Startups industriais, precisam-se!

  • Paulo Bandeira
  • 27 Novembro 2017

É importante criar o espaço para que as boas investigações que saem das faculdades de engenharia portuguesas possam resultar em startups industriais de sucesso.

Olhamos para o ecossistema de startups em Portugal e dá por vezes a ideia que estão todos os empreendedores muito concentrados em projetos de matriz muito idêntica: como facilitar a vida das pessoas através de uma app! Enchem-se as incubadoras de equipas que procuram desenvolver novas apps e novos marketplaces, procurando aproximar e intermediar o pouco da nossa vida que ainda não foi intermediado e que ainda não está disponível no nosso smartphone.

Qualquer dia parece que vivemos no nosso smartphone (há, aliás, um sketch muito engraçado da Porta dos Fundos sobre isso mesmo que podem ver aqui. Mas não vivemos. É cada vez mais verdade que as maiores empresas do mundo são empresas do setor digital (Facebook, Google, Amazon, Alibaba, etc., e já não a General Motors), mas continuamos (felizmente) a viver num mundo material e isso quer dizer que o nosso mundo real continua a precisar de inovação e desenvolvimento, seja na invenção de novos produtos ou no melhoramento dos produtos existentes.

É aqui que existe uma falha muito grande em Portugal e um pouco por essa Europa fora. Não existem incubadoras industriais no número que devia existir.

A explicação para isso é simples. Uma incubadora industrial apresenta um custo de estruturação muitíssimo mais caro que uma incubadora normal (boa parte destas últimas são um cowork com mentoria, com custos muito limitados, portanto), porquanto exigem investimento em maquinaria e equipamento diverso e dispendioso. Para além disso, existe uma multiplicidade de indústrias com uma multiplicidade de desafios muito diferentes entre si, o que não facilita a criação destas estruturas.

Não surpreende, por isso, que a única verdadeira incubadora industrial em Portugal seja a CEIIA, onde se trabalha para o desenvolvimento de soluções de mobilidade, com relevo para o automóvel. Há que mudar esta realidade. O desenvolvimento e a modernização da indústria portuguesa dependem, também, da concretização deste desiderato.

Os esforços existentes no desenvolvimento de startups de base industrial são muito dispersos. Existem empresas que concretizam parcerias com faculdades de engenharia, outras desenvolvem departamentos de inovação internos, algumas associações empresariais procuram também a ligação à academia, mas são sempre esforços isolados que raramente dão frutos escaláveis.

Importante seria que todas estas entidades juntassem forças e agregassem ainda as autarquias para a criação destas estruturas que poderão beneficiar em muito a indústria portuguesa. É, naturalmente, um esforço que tem de ser suportado pelo Governo, mas que pode beneficiar muito de apoios financeiros da União Europeia na sua concretização.

Há naturalmente indústrias óbvias onde a criação de incubadoras industriais são necessárias, a começar pelos moldes, passando pelo têxtil, pelos derivados da silvicultura ou até pela indústria extrativa (com destaque para o grande futuro da exploração pedreira em Portugal, por exemplo).

O facto de algumas das startups que mais brilharam este ano na Web Summit serem de base industrial (com a “nossa” Glartek a destacar-se, conforme tive a oportunidade de ressaltar no meu artigo de há quinze dias) pode e deve servir de inspiração para o investimento nesta área.

O digital vai continuar a desenvolver-se nos próximos anos, mas a nossa realidade vai continuar a ser industrial. É importante não descurar o investimento nesta área e criar o espaço para que as boas investigações que saem das faculdades de engenharia portuguesas possam resultar em startups industriais de sucesso.

  • Paulo Bandeira
  • Sócio da SRS Advogados

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