BCP: Cinco prós e contras do aumento de capital
O BCP tem em marcha um aumento de capital de 1.300 milhões de euros. A subscrição das novas ações arranca hoje, mas antes de avançar conheça cinco prós e contras de participar nesta operação.
Arranca hoje o período de subscrição das novas ações do Banco Comercial Português (BCP). São mais de 14 mil milhões de novas ações que vão chegar ao mercado no âmbito de um aumento de capital (mais um de muitos realizados nos últimos anos) com o qual a instituição liderada por Nuno Amado pretende captar 1.300 milhões de euros. Um valor avultado para reembolsar o Estado e colocar os rácios acima do exigido pelo Banco Central Europeu (BCE).
Com este novo aumento de capital, o banco procura garantir uma base sólida para conseguir retomar a rota dos bons resultados — até acena com a possibilidade de vir a entregar 40% dos lucros de 2018 — que têm faltado nos últimos anos à conta do malparado. O objetivo é positivo. E, de facto, o banco ficará em melhor forma para o atingir, mas não há só prós nesta operação. Também há contras a ter em conta. Conheça cinco razões para ir e outras tantas para não participar no aumento de capital.
5 razões para ir
- Adeus ao Estado (e à fatura dos CoCos)
Há um BCP antes de 17 de fevereiro e outro logo depois. O que muda? É nesse dia que o banco liderado por Nuno Amado terá de fazer o reembolso dos CoCos — só tem 10 dias para o fazer após arrecadar os 1.300 milhões de euros do aumento de capital. O BCP vai pagar os 700 milhões de euros que ainda deve ao Estado, acabando assim com quaisquer receios em torno da sua conversão em ações que levariam o Estado a nacionalizar o banco. Ao mesmo tempo que acaba com as dúvidas, o banco põe também fim ao elevado custo que este instrumento acarreta. O custo médio para o BCP foi de cerca de 6%, o que tendo em conta o valor total dos CoCos levou o banco a pagar nestes últimos anos uma fatura de mil milhões de euros. Reduz-se este custo, liberta-se mais resultados operacionais que acabarão por ajudar o banco a voltar aos lucros.
- Mais rentabilidade?
Devolvida a ajuda do Estado, o banco vai tentar acelerar o processo de normalização da atividade. E parte deste regresso à normalidade passa por tornar o seu negócio novamente rentável. O plano estratégico aponta para um ROE (rentabilidade dos capitais próprios, um indicador que avalia a capacidade do banco de gerar valor com recurso aos seus próprios recursos) de 10% em 2018. Albino Oliveira, da Patris, duvida do cumprimento da meta, tendo “em conta a fraca evolução do ciclo de crédito no país”.
- Até vai haver dividendos
Para convencer os investidores, o BCP acena com partilha dos lucros entre os acionistas. Conta fazê-lo em 2019 com a repartição de pelo menos 40% dos resultados líquidos que obtiver em 2018. A política de remuneração acionista esteve condicionada durante o período da ajuda do Estado. Para João Queiroz, do Banco Carregosa, a intenção não deverá passar disso mesmo. “O pagamento de dividendos no setor bancário europeu assemelha-se mais a um processo de intenções do que uma realidade com razoável probabilidade se concretizar porque deverão ter que criar maiores almofadas de reservas para defender depositantes e o princípio da continuidade das suas futuras operações”.
- Rácio mais forte. Acima do BCE
Além do reembolso dos Cocos comprados pelo Estado, outra parte do aumento de capital servirá para reforçar os rácios de capital do banco, uma das condições essenciais para que “a rentabilidade do negócio possa aumentar nos próximos anos”, segundo Albino Oliveira. O BCP diz que após a operação ficará com um rácio acima de 11%, acima do exigido pelo Banco Central Europeu (BCE). No cenário mais adverso, o rácio ficará nos 8,8%, superando o nível de referência europeu nos 5,5%. Em termos práticos isto quer que o banco aguenta-se de pé num ambiente de caos económico e financeiro.
- Reforço de grandes investidores
O BCP tinha como acionista de referência a Sonangol, mas recentemente, além da empresa angolana, passou a contar com o apoio da Fosun. A empresa chinesa já tem mais de 16% do capital, mas comprometeu-se já a reforçar ainda mais. A dona da Fidelidade em Portugal pretende chegar aos 30% do banco, isto ao mesmo tempo que a Sonangol tem autorização do BCE para passar a fasquia dos 20% no BCP. São dois acionistas de peso que vêm dar uma base mais sólida ao banco, sendo garante de apoio perante futuras situações de maior fragilidade. Um fator que poderá dar maior tranquilidade aos restantes investidores, mas também à própria administração do BCP que poderá centrar atenções na condução do banco rumo à rentabilidade.
