenta uma considerável expressão a uma escala global e que começa agora a ganhar força em território nacional. Nestes sistemas, para que um compromisso profissional de curta duração seja concluído, é comum que os profissionais avaliem as condições proporcionadas pela empresa onde realizaram a sua tarefa. Dado que estas missões têm uma duração média de quatro horas a três dias, este processo avaliativo, repetido por milhares de utilizadores e relativo a milhares de empresas, gera um volume massivo de dados, expondo, a um nível inédito, as práticas dos empregadores ao escrutínio público.

Este novo paradigma irá, inevitavelmente, conferir à gestão de recursos humanos uma importância nas organizações que nunca teve. Qualquer candidato passará a analisar as experiências de outros colaboradores antes de submeter a sua candidatura a determinada empresa, tal como um turista pesquisa por outras opiniões antes de qualquer viagem. A eficácia do matching entre profissionais e empresas aumentará drasticamente, diminuindo e o risco de desalinhamento de expetativas entre as partes.

Assim como as reuniões diárias nas unidades hoteleiras passaram a incluir discussões sobre as suas reviews online, a reputação em tempo real dos empregadores levará continuamente a mudanças rápidas e eficazes ao nível da gestão de recursos humanos. Esta é uma pressão qualitativa que, até agora, existia principalmente ao nível do cliente e que, agora, se começará a sentir igualmente do lado do cliente interno.

A substancial melhoria da experiência dos colaboradores que pode emergir deste novo cenário terá, inevitavelmente, um impacto muito significativo em várias dimensões, como a redução da rotatividade ou a mitigação da escassez de mão-de-obra. Este advento trará ao mercado um derradeiro pendor competitivo na disputa pela melhor reputação de empregador, condição indispensável para a atração do melhor talento.

  • João Silva Santos
  • CEO da merytu

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