“Há cada vez mais PME a quererem ser tão boas como as melhores do mercado”
O presidente do júri dos prémios IRGA, atribuídos pela Deloitte para distinguir as melhores práticas de governance, acredita que há um "conjunto enorme de empresas que seguem boas práticas".
A Deloitte distingue, esta terça-feira, as melhores empresas e profissionais do mercado no que toca às relações com investidores e práticas de governo. Em conversa com o ECO, Manuel Alves Monteiro, presidente desta 30ª edição dos Investor Relations and Governance Awards (IRGA), fala sobre a cultura de mercado das empresas portuguesas e as expectativas para este ano.
Ao fim de 30 anos dos prémios IRGA, ainda podemos esperar surpresas nos nomeados e vencedores?
Há sempre surpresas. Independentemente de o nosso mercado não ser muito vasto, muito profundo, o que é certo é que há sempre empresas, muitas, que têm um bom desempenho, que lutam por impor boas práticas na sua forma de atuação e por serem bons exemplos. E há também pessoas que, pela forma como desempenham os seus cargos, são merecedoras da nossa admiração e do nosso estímulo.
No seu editorial, refere que os prémios são uma referência na “promoção de uma cultura de mercado”. Que cultura é essa?
Defendemos que as empresas devem atuar de uma forma rigorosa, responsável, transparente. As empresas atuam assim se forem lideradas por pessoas que têm esses valores constantemente em cima da sua secretária e que os impõem às equipas e junto da sociedade. Estes profissionais têm uma responsabilidade social muito importante porque contribuem de forma muito significativa para o desempenho da economia do país e, no final do dia, para o bem-estar das famílias e das empresas.
E essa cultura é generalizada à maioria das empresas portuguesas ou é uma tendência a emergir?
É uma cultura muito mais generalizada e vivida do que aquilo que se julga. Nós tendemos a fazer o nosso juízo em cima de más práticas, que são aquelas que acabam por vir na comunicação social e dadas a conhecer ao público. Mas esquecemos que o mais significativo é o conjunto enorme de empresas e profissionais que, todos os dias, atuam de forma correta, seguem boas práticas e querem sempre fazer mais e melhor. É para essas que nos devemos voltar, independentemente de as notícias do dia-a-dia nos darem informação que parece contradizer aquilo que nós queremos.
O facto de o tecido empresarial português ser maioritariamente composto por PME é um obstáculo à transparência?
Não tem de ser. E até admito que não tem sido. Funciona bastante a ideia de que os empresários devem trazer estes valores para o dia-a-dia da sua ação, independentemente da dimensão da empresa. Temos como exemplo o prémio da golden company, onde cada vez mais temos empresas de menor dimensão, inclusivamente não cotadas em bolsa, que fazem um grande esforço para introduzir as melhores práticas de gestão e de governação para poderem ombrear com aquelas que são escrutinadas diariamente nos mercados financeiros e empresariais. Isso é de enfatizar: há cada vez mais empresas de menor dimensão a quererem ser tão boas como as melhores empresas do mercado, a quererem ter uma gestão, uma governance e talento tão bons ou melhores do que os que se observam nas grandes empresas. Essa vontade e empenho terão, no futuro, um grande impacto. As empresas serão mais sustentáveis e mais competitivas internacionalmente, ficando mais propensas à inovação e ao sucesso. Os jovens começam a querer trabalhar cada vez mais em empresas que têm sinais exteriores de transparência, rigor e respeito pelo mercado e pela comunidade em geral, independentemente da dimensão da empresa e da sua notoriedade.
De que forma é que a crise influenciou as políticas financeiras das empresas?
Desde logo porque obrigou as empresas e os empresários a serem mais rigorosos, inclusivamente na forma como investem e na forma como financiam os investimentos. Quando o dinheiro é mais fácil, é também mais relaxado, menos profissional, menos rigoroso. Quando as dificuldades surgem e quando é necessário vencer maiores dificuldades, vem ao de cima o mérito, a competência, o rigor e a transparência. Foi assim sempre e julgo que os empresários portugueses aprenderam essa lição.
Estando nós agora em recuperação económica, as empresas têm menos incentivo ao rigor financeiro?
Não me parece. Quando falo em dinheiro mais fácil, refiro-me ao passado, de há seis, oito, dez, doze anos, à forma como os financiamentos eram obtidos e à forma como se prosseguiam projetos sem a preocupação de ser muito rigoroso, porque havia uma cultura de endividamento, nitidamente. Hoje não é assim, até porque continua a não ser fácil financiar projetos. A banca tem alguns constrangimentos. Isso pede, da parte dos empresários, muito mais rigor e competência, muito mais qualidade na criação de projetos. Acabamos todos por beneficiar com isso, porque a qualidade dos projetos é muito importante para que ganhem sustentabilidade e se assumam como projetos de longo prazo. Esse equilíbrio vai ser importante para que as empresas consigam sobreviver.
O Governo tem criado condições favoráveis ao investimento?
O que é de enfatizar é como é que a economia em geral, a sociedade em geral, as empresas, os agentes económicos, têm conseguido ultrapassar as dificuldades e criaram, eles próprios, condições para estarem mais bem posicionados amanhã, nomeadamente no plano da competitividade interna e externa. Tem sido mais um trabalho de economia e de agentes económicos do que propriamente de Governo. Queremos que o Estado tenha a dimensão adequada mas, acima de tudo, que seja um facilitador, que permita que os agentes económicos encontrem caminhos, criem postos de trabalho, criem riqueza. Esse caminho que foi seguido, no sentido de os agentes económicos serem suficientemente criativos, expeditos e astutos para seguirem em frente, é isso que mais tem contribuído para um melhor momento que estamos a sentir que existe.
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