Mendes: “António Costa tem um tique socrático”

  • ECO
  • 30 Abril 2017

Marques Mendes criticou António Costa pela forma como (não) respondeu a Passos Coelho sobre as nomeações para o Conselho das Finanças Públicas. E afirma que o BE recuou em toda a linha na Dívida.

“António Costa tem muitas qualidades, mas tem um tique socrático que deveria corrigir”, afirmou Luís Marques Mendes no comentário semanal na SIC. A propósito da forma como o primeiro-ministro respondeu a Pedro Passos Coelho em relação às nomeações para o Conselho das Finanças Públicas, Marques Mendes não poupou Costa.

“António Costa e José Sócrates são diametralmente opostos em matéria de seriedade, de responsabilidade, António Costa para muito melhor, na minha opinião. Mas são muito parecidos numa coisa, que é controlar as entidades independentes, não gostar das críticas, e é por isso que [o primeiro-ministro] esteve mal na Assembleia da República. Quando Passos Coelho perguntou “explique lá porque é que vetou os nomes para o Conselho de Finanças Públicas”, a obrigação de um deputado é perguntar, a obrigação de um primeiro-ministro é responder. No momento em que não responde, está incomodado, é o tal tique socrático, Sócrates também era assim. E deveria corrigir isso.”

As críticas ao primeiro-ministro estenderam-se, depois, aos próprios vetos para o Conselho das Finanças Públicas. “Depois, além de ter estado mal no Parlamento, também não foi muito inteligente em vetar estes nomes, sobretudo um dos nomes que está em causa, que é uma senhora italiana [Teresa Ter Minassiam] que já esteve no FMI. Sabe porquê? Além de muito competente, quem a conhece, sabe que é muito amiga de Portugal e a circunstância de estar aqui num órgão independente iria ajudar a credibilidade externa de Portugal”. Nomes, recorde-se, propostos conjuntamente pelo Banco de Portugal e pelo Tribunal de Contas. O Conselho das Finanças Públicas está ainda à espera de duas novas nomeações. “António Costa quis agradar aos interesses paroquiais internos do PCP e do BE, mas se tivesse vistas maiores, dava a aprovação e ganhava em termos de credibilidade lá fora”, insistiu.

O relatório sobre a reestruturação da Dívida Pública não passou ao lado do comentário de Marques Mendes.” Este grupo de trabalho é das maiores surpresas. É um recuo do Bloco de Esquerda em toda a linha”, assinala. Mendes reconhece que é na boa direção, mas recorda que foram militantes do BE a assinar o manifesto dos 74, que sugeria uma reestruturação ‘hard’ da dívida. Ao contrário do que é proposto agora. Mendes afirma, aliás, que algumas das medidas propostas são precisamente o que Pedro Passos Coelho andou a fazer quando foi primeiro-ministro.

Marques Mendes afirma, de qualquer forma, que o relatório é uma imprudência. “Um relatório desta natureza, por partidos, ainda por cima, que estão no poder é um ruído que não ajuda nada a tranquilizar os mercados, os investidores e as agências de rating. Deixa sempre um ruído desnecessário, não me parece que seja um ato de grande prudência. E depois algumas medidas são mesmo muito imprudentes. Por exemplo, felizmente o governo já disse “nem pensar, não fazemos isso”… chamar à atenção que o IGCP tem de mudar a sua política, em vez de fazer emissões de dívida a longo prazo, deve fazer a curto prazo, porque os juros são mais baixos. É demagogia completa. Deixem o instituto trabalhar, porque é das coisas boas que temos. Felizmente, o governo já se demarcou disto”.

Mendes analisou também a proposta para aumentar os dividendos do Banco de Portugal. “A mim, não me surpreende nada, porque qualquer coisa em que esteja metido direta ou indiretamente Mário Centeno… há sempre aqui umas questiúnculas com Carlos Costa. Aquilo é um problemazinho pessoal, pessoal, pessoal”. Para Mendes, “Centeno está por detrás de tudo isto, evidentemente”.

O grupo de trabalho, promovido pelo PS e pelo BE, defendeu que as provisões do Banco de Portugal devem ser mais baixas, para ser possível, em contrapartida, aumentar os dividendos. Mendes acrescenta, de resto, que a medida serviria “para baixar o défice” e não a dívida pública. O Presidente da República já matou essa ideia, dizendo que o governo não está a pensar nesta medida, acrescentou.

“Em função de tudo isto, não vai mudar nada. Muita parra e pouca uva. Até que a Europa, um dia, decida pegar neste assunto, senão não vai acontecer nada. Em segundo, o governo, habilmente, demarcou-se. Pôs um secretário de Estado lá dentro, mas depois, um pé lá, um pé cá.”

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