Tomei uma boa decisão como CEO? Pergunte ao Amália

A IA parece estar igualmente a substituir o papel de conselheiro humano: 74% dos executivos confiam mais na IA para obter aconselhamento que na opinião de familiares e amigos.

Quando tudo parecia indicar que o Amália iria ficar pelo caminho com a ida do país para eleições, o Governo apressou-se a garantir que a promessa de Luís Montenegro, na última Web Summit, de um modelo de linguagem em grande escala (LLM, na sigla em inglês) em português até ao final do primeiro trimestre, era para cumprir. Mesmo com o adiamento da Agenda Nacional para a Inteligência Artificial — que garantidamente transitou para a próxima legislatura com a queda do Governo —, Portugal poderia celebrar o seu ‘ChatGPT’ no final de março. Pelo menos numa versão beta, num projeto a 18 meses, financiado com 5,5 milhões de euros do Plano de Recuperação e Resiliência.

No momento em que escrevemos estas palavras, ainda não testámos o Amália (aliás, depois do fecho deste artigo para a edição de abril do ECO magazine foi sabido que o grande público só poderia testar o LLM no final de junho de 2026) — projeto que encerra em si a visão de, num mundo tecnológico dominado pela americana OpenAI ou a chinesa DeepSeek, “contribuir para a preservação da soberania nacional, distinguir as diferentes variantes da língua portuguesa e reconhecer elementos da cultura e história de Portugal” —, mas a fazer fé nas garantias de um Executivo em modo de gestão, serão ‘boas notícias’ para um público inesperado: os CEO.

A IA parece estar igualmente a substituir o papel de conselheiro humano: 74% dos executivos confiam mais na IA para obter aconselhamento que na opinião de familiares e amigos.

Que a inteligência artificial (IA) vai (e está a) revolucionar o mundo do trabalho não há grandes dúvidas. E a nova grande aposta são os Agentes IA, um passo em frente nesta tecnologia já que, em teoria, podem agir de forma independente e proativa, atingir objetivos com diretrizes amplas ou desempenhar múltiplas funções — desde pesquisar bases de dados à aprovação de transações — sem intervenção humana. Assim, suponhamos, em vez de pesquisar num motor de busca por um fornecedor, poderá instruir um Agente IA para o localizar, analisar as opções e fechar a transação, tudo na mesma plataforma.

A tecnologia ainda não está nesse nível de autonomia, mas não faltam casos de uso de IA com elevados níveis de ganhos de produtividade. Na Amazon o uso de agentes autónomos resultou em poupanças anuais de 260 milhões de dólares; na Salesforce os ganhos de 30% na produtividade alcançados com o recurso a IA levou a que a tecnológica optasse por não contratar mais engenheiros em 2025. O nível de expectativa é tal que, até 2030, o fundo Ark Investments estima que os Agentes IA irão gerar 9 biliões de vendas de ecommerce, e a BCG espera que, daqui a cinco anos, esse mercado de IA gere 52 mil milhões de dólares em receita, cerca de dez vezes mais que os 5,7 mil milhões de receitas obtidas em 2024, noticia a Reuters.

IA: a nova Deus ex machina

Com os biliões injetados anualmente nesta tecnologia — só no primeiro trimestre de 2025 foi uma catadupa de investimento anunciado dos dois lados do Atlântico — não faltam expectativas em seu torno, quiçá demasiado sonhadoras. A começar junto dos empresários. Um recente inquérito realizado pela Wakefield Research, para a SAP, junto a 300 líderes de empresas com receitas anuais superiores a mil milhões de dólares nos Estados Unidos, dá que pensar.

Mais de um terço dos executivos (39%) vê na IA benefícios para um melhor equilíbrio entre a vida profissional e pessoal; outro tanto (38%) relata melhorias no seu bem-estar mental e 31% dizem ter reduzido os níveis de stress. Parece que a IA está a atuar como uma espécie de ‘Xanax tecnológico’.

Mais parece que a IA está a assumir contornos de Deus ex machina que, tal como nas tragédias gregas, irá descer no palco das empresas e resolver todos os problemas. Nada que inspire conforto. Afinal todos sabemos como terminam as tragédias gregas.

Mas outros dados do “AI Has a Seat in the C-Suite” deveriam deixar-nos a todos menos tranquilos. A começar pela confiança quase cega que inspira. Para mais da metade dos líderes inquiridos (52%), a IA é a ferramenta mais fiável para analisar dados e recomendar decisões. Além disso, 48% confia na IA para detetar riscos ou problemas previamente não considerados, enquanto 47% a utiliza para sugerir planos alternativos. A IA está também a ser amplamente adotada em diversas áreas, como o desenvolvimento de produtos (40%), o planeamento orçamental (40%) e estudos de mercado (40%).

A IA parece estar igualmente a substituir o papel de conselheiro humano: 74% dos executivos confiam mais na IA para obter aconselhamento que na opinião de familiares e amigos, e mais de metade (55%) trabalha em empresas onde o conhecimento orientado por IA substitui ou, frequentemente contorna, a tradicional tomada de decisão, sobretudo em empresas com receitas superiores a 5 mil milhões de dólares. Um sounding board diário com a tecnologia para 48% executivos, com 15% a recorrer à IA várias vezes… por dia.

Mais parece que a IA está a assumir contornos de Deus ex machina que, tal como nas tragédias gregas, irá descer no palco das empresas e resolver todos os problemas. Nada que inspire conforto. Afinal todos sabemos como terminam as tragédias gregas.

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