S&P 500 tem melhor desempenho em dois anos dos últimos 25. E agora?
A concentração de investimento global nas bolsas americanas, especialmente nas ‘Mag 7’, levanta preocupações sobre uma possível sobrevalorização dos mercados acionistas dos EUA
O S&P 500 registou uma valorização de mais de 23% em 2024, após um aumento de 24% em 2023. Estes ganhos consecutivos superiores a 20% representam o melhor desempenho do índice desde 1997 e 1998. Em 2024, o índice alcançou 57 fechos em máximos históricos, enquanto a economia norte-americana se manteve saudável, impulsionada pela valorização das grandes tecnológicas ligadas à inteligência artificial (IA) e suportada por uma política fiscal expansionista, refletida no défice orçamental de 6,3%.
Desde 2011, o S&P 500 multiplicou o seu valor por quase seis vezes, mas os lucros das empresas do principal índice acionista dos EUA nem sequer triplicaram no mesmo período. Esta disparidade entre valorização e resultados reflete-se num “paradoxo”, onde o aumento das taxas de juro não travou a subida do PER (Price-to-Earnings Ratio) como seria esperado. Normalmente, taxas de juro mais altas incentivam os investidores a optarem por alternativas mais atrativas às ações, como obrigações ou outros instrumentos de rendimento fixo, como depósitos a prazo. Além disso, essas taxas aumentam os custos das empresas, pressionando os seus lucros. Juros mais elevados impulsionam os encargos financeiros das empresas, diminuindo, assim, os seus lucros, penalizando as cotações das empresas. No entanto, o gráfico da “Evolução dos lucros trimestrais por ação do S&P 500” e o “PER do S&P 500 vs Taxas de juro” (círculo 1 e 2 corroboram esse “paradoxo”), mostram que, apesar da subida das taxas de juro, as ações continuaram a valorizar.
O Paradoxo do PER e a influência da IA
Entre 2019 e 2024, o S&P 500 valorizou quase 135% (ver quadro), enquanto os seus lucros aumentaram apenas 47,4%. Este desfasamento foi impulsionado pela ascensão da inteligência artificial no final de 2022, que criou uma nova dinâmica nos mercados, permitindo um PER do S&P 500 mais elevado. Atualmente, ou seja, no final de 2024, o PER do índice S&P 500 situa-se em quase 24, muito acima da média histórica de 15-16 vezes os lucros. Embora inferior ao pico das dotcom em 1999-2000, este PER elevado é sustentado pela esperança de um crescimento futuro impulsionado pela IA. Corrigido pela inflação, o Shiller CAPE (Cyclically Adjusted Price-to-Earnings Ratio) ajustou o PER com base nos lucros médios dos últimos 10 anos. A média histórica deste indicador é de aproximadamente 17, semelhante aos números anteriores.
No entanto, as perspetivas para 2025 indicam um cenário mais desafiador. A Fed, em dezembro, reviu em baixa as suas expectativas de cortes das taxas de juro de setembro, passando de quatro para apenas dois cortes em 2025. Isto pode dificultar a continuação da valorização do S&P 500, especialmente num contexto em que os lucros esperados para as empresas não acompanham o ritmo valorização das cotações.
Mag 7: Sustentabilidade ou sobreavaliadas?
As ‘sete magníficas’ (Tesla, Nvidia, Apple, Microsoft, Amazon, Meta e Alphabet) têm desempenhado um papel central na valorização do S&P 500. As perspectivas de lucros das ‘sete magníficas’ (Mag 7) têm vindo a aumentar, como mostra o gráfico das ‘Mag 7 vs perspetivas de lucros trimestrais’. Este crescimento justifica, para muitos investidores, a valorização contínua do S&P 500. Contudo, é importante notar que, enquanto o índice do ‘Mag 7’ valorizou quase quatro vezes, mais precisamente 270%, as perspetivas trimestrais para os lucros destas empresas nos próximos cinco trimestres subiram apenas entre 50% e 70% nos últimos dois anos.
O gráfico da “‘Mag 7’ vs perspetivas de lucros trimestrais”, confirma que as expectativas para os lucros no primeiro semestre de 2025 são mais fracas, antecipando uma descida face ao último trimestre de 2024, podendo comprometer um início de ano mais favorável para o S&P 500.
Além disso, a concentração de investimento global nas bolsas americanas, especialmente nas ‘Mag 7’, levanta preocupações sobre uma possível sobrevalorização dos mercados acionistas dos EUA, trazendo à memória possíveis paralelos com a bolha das dotcom. Embora os lucros sejam mais sólidos e o PER esteja abaixo dos níveis daquela época, a concentração de investimento nos EUA é uma crescente fonte de inquietação, ampliando os riscos. Será a Nvidia a nova Cisco ou Intel de 2000? Será que o hype da IA é semelhante à mania da internet?
Riscos para o S&P 500 em 2025
O futuro do S&P 500 permanece incerto. Embora as perspetivas para os lucros das empresas do índice tenham diminuído desde meados de 2024, o índice continua a valorizar, sustentado pela expectativa de descida das taxas de juro e pelo otimismo em torno da IA. Contudo, o risco de contágio global, devido à concentração de investimento nos mercados acionistas dos EUA, é real. Um crescimento do PIB dos EUA de apenas 1% poderia desencadear uma correção mais visível nos mercados acionistas.
Além disso, as taxas de juro elevadas continuam a representar um desafio. Apesar do otimismo atual, as empresas enfrentam encargos financeiros mais altos, o que pode limitar a expansão dos lucros. Este cenário reforça a importância de analisar cuidadosamente a sustentabilidade das valorizações recentes, especialmente num contexto de incertezas económicas.
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