A Yupido deve-nos uma explicação, mas não é a única

  • ECO + TheNetwork
  • 25 Setembro 2017

Já toda a gente ouviu falar da Yupido, certo? Aliás, já toda a gente está farta de ouvir falar da Yupido. Foi o tema do último mês em todo o lado.

O que se falou durante muito tempo acerca da Yupido resumiu-se na maioria dos casos à intrigante avaliação daquela empresa misteriosa.

29 mil milhões, certo? Um número capaz de fazer qualquer um perder a cabeça. Quem, como, porquê, ao invés de “como assim?”. Demorou mais tempo do que devia até alguém perguntar: “mas o que é que a Yupido faz?” E o facto de o site não responder a essa pergunta foi mais motivo de piada do que preocupação.

Talvez o domínio duvidoso da língua inglesa não tenha ajudado, mas o problema é outro e não só afeta a Yupido como muitas outras jovens empresas.

Mas quando o Oficial de Contas descreve a Yupido como algo entre um telefone e a internet, talvez um novo Facebook ou uma cópia do Google, nada disto surpreendeu ninguém.

Desde que montei a TheNetwork, tenho defendido que o Empreendedorismo tem muito a ensinar à Indústria tradicional portuguesa – mas que também tem muito a aprender. E uma coisa que tem de aprender é a ser mais transparente. A ser mais claro. A fazer-se compreender.

Uma fábrica de sapatos faz sapatos. Uma fábrica de tecidos faz tecidos. Uma corticeira produz cortiça. You got the point.

Duas voltas aos stands da Web Summit e a experiência é muito diferente. Como perguntou Sam Kriss, jornalista da Vice e The Atlantic, o ano passado “what do any of the companies exhibiting at Web Summit actually do?”. As startups descobrem, transformam, revolucionam ou automatizam a próxima geração de plataformas de conteúdos para B2C e B2B. Percebe-se alguma coisa? Não. Mas talvez a ideia seja mesmo essa, e não devia ser. Não pode ser, porque é a credibilidade destas empresas que está em causa.

Voltando à Yupido: “Yupido’s mission is to provide our clients the needed infrastructure so they can operate with less costs and better time efficiency with the quality and guarantee that only Yupido can offer.” Para quem está fora do mundo das startups a descrição é ridiculamente incompreensível e vaga. Para quem está no ecosistema, esta descrição é só um pouco comprida. “Yupido – providing B2C infrastructure” ou “Less costs, more efficiency” e teríamos aqui mais uma startup como outra qualquer. Mais bem cotada, é certo.

O Empreendedorismo nasceu em Portugal em plena crise. Nasceu em parte como resposta à crise. As primeiras entrevistas da Uniplaces e da Vertty, por exemplo, falavam de uma geração a lutar por ela própria e pelo país, a gerar novos empregos em Portugal, a tentar dar a volta à coisa. Hoje a conversa é outra, é sobre tornar Lisboa e/ou Portugal um foco global. E ambas as ambições são de louvar. Se o empreendedorismo merece a exposição mediática que tem tido, pela coragem dos jovens que se lançam para o negócio próprio, com todos os riscos e dificuldades que isso acarreta, deve algo muito importante a investidores, candidatos, e consumidores: a clareza. Tem de deixar de se tentar esconder por trás de descrições vagas e de modelos de negócio incompreensíveis. Tem de crescer no mundo da objetividade, cambiando a regra de “fake it until you make it” para “If you can’t explain it simply enough, you don’t understand it well enough.”

Espero que isso seja uma das coisas que os empreendedores presentes no TheNetwork 2017 (em São João da Madeira, dias 26 e 27 de Setembro) possam aprender com os grandes empresários com anos de indústria. Uma Indústria que se reinventou com tanto sucesso nesta década, mas sem ter recorrido a subterfúgios para apresentar a sua proposta de valor, que em alguns casos lidera setores de negócio a nível mundial

Mais: há lugar para mais de 10 startups no TheNetwork e uma das grandes ambições para um evento como este é que o Networking seja consequente, e não apenas beber uns copos e trocar cartões de visita. Para isso, é necessário que todos façamos um esforço melhor para explicar exactamente o que fazemos. E não é pouco. É, aliás, cada vez mais importante no caso dos empreendedores Portugueses.

Artigo desenvolvido por: Francisco Leite, Founder TheNetwork

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