Vítor Constâncio: a mediocridade brilhante

Constâncio sempre se mostrou distante das pessoas e evidenciou uma soberba que na sua cabeça o colocava num pedestal no qual nunca teve estaleca para estar.

O mito de Édipo diz que matou o pai, Laio, para casar com a mãe, Jocasta. Nas lendas do passado não há nenhuma famosa que conte a história do pai que matou o filho. Teremos que retornar aos anos 80 do século passado para assistir a um homem que criou o seu descendente, o ungiu ao poder e o matou na primeira oportunidade depois de uma sova do adversário. Sim, foi Mário Soares que descobriu e promoveu Vítor Constâncio, ele era o menino de ouro do PS, alguém que todos anteviam como “the next big thing” dos socialistas, porém, caiu em pouco tempo, fruto da sua arrogância perante o vulgo e viscosidade na tomada de decisões, optando por colocar-se ao fresco em vez de meter as mãos na lama da política, onde na maior parte das vezes elas têm de andar e Soares foi o primeiro a compreender o erro que cometeu. Constâncio sempre se mostrou distante das pessoas – proximidade é algo que não faz parte do seu dicionário – e evidenciou uma soberba que na sua cabeça o colocava num pedestal no qual nunca teve estaleca para estar.

Na politica foi um desastre, contudo, a sua competência económica – que a tem – levou-o para a área financeira encontrando o seu poiso no Banco de Portugal por onde andou dois mandatos, dez anos de aparente tranquilidade na supervisão, onde viu o começo do buraco da banca portuguesa, créditos sem rei nem roque a quem não tinha património para cobrir vultuosos empréstimos, muitos para apenas especular no mercado de capitais. Roma estava a arder e ele, que aprecia música clássica, tocava lira como Nero, não por prazer em ver as chamas mas por se escudar na aparente legalidade das operações – como o disse repetidas vezes no Parlamento – para não actuar e se refugiar no fácil de não tomar decisões, algo que o acompanha como uma sombra.

Não comparo as suas prestações na comissão parlamentar com José Berardo. Este, mal aconselhado em termos comunicacionais, achava que o seu advogado resolvia tudo e entrou num deboche com os deputados mas, sobretudo, com os portugueses, achando que dava baile numa manifesta falta de respeito e consideração por uma comunidade que está farta de pagar todos os dislates de maus banqueiros, elites miseráveis e “milionários” que eram uma farsa e tudo sem consequências como já nos habituámos a constatar. Não, Vítor Constâncio apresentou a soberba de toda uma vida, acompanhada de uma falta de memória que a idade não pode desculpar. Quando se visita a Assembleia da República para esclarecer os interlocutores não se vai para uma conversa de café, logo, soa ridículo e patético reiteradamente afirmar que «não tenho a base de dados do Banco de Portugal na minha cabeça».

O resumo do Público sobre a audição ilustra tudo: «Vítor Constâncio viu o que se estava a passar no BCP, ficou preocupado, se fosse gestor (da Caixa) nem tinha dado aqueles créditos, mas a lei não o deixou actuar e confiou sempre na avaliação dos serviços do Banco de Portugal». Assim, é mais um das nossas “enormes” elites que deixa à vista de todos um magnífico cartão-de-visita. Nele podia apresentar-se, “Vítor Constâncio: mediocridade brilhante”. Temos tantos destes para consumo interno numa democracia bonita dos capitães de Abril que leva mais de 40 anos cheia de grandes figuras, porém, repleta de mácula porque os portugueses são metidos debaixo do tapete e só são usados para pagar os impostos que cobrem as trapalhadas destas insignes criaturas. Constâncio é só mais uma face da podridão de um regime caricatural.

Nota: O autor escreve segundo a antiga ortografia

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