Transformar Portugal: Uma nova década pela frente

Perdemos 20 anos mas temos a oportunidade de não perder a próxima década. O novo Plano de Recuperação e Resiliência traz uma enorme responsabilidade ao país para que se alcancem melhores resultados.

79,2%. Esta é a riqueza média por habitante em Portugal, corrigida em paridade de poder de compra, face à média da União Europeia, em 2019. Em 2000 esse número era 85,3%. E em 2010 era de 82,9%. Divergimos. Portugal não conseguiu convergir. É verdade que a última crise teve um impacto severo em Portugal. Mas ainda não conseguimos recuperar o nosso nível de poder de compra.

Portugal apresentou, nos últimos 20 anos, dificuldades estruturais em conseguir convergir com os seus pares europeus. Falamos sempre na necessidade de melhor capacitar a nossa força de trabalho, mas não nos conseguimos aproximar dos países líderes em termos de competências e qualificações. Falamos sempre em aumentar ou atrair investimento, mas Portugal é hoje um dos países com valores mais baixos de formação bruta de capital fixo em percentagem do PIB. Falamos de tornar Portugal mais atrativo para as empresas e o empreendedorismo mas os nossos custos de contexto continuam elevados. No relatório “Doing Business 2020”, do Banco Mundial, Portugal é 39º no mundo. O tempo passa, as estratégias e as boas intenções surgem, mas o país tem dificuldade em obter melhores resultados.

Perdemos 20 anos mas temos a oportunidade de não perder a próxima década. O novo pacote de fundos do Plano de Recuperação e Resiliência traz uma enorme responsabilidade ao país para que se alcancem melhores resultados. Só o Mecanismo de Recuperação e Resilência disponibiliza 13,9 mil milhões de euros ao nosso país em subvenções a fundo perdido, aos quais ainda acrescem quase 30 mil milhões do novo Quadro Financeiro Plurianual. É o maior pacote de medidas de estímulo de sempre, não só na União Europeia, mas também em Portugal. E é mais uma oportunidade que o nosso país enfrenta para garantir melhores resultados.

E o que fazer para realmente chegarmos a melhor resultados? Muito poderia ser dito, mas fico-me apenas por três sugestões.

  • Primeiro que tudo, definir o que queremos alcançar. Centrar o discurso nos resultados. Falemos de objetivos e indicadores. Falemos de sermos pelo menos tão prósperos e desenvolvidos como os nossos pares na União Europeia. Saibamos colocar o essencial no centro das nossas questões, e esse essencial é melhorar a vida de todos nós.
  • Em segundo lugar, falemos do processo. Falemos que para sermos melhores precisamos de trabalhar com os melhores. Precisamos das melhores pessoas, dos nossos melhores cérebros, nos lugares certos. Precisamos de renovar lideranças e inspirar equipas. E como isso é difícil fazê-lo na esfera pública, pelas razões que todos sabemos, então precisamos mesmo é de aproximar as esferas públicas e privadas na nossa economia. Precisamos estabelecer acordos de cooperação e colaboração entre público e privado. Os privados são uma parte fundamental no processo de criação de riqueza. E o público é fundamental para gerir equilíbrios, regular os mercados e preencher as falhas dos mesmos. O público não deve substituir o privado nem o privado o público. Mas os dois têm de trabalhar em conjunto. É mais do que tempo de se concretizar a reforma da contratação pública, e aumentar os limites da contratação para que os privados possam apoiar a transição digital e climática em Portugal e apoiar a transformação da Administração Pública e do país.
  • E em terceiro lugar, é necessário avaliar os processos e monitorizar o cumprimento dos resultados. É necessária transparência e rigor nestas avaliações e colocar as entidades públicas, seja o Tribunal de Contas ou as diferentes Inspeções Gerais, a realizar estas monitorizações. Só com avaliação objetiva e baseada em factos se consegue promover a melhoria contínua.

Esta próxima década traz-nos a oportunidade e a responsabilidade de obtermos melhores resultados para Portugal. E só dando o melhor de nós podemos ter mais sucesso. Na Accenture vivemos intensamente esta cultura de darmos o melhor de nós pelos nossos clientes e pelo nosso país. E como a Administração Pública vai ter um papel fundamental no relançamento da economia e na gestão do financiamento comunitário, caberá à Administração Pública procurar o melhor talento e as melhores capacidades na esfera privada da economia e utilizá-los para concretizar a verdadeira transformação de Portugal.

  • Colunista Convidado. Senior Manager, Strategy & Consulting da Accenture

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