Sucessão, a chave da preservação virtuosa de grupos familiares
A sucessão é o maior desafio ao futuro de um grupo familiar e a sua gestão exige um profundo compromisso do líder: não chega que seja uma prioridade, tem de ser a sua primeira prioridade.
A sucessão é talvez a etapa mais difícil de gerir num grupo familiar e existem fortes semelhanças com os desafios de uma monarquia quando chega o momento. A História inspira-nos com o caso de grandes monarcas que perceberam que sem uma preparação abnegada da sua sucessão a preservação das suas posses, do seu legado, da sua linhagem e do seu próprio reino estariam em risco. E mostra o desastre que pode acontecer sem uma sucessão clara e planeada. Um famoso caso da Antiguidade Clássica é um ilustrativo perfeito — porque um dos maiores impérios da História se ergueu e se deixou destruir em duas gerações apenas.
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Filipe II da Macedónia é considerado um dos maiores monarcas de sempre — funda o primeiro estado territorial europeu, monta o primeiro exército ocidental moderno, expande a cultura helenística e transforma o fragmentado mapa de Cidades Estado da Europa Oriental num império. Guerreiro extraordinário, sobreviveu a cinco ferimentos graves em batalha. Mas a sua maior obra e que fez dele um monarca completo foi a sucessão para o filho, Alexandre, o Grande.
Alexandre já exibira em criança sinais que o cativaram o pai e já com o filho adolescente Filipe II traz Aristóteles de Atenas que serve de tutor a Alexandre durante três anos, transmitindo-lhe a grandeza da civilização helénica cuja admiração o acompanharia até à morte.
A sucessão é um processo longo, delicado, trabalhoso, exigente e que não pode ser determinado por emoções ou preferências subjetivas, por exemplo parentais “tem de ser o meu filho/a”.
Aos 20 anos, com a morte do seu pai, Alexandre ascende ao trono e o seu espírito fugaz, destemido e hiperativo e a extraordinária máquina militar macedónia leva-o a lançar-se numa campanha de expansão do império onde cada conquista só tem um objetivo — preparar a próxima conquista. Em pouco anos, as campanhas de Alexandre, o Grande transformam o legado territorial do pai no mais vasto império territorial da História: um domínio quase dez vezes maior, das costas do mar Jónico à Índia, com novas cidades e estruturas governativas dedicadas à difusão da cultura ateniense.
Não obstante, aos 32 anos Alexandre morre de doença sem deixar sucessores. Acabou por não estar à altura do pai, não deixa sucessor e o seu império acaba desmantelado em menos de um ano. Moral: o maior império nasce e morre entre a sucessão perfeita e a sucessão falhada.
A sucessão é um processo longo, delicado, trabalhoso, exigente e que não pode ser determinado por emoções ou preferências subjetivas, por exemplo parentais “tem de ser o meu filho/a”. A importância da sucessão obriga a que seja assumida como uma prioridade máxima do presidente e dos acionistas da geração atual. Uma prioridade à escala da sustentação da unidade acionista ou desenvolvimento estratégico do negócio e do seu valor.
As melhores práticas demonstram que assumir essa prioridade no terreno passa essencialmente por cumprir cinco princípios ou condições:
1. Proximidade e transparência no seio da Família: dar a visibilidade necessária às estrelas NextGen permitindo aos acionistas criar uma opinião isenta, objetiva e sem viés.
2. Elevado perfil e competências de candidatos: percurso académico de topo, carisma, perfil de liderança, ambição, compromisso para dedicar a vida profissional ao grupo fortalecendo o legado.
3. Seleção e grooming cuidadoso de candidatos: acionistas escolhem os candidatos, definem o processo e propõem cursos de pós-graduação e estágios em empresas estrangeiras.
4. Escolha e preparação final do sucessor: o líder propõe aos acionistas o sucessor e o racional de suporte, vota-se e define-se a carreira interna de topo no Grupo com mentores — sucessor que pode vir de fora se nenhum candidato provou a sua valia.
5. Transição de liderança eficaz: inclui calendário de transferência de poderes, novo papel do atual presidente assegurando o espaço do sucessor ou a comunicação externa do novo líder para fortalecer e resguardar o equity do grupo.
Em síntese, a sucessão é o maior desafio ao futuro de um grupo familiar e a sua gestão exige um profundo compromisso do líder: não chega que seja uma prioridade, tem de ser a sua primeira prioridade.
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