Tentar adivinhar para onde vai o mercado não funciona

Entre os maiores erros dos investidores está a tentação de fazer market timing, isto é, adivinhar qual o melhor momento para entrar e sair do mercado. Não só não funciona como pode correr muito mal.

Ninguém nasce ensinado. Mas há quem aprenda com os erros. Outros que passam uma vida inteira a “bater com a cabeça nas paredes”. No mundo da bolsa, estes dois perfis de investidores encontram-se a toda a hora e o resultado acaba, na maior parte das vezes, por favorecer o primeiro.

Entre os maiores erros dos investidores está a tentação de fazer market timing, isto é, adivinhar qual o melhor momento para entrar e sair do mercado.

A ambição é alcançar o máximo lucro seguindo o velho cliché buy low, sell high (comprar na baixa e vender na alta do mercado), tantas vezes repetido no universo financeiro. Antes que o leitor seja mais um investidor que vá ao engano, tome nota do seguinte: o market timing não funciona. E não é só porque ainda não há tecnologia que faça jus ao refrão da célebre música de António Mourão “Ó Tempo Volta para Trás”.

Imagine que há uns meses se assustou com as quedas repentinas das bolsas e vendeu todas as suas posições, colocando depois todo o dinheiro num depósito a prazo, na esperança de voltar ao mercado quando o “pior tiver passado”.

Parece uma estratégia razoável. No entanto, esperar pelo momento certo significa também perder alguns dos melhores dias do mercado, o que numa estratégia de investimento de longo prazo faz uma grande diferença.

De acordo com uma análise do JP Morgan ao desempenho do principal índice acionista norte-americano (S&P 500) nos últimos 21 anos, um investidor que tivesse perdido os melhores 10 dias do ano teria alcançado ganhos de 5,3% ao ano. Mas se não tivessem feito nada e permanecido durante todo este tempo no mercado quieto teria ganho 9,5% ao ano.

Para que uma estratégia de investimento tenha sucesso não é preciso estar sempre a comprar ou a vender posições. O importante é tomar opções bem pensadas sobre determinado ativo e manter o caminho durante o máximo tempo possível. Isso também é válido na hora de escolher um fundo de investimento.

De acordo com o reconhecido estudo “Análise quantitativa do comportamento do investidor”, publicado anualmente pela Dalbar há 30 anos, que analisa o comportamento dos investidores na tomada de posições em fundos de investimento, verifica-se que o ganho obtido pelos investidores nestes ativos tem ficado constantemente abaixo dos seus índices de referência.

À primeira vista poderíamos pensar que as diferenças seriam causadas pelas comissões cobradas pelos fundos, sobretudo se tratassem de fundos de índice. Mas é muito mais que isso.

Num período de 30 anos terminado em 2021, um investidor médio que tenha investido em fundos de obrigações terá ganho apenas 0,34% ao ano, enquanto o índice que agrega várias obrigações (BarCap Aggregate) valorizou 5,29%.

No caso das ações, os investidores que nas últimas três décadas apostaram em fundos de investimento de ações norte-americanas ganharam, em média, 7,13% por ano, enquanto o S&P 500 subiu 10,64%. Embora as comissões penalizem o desempenho dos fundos, a Dalbar revela que estes custos representam menos de 1% dos rácios de despesas dos fundos.

A razão principal da diferença de desempenhos é explicada pela demasiada frequência com que os investidores compram e vendem os seus fundos. Resultado: não só os ganhos alcançados são parcialmente engolidos pelos impostos, como também correm o risco de muitas vezes acabarem por comprar quando o mercado está em máximos e venderem quando o mercado está em mínimos. Foi isso que aconteceu a muitos dos investidores que entre 1977 e 1990 investiram Magellan, o popular fundo da Fidelity, gerido neste período por Peter Lynch.

Apesar de ao longo destes 13 anos o fundo ter alcançado uma rendibilidade extraordinária de 29% por ano, o investidor médio do fundo perdeu dinheiro. Por ventura, muitos deles investiram em 1980 quando o fundo obteve uma rendibilidade de 70% e foram incapazes de se manter fieis à sua decisão nos anos seguintes, acabando por vender as unidades de participação que detinham em anos em que o fundo ficou abaixo da média do mercado ou mesmo quando apresentou perdas significativas.

A conclusão de todos estes estudos e estatísticas é que “prever o mercado é uma perda de tempo”, como defende o mítico investidor. O segredo de uma estratégia de investimento vencedora está em comprar um bom ativo e mantê-lo por muito tempo.


Texto adaptado da quarta edição do Portefólio Perfeito, a newsletter de finanças pessoais do ECO. Convido-o por isso a subscrever o Portefólio Perfeito e a escrever-me (luis.leitao@eco.pt) sobre questões relacionadas com impostos, produtos bancários, investimentos ou qualquer outro tema relacionado com as suas finanças. Procurarei sempre dar-lhe uma resposta que possa contribuir para fortalecer as suas finanças pessoais.

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