No Japão, há duas vezes mais ofertas de trabalho que trabalhadores

  • ECO
  • 17 Março 2017

Os jovens universitários têm sete meses do seu último ano para encontrarem emprego. E se nas grandes companhias a competição é grande, nas pequenas e médias há sete postos vagos por cada pessoa.

Para os jovens, encontrar trabalho no Japão é muito mais fácil do que na Europa ou nos Estados Unidos. Basta que comprem um bom fato, elaborem um bom currículo, aprendam as regras de etiqueta bastante exigentes do país, incluindo como comer numa sala comum, como fazer vénias e como sentar da forma correta, e tenham uma linguagem delicada quando estiverem a falar com os entrevistadores. Se tiverem isto tudo, são bem capazes de ter o emprego garantido. Isto porque, em Tóquio, a oferta de postos de trabalho é o dobro da procura.

O Japão tem uma das taxas de desemprego mais baixas em todo o mundo, contrastando com a Europa e os Estados Unidos, onde a escassez de postos de trabalho tem alimentado o apoio da população aos políticos que querem restringir as políticas de comércio livre e baixar a elevada taxa de emigração. Em contrapartida, e segundo uma reportagem da Bloomberg, apenas 3% dos japoneses estão desempregados, comparados com os 9,6% da zona euro e os 4,7% nos Estados Unidos. Mas a falta de trabalhadores nas pequenas e médias empresas — isto é, as que têm um capital social até 100 milhões de ienes (822,9 mil euros) — é a mais grave desde o princípio da década de 1990, de acordo com os dados mais recentes divulgados por um relatório do Banco do Japão.

A baixa taxa de natalidade e a recuperação lenta da economia do país mantêm a média da relação empregador-empregado nos máximos dos últimos vinte e cinco anos, com o valor de 1,43 empresas por cada empregado em janeiro deste ano. Em Tóquio, o número de postos de trabalho disponíveis é o dobro do de trabalhadores à procura deles, pelo menos nas grandes companhias. Nas pequenas e médias empresas, o desfasamento é ainda maior, como explica Shuto Kuriyama, que trabalha nos recursos humanos da Shimachu Co., uma empresa regional de mobiliário: “Nas companhias mais populares de indústrias como as finanças, há sete concorrentes ao mesmo posto. Nos nossos setores, somos sete empresas à procura de um concorrente”.

Os dois lados de uma feira de emprego

Shuto Kuriyama foi um dos pequenos e médios empresários que foram à feira de recrutamento de jovens universitários em Chiba, perto de Tóquio, ainda este mês, e foi confrontado com a diferença flagrante no interesse dos jovens entre as empresas de renome e as menos conhecidas. Enquanto a sua empresa teve de lutar para conquistar os futuros trabalhadores, logo ao lado, os grandes nomes atraíam multidões de jovens às suas bancas, a lutarem por um lugar nos seus quadros.

Michiyoshi Aoki, de 22 anos, é um deles e só tem olhos para as gigantes automóveis. Foi um dos 31 mil estudantes presentes na feira de recrutamento e, na altura, disse à Bloomberg que nem sequer ia procurar uma oportunidade nas pequenas e médias empresas. Só ia concorrer a grandes marcas como a Toyota, a Nissan e a Honda. “Ainda há muita competição para entrar nestas companhias”, explicou, mas defende que trabalhar numa dessas casas, garante melhores oportunidades e um futuro melhor.

No Japão, as áreas mais procuradas pelos jovens que vão ingressar no mercado do trabalho incluem a banca, as seguradoras, as agências de viagens e as companhias aéreas.

Bloomberg

Embora a maioria dos empregadores, independentemente da sua dimensão, ofereça ordenados iniciais semelhantes, nas grandes empresas existe uma quase certeza — pelo menos, para os homens — de que a meio da carreira o salário é muito superior nas grandes empresas, dadas as possibilidades de progressão. Além disso, certas empresas também oferecem subsídios especiais de acomodação ou de férias.

Acabar o curso e correr para o trabalho

Há algo que a grande maioria dos estudantes do ensino superior no Japão têm em comum: se estiverem no terceiro ano dos cursos, têm sete meses, a partir de dia 1 de março, para encontrarem o trabalho ao qual se vão dedicar depois da universidade. A época de contratação encerra a 1 de outubro, com o anúncio, por parte das grandes empresas, dos novos trabalhadores com que vão contar nas suas equipas. Depois, em abril do próximo ano, quando terminarem oficialmente os cursos, as grandes empresas vão buscá-los — e não há oportunidade para anos de interregno ou segundas oportunidades.

Exceto nas pequenas empresas, que costumam aceitar jovens que já tenham acabado o curso há dois ou três anos. “As companhias vão ter de começar a melhorar o seu ambiente de trabalho ou não vão conseguir atrair novas pessoas”, disse Takashi Hibino, presidente do grupo Daiwa Secutiries aos seus investidores.

E isso pode passar por começar a contratar estudantes estrangeiros que estejam nas universidades japonesas. Uma feira de emprego para estudantes estrangeiros, que decorreu nos escritórios da Pasona em Tóquio, atraiu 32 companhias, incluindo todos os grandes bancos do país, e a ideia agradou a contratadores e estudantes. “Quero um trabalho no Japão”, disse Tuyet Ngan, de 26 anos, estudante vietnamita no Japão, que preferia encontrar trabalho na área da restauração ou retalho. “O Japão tem muitas pessoas velhas. Precisam de jovens”.

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