Será a IA generativa capaz de impulsionar o sector dos Serviços Financeiros?

  • Ricardo Jerónimo dos Santos
  • 3 Janeiro 2024

Financial Services Lead da Microsoft vê "sinais do início de uma nova era nos Serviços Financeiros" graças à Inteligência Artificial Generativa. "O entusiasmo neste sector é quase palpável", diz.

Ao longo do último ano, o assunto principal nas conversas mantidas com Responsáveis dos Bancos e Seguradoras tem sido, de forma consistente, a Inteligência Artificial Generativa. Com a Microsoft, a dimensão destas conversas vai além da visibilidade alcançada a partir da parceria com a OpenAI, focando-se na practicidade dos casos de negócio aplicáveis ao sector. Desde uma introdução sistémica desta tecnologia com base no Azure OpenAI até ao impulso de produtividade com os Copilots, sempre com as características ímpares de protecção em termos de compliance e segurança dos dados e do negócio como um todo.

As projecções falam por si: 70% dos colaboradores em ambiente empresarial disponíveis para delegar trabalho na Inteligência Artificial e uma marcada expectativa na pesquisa de informação, sumarização e organização de actividades; 55% de incremento na velocidade do desenvolvimento de software com o GitHub Copilot; 60% dos líderes digitais que reconhecem a proeminência da IA como diferencial para o crescimento do negócio mediante a adopção de aplicações inteligentes, capazes de interacções baseadas em linguagem natural e de proporcionar experiências “data-driven” personalizadas que vão melhorando progressivamente.

Estes são sinais do início de uma nova era nos Serviços Financeiros. O entusiasmo neste sector é quase palpável, ao contrário de qualquer reacção a outras tecnologias emergentes que vimos surgir nas últimas duas décadas. E não se pode dizer que as empresas do sector não estão familiarizadas com a Inteligência Artifical. A IA “tradicional” – isto é, aquilo a que chamamos agora soluções impulsionadas por IA antes da chegada da IA generativa – tem sido adoptada de forma sofisticada em toda a cadeia de valor do sector há vários anos. Mas a nova era da IA generativa é diferente, e o seu potencial é imenso.

E a realidade que observamos junto dos nossos clientes na Europa vai desde a configuração de provas de conceito muito concretas, passando por iniciativas de grande escala para identificação de use cases de negócio, até à constituição de equipas multi-disciplinares com mais de 100 pessoas, envolvendo a Microsoft e outros parceiros, para implementarem soluções baseadas na IA generativa. Em Portugal, podemos adiantar que 8 em cada 10 dos nossos clientes estão a fazer uso de Azure OpenAI Services, em alguns casos com acesso ao modelo mais evoluído, o GPT-4, e a prepararem-se para escalar as provas de conceito bem sucedidas, planeando a reserva de capacidade de processamento a breve prazo.

É verdade que ainda estamos a dar os primeiros passos neste domínio, mas a dinâmica geral tem sido fascinante. Um relatório da McKinsey refere que a tecnologia pode gerar um valor acrescentado entre os 200 mil milhões e 340 mil milhões de dólares adicionais por ano, se os casos de utilização forem progressivamente implementados no sector da Banca. E este destaca-se como o sector com maior potencial logo a seguir ao sector da Alta Tecnologia. Mas também no sector dos Seguros, com um potencial estimado de 50 a 70 mil milhões de dólares, há um ritmo que aponta para uma transformação maior.

Oportunidades criadas pela IA generativa

Mas o que irá (ou já está) a mudar com a adopção da IA generativa nestes sectores?

Começando pelo back office, onde se vai centrar o processo de “ganhar confiança” relativamente à tecnologia, as aplicações em destaque passam por:

  1. detecção de fraude em tempo real,
  2. nova capacitação das funções anti-branqueamento de capitais / know your customer,
  3. e um patamar de grande produtividade no processamento e concessão de crédito / subscrição de seguros.

Mas, numa segunda fase, a transformação trará os maiores benefícios (e uma diferenciação real do negócio para os pioneiros) no front office e, muito marcadamente, nas funções com interacção com os clientes:

  1. oferta de produtos e serviços adaptados com base nas necessidades e comportamentos dos clientes,
  2. guia na contratação / subscrição destes produtos ou aconselhamento financeiro por assistentes virtuais com uma “experiência humana”,
  3. e conteúdos de valor acrescentado nas funções de planeamento financeiro, visão das transacções e alertas associados.

É nestes blocos das cadeias de valor que a pesquisa semântica e a interface de linguagem natural, permitem aos clientes e intermediários extrair informação precisa a partir de vastas quantidades de dados.

Quais os próximos passos?

Com a IA generativa, prevemos uma incrível onda de inovação no Sector Financeiro que não só transformará a forma como as empresas operam, mas também abrirá novos mercados e oportunidades de receita. Para isso, será fundamental que tenham em consideração os seguintes passos:

Criar experiências atrativas com copilotos. As novas aplicações, ou mesmo as que já existiam, começarão a incorporar a IA generativa, sendo provável que os copilotos se tornem indispensáveis às experiências quotidianas dos colaboradores e dos clientes. O copiloto estará lá para os apoiar e trabalhar, sob o comando dos humanos.

Aumentar o impacto do negócio com os dados. Espera-se que a IA revolucione o processo de transformação de dados em informações e acções. Como resultado, promete libertar os colaboradores para que estes se concentrarem mais na criação de valor para as suas empresas e clientes.

Permitir casos de utilização mais sofisticados. Os plug-ins também serão fundamentais para o Sector Financeiro, uma vez que os programadores e os fornecedores independentes de software (ISV) procuram fornecer soluções para aumentar os modelos linguísticos de grande dimensão, visando casos de utilização como a análise quantitativa.

Impulsionar o valor do negócio com soluções compatíveis. Com a ajuda de ferramentas como o Responsible AI Dashboard da Microsoft e o Azure AI Content Safety, as empresas poderão desenvolver os seus testes iniciais antes de passar para produção, estabelecendo as proteções adequadas para cumprir os requisitos internos e regulamentares.

Em suma, independentemente do ponto de partida ou da ambição, para que consigam prosperar nesta nova era, será fundamental que adotem uma abordagem crawl-walk-run e que pensem na IA generativa como uma forma de conseguir ganhos incrementais ao nível da eficiência operacional numa fase inicial, evoluindo para ambições mais transformadoras ao longo do tempo. O que podemos garantir é que esta tecnologia vai fazer toda a diferença e começar a impulsionar o sector dos Serviços Financeiros.

Nota: O autor não escreve segundo o novo acordo ortográfico.

  • Ricardo Jerónimo dos Santos

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