Transformar Risco em Valor

  • Nuno Oliveira Matos
  • 20 Abril 2025

Nuno Oliveira Matos considera que não é a falta de capital que destrói empresas de seguros. É a ilusão de que o risco está sob controlo, quando, na verdade, nunca esteve!

No cenário dinâmico e regulatório do setor segurador, o capital económico emerge como uma ferramenta indispensável na gestão de riscos e criação de valor. Mais do que um mero indicador financeiro, representa a linha de defesa contra eventos adversos imprevisíveis, equilibrando resiliência e eficiência, num mercado crescentemente competitivo.

No coração da gestão de riscos reside a distinção entre perdas esperadas e inesperadas. As primeiras, inerentes à operação das empresas de seguros, são absorvidas pelas provisões técnicas e pelo rédito. Já as perdas inesperadas, aquelas que escapam à normalidade estatística, exigem uma abordagem mais sofisticada. Aqui, o capital económico destaca-se como um “guarda-chuva” protetor, capaz de cobrir oscilações adversas, exceto em cenários catastróficos, onde a acumulação de capital se torna inviável.

A solidez de uma empresa de seguros não se define pela ausência de riscos, mas pela capacidade de mensurá-los, tarifá-los e geri-los com excelência

Um diferencial crítico é o efeito das correlações. Enquanto as perdas esperadas são calculadas de forma linear, as inesperadas exigem uma análise multivariada e multidimensional. Riscos aparentemente isolados numa carteira de seguros podem, na realidade, estar interligados por correlações “ocultas”, ampliando o impacto de eventos extremos. Este fenómeno exige modelos quantitativos avançados, capazes de capturar a complexidade sistémica dos portfolios.

A verdadeira potência do capital económico reside na sua versatilidade, devendo servir como base para decisões estratégicas:

  • Pricing Ajustado ao Risco – Incorporar o custo do capital económico nos prémios puros garante que os produtos de seguros refletem o risco real, evitando subestimação de tarifas que comprometem a rentabilidade ajustada ao risco;
  • Alocação Ótima de Capital – Direcionar recursos para áreas com melhor relação risco/rentabilidade maximiza a eficiência do capital e impulsiona a competitividade;
  • Gestão do Desempenho – Ao vincular métricas de rentabilidade ajustada ao risco, como o Risk-Adjusted Return on Capital (RAROC), à remuneração dos gestores, alinha-se interesses individuais com a sustentabilidade da empresa de seguros.

Com exigências regulatórias cada vez mais rigorosas, a adoção de modelos internos robustos deixou de ser opcional. As empresas de seguros que invistam em metodologias próprias de cálculo do capital económico não apenas cumprem a lei e as normas, como, sobretudo, ganham vantagem competitiva, pois esses modelos permitem uma maior precisão na avaliação de riscos, reduzindo a necessidade de capital redundante, uma maior resiliência perante choques/crises, ao identificar vulnerabilidades antes que se materializem e um melhor governo corporativo, ao promover a transparência perante os acionistas e demais investidores, fortalecendo a confiança e o acesso aos mercados de capital.

A solidez de uma empresa de seguros não se define pela ausência de riscos, mas pela capacidade de mensurá-los, tarifá-los e geri-los com excelência. O capital económico é, assim, a âncora que transforma incertezas em oportunidades estratégicas. Num setor onde a volatilidade é inevitável, dominar este conceito não é apenas uma questão de cumprimento; é, sobretudo, o alicerce para a criação de valor sustentável.

Em última instância, no setor segurador, não é a falta de capital que destrói empresas de seguros. É a ilusão de que o risco está sob controlo, quando, na verdade, nunca esteve!

  • Nuno Oliveira Matos
  • Sócio da Carrilho & Associados, SROC

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