Elina Fraga? Todos os líderes do PSD têm o Miguel Relvas que merecem

Rui Rio tem Elina Fraga. A nova vice-presidente do PSD que acabou de dizer que o Governo de António Costa a “repugna por ser de esquerda”.

A escolha de Elina Fraga para o cargo de vice-presidente do PSD foi um erro político de todo o tamanho. Uma parte do PSD, e uma parte do país, olha para Elina Fraga e vê aquilo que Marques Mendes viu na ex-bastonária da Ordem dos Advogados: “uma populista”.

Se o objetivo de Rui Rio foi recentrar o partido muito colado à direita, chamar Elina Fraga para um cargo de topo no PSD é como colocar um elefante no prato de uma balança que apenas precisava de ser calibrada em alguns gramas.

O país ouviu falar de Elina Fraga pela forma altamente corporativista como desempenhou o seu cargo de bastonária, pela polémica do ordenado de 8.730 euros que recebia na Ordem, por ter sido condenada a uma pena de censura por parte do Conselho Superior da Ordem dos Advogados e pelas frases bombásticas, demagógicas e populistas que proferiu quando o pé lhe fugia para a política, como “Hoje há fome e existe miséria em Portugal” ou a “Escandalosa privatização da justiça”.

Foi este currículo que, aparentemente, seduziu Rui Rio que a apresentou no Congresso como vice-presidente do partido, tendo Elina Fraga conseguido a proeza de ser a única a ser apupada numa reunião que deveria ser de consagração da nova liderança. É caso para dizer que todos os líderes do PSD têm o Miguel Relvas que merecem, ou seja, alguém cuja lealdade do líder carece de uma explicação racional ou válida, a não ser uma vontade politicamente mórbida de enterrar o partido.

A deselegância para com Hugo Soares

Para um líder que diz querer unir o PSD, escolher Elina Fraga é como tentar colar com cuspo os cacos de uma derrota autárquica e de um campanha renhida pela liderança do partido.

Paula Teixeira da Cruz, ao Observador, falou em “traição” e afirmou que aqueles que “criticaram e atacaram Pedro Passos Coelho e o seu Governo nas horas mais difíceis estão agora a ser premiados”. Para quem não se lembra, Elina Fraga apresentou uma queixa-crime junto da PGR por atentado ao Estado de Direito contra todos os membros do Governo PSD/CDS que estiveram presentes no Conselho de Ministros que aprovou alterações ao mapa judiciário.

A mesma Paula Teixeira da Cruz que esta semana saiu em defesa de Hugo Soares, considerando que a sua continuação como líder da bancada parlamentar seria “um sinal de união do partido”.

Rui Rio tem toda a legitimidade para escolher ou sugerir o seu próprio líder parlamentar. Só que o episódio desta semana de deixar Hugo Soares de fora da reunião da Comissão Política Nacional, onde tem lugar por inerência do cargo, que ainda é dele, foi um sinal de mesquinhez e deselegância para com quem, bem ou mal, teve a tarefa ingrata de carregar o partido às costas durante o período de vazio de poder, entre a saída de Passos e a chegada de Rio.

A culpa é dos jornalistas e do Bugs Bunny

Voltemos a Elina Fraga que tem ocupado todos os palcos desde o Congresso do PSD de domingo e não necessariamente por boas razões. Não deixa de ser caricato que a primeira conferência de imprensa do novo PSD tenha sido para ouvir, durante 15 penosos minutos, Elina Fraga a tentar explicar o inquérito que a PGR mandou abrir na sequência de uma auditoria às contas da Ordem dos Advogados, que terá detetado várias irregularidades de gestão.

Infelizmente, Elina Fraga escolheu ir pelo caminho mais fácil e opaco da teoria da conspiração. Numa entrevista à SIC, esta terça-feira à noite, o jornalista pergunta a Elina Fraga: “Afinal, quem é que a quer tramar?”. Ao que a vice-presidente do PSD dá esta resposta, digna de um boneco animado:

O Bugs Bunny é que não é com certeza. O que lhe posso dizer é que no dia subsequente à minha eleição como vice-presidente do PSD, toda a comunicação social, toda, sem exceção, de repente, lembrou-se que havia uma auditoria que tinha sido remetida para a Procuradoria Geral de República”:

Mais à frente acrescenta: “A minha convicção é que que foram feitos alguns telefonemas no sentido de dar esta notícia.”

A ligeireza das acusações feitas por Elina Fraga aos jornalistas é ofensiva e, ainda por cima, feita com base em “convicções” e não em factos. Isto vindo de alguém que vem da área da Justiça. Os jornalistas, de facto, “de repente, lembraram-se”, e o ECO foi o primeiro a dar a notícia, porque Elina Fraga, tal como todos os que escolhem ir para a vida política, têm de se sujeitar a um escrutínio público.

“Um Governo que repugna por ser de esquerda”

A entrevista à SIC termina com os jornalistas a perguntaram a Elina Fraga se colocaria a hipótese de demissão, ao que a ex-bastonária responde: “A única questão que me pode empurrar para uma demissão é sentir que aquilo que me levou a aceitar o convite do Dr. Rui Rio, que foi cooperar com ele para apresentar uma verdadeira alternativa a este Governo, a um Governo que me repugna por ser de esquerda, … Se a pessoa que me convidou perder a confiança, aí sim obviamente que me demitiria”.

“Um Governo que me repugna por ser de esquerda”? Uma frase miserável, antidemocrática, intolerante, incendiária e repugnante para ser dita numa democracia como a nossa. É com este Governo que “repugna” que o PSD quer fazer entendimentos e acordos de regime? Quando o maior partido da oposição for reduzido a uma condição de insignificância, o que é mau para a alternância democrática, não venham dizer que a culpa é do Bugs Bunny.

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