Blanchard, o académico com o toque prático

  • Helena Garrido
  • 22 Maio 2017

Nasceu e cresceu em Amiens, a cidade agora tornada famosa por ser também a terra natal do novo presidente francês Emmanuel Macron.

Olivier Jean Blanchard, 68 anos, foi economista-chefe do FMI de 2008 até ao outono de 2016, um tempo em que a crise financeira deu depois lugar à crise das dívidas soberanas na Zona Euro. O seu sucessor David Lipton dele disse num perfil publicado no Washington Post e que Jorge Braga de Macedo citou: “Olivier é um daqueles raros académicos que merecem ter autorização para praticar”. Para Paul Krugman, o FMI (e a Europa) ganharam com “O toque de Blanchard”. Foi ele que assinou como economista-chefe do Fundo as críticas mais severas à política de austeridade da era da troika.

Tem por Portugal um especial interesse retribuído. Em novembro de 2009 a secção de economia da Academia das Ciências de Lisboa propôs Olivier Blanchard e Paul Krugman como sócio-correspondente da secção de Letras. Em maio de 2010 Paul Krugman recebeu o seu diploma e na quinta-feira 18 de maio foi a vez de o entregar a Olivier Blanchard, uma vez que as suas funções de economista-chefe do FMI o impediram de o fazer mais cedo.

Jorge Braga de Macedo, ex-ministro das Finanças e professor na Nova School of Business and Economics, que apresentou Blanchard na Academia das Ciências e na conferência que decorreu na sexta-feira, identifica seis trabalhos de Blanchard sobre Portugal. Mas há pelo menos quatro que são especialmente influentes. O primeiro em co-autoria com Francesco Giavazzi , “Current Account Deficits in the Euro Area. The End of the Feldstein Horioka Puzzle?” data de setembro de 2002 e pode ser considerado como uma referência para se perceber os erros de avaliação que a maioria dos economistas cometeu quando analisou os primeiros efeitos do euro nos países mais pobres que o integravam.

Um ano depois Blanchard começa a perceber que se tinha enganado na avaliação que fez da natureza e dos efeitos do euro em Portugal. Participa num trabalho da McKinsey Global Institute de 2003 “Portugal 2010: Increasing Productivity in Portugal” e é nessa altura, como ele próprio revela, que percebe que o país está numa dinâmica que lhe vai gerar dificuldades futuras. E em 2006, a convite do então governador do Banco de Portugal Vítor Constâncio, elabora um trabalho em que revela as suas novas perspetivas, indo contra a corrente na altura. “Adjustment within the euro. The difficult case of Portugal” é apresentado numa conferência promovida pelo Banco de Portugal mas essa era uma altura em que ainda ninguém queria acreditar no que lá se dizia. Hoje percebe-se que aquilo que o país viveu posteriormente já lá estava, não se conseguindo isolar o efeito da crise financeira iniciada em 2007. Como diz na entrevista ao ECO, acertou.

“How to strengthen the Portuguese recovery” escrito com Pedro Portugal é o seu mais recente trabalho sobre Portugal e aquele que veio apresentar na conferência que decorreu sexta-feira dia 19 de maio. É um economista prático que se reflete nessa investigação, com recomendações concretas sobre o que fazer e o que não fazer em matéria de política económica.

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