5 razões para não ir
- Banca. Sempre a banca
Se a banca portuguesa não está bem, o setor financeiro europeu não apresenta melhores sinais. Sobretudo a banca italiana, onde o Monte dei Paschi foi alvo de um resgate público para evitar a contaminação do risco por entre as maiores instituições financeiras italianas. Em Portugal, o BCP identifica riscos no programa de recapitalização da Caixa Geral de Depósitos e no processo de venda do Novo Banco. “A estabilidade financeira do sistema continua condicionada pelo esclarecimento sobre o impacto das responsabilidades contingentes do Fundo de Resolução, pela reestruturação da Caixa Geral de Depósitos, pelo processo de venda do Novo Banco e pela possibilidade de entrada de novos investidores em Portugal e reforço de atuais (por exemplo, Caixabank no BPI), bem como pela adoção de medidas relacionadas com os NPE (non perfoming exposure — exposição a ativos não rentáveis) e pela estabilidade da Zona Euro e dos mercados internacionais”, diz o BCP no seu prospeto.
- Portugal é sempre um risco
Portugal tem estado sob pressão nos mercados de dívida no início do ano. Há várias razões que justificam o facto de os investidores estarem a cobrar mais ao país para comprar a sua dívida. E o BCP tem essa ameaça bem identificada no seu prospeto: “O agravamento substancial do risco da dívida soberana poderia penalizar a posição de liquidez do banco, quer por via das dificuldades de financiamento, quer por via da redução da pool de ativos elegíveis para desconto junto do BCE, bem como dos custos de financiamento da sua atividade e da sua capacidade para aumentar a carteira de crédito e demais ativos”. Também o fator económico é apontando como um risco: “O banco é extremamente sensível à evolução da economia portuguesa, cujos sinais de recuperação da recessão são ainda insuficientes para confirmar uma inversão da trajetória“.
- Malparado? Há menos, mas há
O BCP, tal como os restantes bancos do sistema financeiro português (e mesmo europeu), tem sido fustigado pelos ativos não rentáveis. Está a conseguir dobrar o “cabo das tormentas” no que toca aos NPE: tinha cerca de 13 mil milhões em 2013, tendo reduzido esse montante para nove mil milhões em setembro de 2013 e estima ter fechado o ano com 8,5 mil milhões. A meta é encolher em mais mil milhões durante este ano — vai apresentar em breve o plano ao BCE. Destes NPE, cerca de 60% são malparado. Está a encolher? Sim, mas continua a ser um fardo para o banco. É um montante elevado que continuará a pesar nas contas da instituição. E qualquer percalço na economia nacional poderá agravar a situação.
- Há todo um histórico de maus investimentos
É desta? O banco parece acreditar que sim, que nesta operação de recapitalização há mais vantagens do que desvantagens para os acionistas que aceitarem participar. São mais 1.300 milhões de euros que o banco pede aos investidores, isto depois de mais de quatro mil milhões em sucessivos aumentos de capital desde 2011 desapareceram. Em nenhum dos últimos aumentos de capital os investidores conseguiram ver o seu investimento valorizar: as ações do banco estão a tocar mínimos históricos consecutivos. Um histórico de maus investimentos que aconselha cautela a quem está a ponderar se deve ou não embarcar em mais um aumento de capital do banco liderado por Nuno Amado.
- Um mar de… ações (outra vez)
O BCP tinha, até recentemente, quase 60 mil milhões de ações. Os títulos do banco estavam a cotar em torno dos quatro cêntimos, isto até que foi aprovada uma operação de fusão de títulos que atirou a cotação para a casa do euro. Só com esta operação é que era possível avançar com este aumento de capital, mas como argumentos para a fusão de ações estavam ainda a necessidade de dar maior estabilidade às ações (menor volatilidade) e colocar o banco novamente no radar de grandes investidores (fundos de investimento) que não podem aplicar as suas carteiras em “penny stocks”. De quase 60 mil milhões de títulos, o capital do BCP passou a ser representado por 944 milhões de títulos. Agora, o banco vai voltar a inundar o mercado. Com o aumento de capital vão ser emitidas mais 14 mil milhões de ações. Ou seja, voltará a volatilidade. E os fundos? Não.
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