Viúvas negras voam TAP
Nos Jardins do Palácio de Belém está uma nova instalação que representa um enorme Manguito estilizado e em cores pós-modernas. Um Manguito que exige a companhia das Viúvas Negras que voam na TAP.
O espetáculo da TAP é o retrato da República. A TAP é a empresa pública das Caravelas Voadoras em que a interferência do Governo se confunde com a União Soviética de Brejnev. Nacionaliza-se para se privatizar. Contrata-se uma CEO francesa para calar os indígenas panfletários. Manipula-se a CEO como se esta fosse um comissário político. A TAP torna-se uma extensão do Ministério que se torna uma extensão do Governo que se torna uma extensão do Partido. A incompetência política toca o absurdo da demência empresarial, despedem-se Administradores como se fossem contínuos da República, despede-se a CEO para camuflar aventureirismos políticos e no fim pagam os portugueses. Nas nuvens das indemnizações absurdas, a Ética Republicana não se aplica ao universo voador do poder do PS.
O Primeiro-Ministro é imperial no silêncio e no cinismo. A Operação TAP não tem em mente o saneamento económico de uma empresa que só deu lucro três vezes desde a fundação. A Operação TAP é o campo de batalha para a escolha do próximo líder do PS. Este cenário explica a dupla tutela e o drama político dos amantes que competem pela suite presidencial do PS. O Primeiro-Ministro opta pela mecânica brutal de uma selecção natural feita à custa do Orçamento Nacional, uma espécie de prova da verdade com fogo real. Mas em vez do equilíbrio, da competência, do mérito e da qualidade, os concorrentes do Ministério das Finanças e do Ministério das Infraestruturas exibem as características de quem nada sabe sobre a coisa pública e tudo conhece sobre os corredores partidários. Um clássico da perpetuação da nomenklatura e da exclusão da intelligentsia.
A caricatura da respeitabilidade é um fato que não veste no corpo disforme da ambição. O espectáculo da TAP é tão mau que até uma caricatura tem vergonha de o vestir. Os protagonistas são excelentes na mentira, são profissionais no desconhecimento das regras, são displicentes no respeito pela República, são rigorosos no exercício dos favores, são obedientes na prática do excesso de zelo. Governam por email, SMS e Whatsapp e fogem da verdade como um criminoso foge da cena do crime. Mas este tipo de governação é o retrato de um Governo que “evolui no pensamento”, como se tivesse pensamento ou propósito político a não ser gerir a inércia para se manter no poder. E a inércia é tão grande que os Ministros não se lembram de nada, não são informados, não tomam conhecimento. A partir de agora o País deve fazer perguntas aos assistentes operacionais em regime de substituição e aos motoristas das Viaturas Oficiais. Os motoristas são os únicos e os últimos responsáveis da República. O Mérito Rodoviário é a nova Ética da República.
A julgar pela TAP, a orgânica do Governo é a ilustração de um arquipélago Tropical – ilhas distantes próximas em comunicação e isoladas. Quanto ao conteúdo da governação é típico das Repúblicas das Bananas – as Instituições são a conveniência dos governantes. Nestes regimes políticos as companhias aéreas têm na sua frota dois tipos de aviões – os aviões que voam e os aviões que aterram. O Ministro das Finanças viaja num avião que aterra. O Ministro das Infraestruturas viaja num avião que voa e voa e voa até se perder no horizonte de um grande futuro político.
Os danos na reputação da TAP são grandes. Os danos na autoridade e confiança no Governo são incalculáveis. E se não forem é porque os portugueses não merecem a decência da prosperidade mas a estagnação na cauda da Europa. Porque um País governado por ambiciosos sem mérito e funcionários sem escrúpulos só merece mesmo a indignidade da estagnação.
Existem alguns indicadores políticos que podem ser extraídos do caso da TAP. A mais óbvia é a prática de uma política que pode ser designada pela “política da exclusão”. Na política da exclusão só conta o universo monomaníaco e sectário de uma pequena clic política que se apropria da causa pública em benefício do interesse de uma facção. Nesta zona escura praticam-se os maiores atentados ao interesse público sempre em nome da Democracia. São os de cima e os debaixo, são os privilegiados e os subsidiados, são os que dominam e os que são dominados.
Depois há ainda a “revolta dos anjos”. É a revolta dos cidadãos de bem que se indignam perante o espectáculo da injustiça e da degradação da Ética Republicana que deve pautar os actos do Governo para a prosperidade da Nação. Milhões para prémios e indemnizações; fracções para salários e compensações. Depois também há a “revolta dos demónios”. É a revolta dos membros do Partido que se vêem excluídos das grandes transacções da facção dominante. Esta é a revolta que leva às grandes dissensões e aos grandes conflitos que corroem a coerência interna do Partido no poder. A “revolta dos anjos” e a “revolta dos demónios” coincidem na erosão das identidades – da identidade nacional e da identidade partidária. Um perigo para a Democracia e uma benesse para todas as formas de Populismo.
Nos Jardins do Palácio de Belém está uma nova instalação que representa um enorme Manguito estilizado e em cores pós-modernas. Um Manguito para a situação da Nação e que exige a companhia das Viúvas Negras que voam na TAP.
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