São cada vez mais. O que leva os norte-americanos a comprar casa em Portugal?
São cada vez mais os norte-americanos que compram casa em Portugal. Em Lisboa, representam 6% de todas as transações. Garantem que os preços são atrativos em comparação com outras capitais europeias.
Facilmente quem passa por terras lusitanas se apaixona. As fachadas de azulejos, a luz por entre as ruas e os sabores mediterrânicos são algumas das características que conquistam anualmente milhões de turistas. No ano passado, 20% das compras de habitações em Portugal foram realizadas por estrangeiros, com os franceses e os brasileiros a liderarem. No entanto, o número de norte-americanos a cair nos encantos de Lisboa tem vindo a aumentar de forma exponencial.
“Eu e o meu marido costumamos viajar por todo o mundo, mas rapidamente nos apaixonamos por Lisboa e decidimos casar cá em 2016“, conta Elizabeth Di Cioccio, ao ECO. O facto de ser uma cidade de “tamanho médio, com um aeroporto internacional bem posicionado” foi um dos muitos pontos apontados pelo casal para se deixar render aos encantos da capital. “Também não conseguimos ignorar o facto de os lisboetas serem pessoas muito acolhedoras e amigáveis, falam muito bem o inglês, coisa que nos é muito útil porque o nosso português está a evoluir devagar”, conta a responsável de um fundo de capital de risco, com 33 anos. E como não poderia deixar de ser, o clima. Comparando com outras cidades do sul da Europa como Roma, Milão ou Madrid, Elizabeth refere “o clima moderado de Lisboa, que faz dela uma cidade ideal para os meses de verão”.
Nos meses seguintes ao casamento, arrancou a procura por uma casa na capital. “Queríamos um bairro perto de restaurantes, cafés, parques e com um aspeto mais ‘histórico’“, diz. E a procura não foi difícil, segundo contam. Apesar de não ter faltado oferta, faltava o essencial: “encontrar um apartamento que fosse único”. Desde o início que sempre esteve bem definido que teria de ser algo praticamente pronto a habitar, embora não descartassem a hipótese de realizar algumas obras, o que acabou por acontecer. Finalmente, após mais de 25 apartamentos visitados, eis que aparece no Chiado a casa ideal.
Elizabeth e o marido finalmente encontraram aquilo que tanto procuravam. Um apartamento de tipologia T2+1, com 181 metros quadrados, inserido num prédio datado de antes de 1755, com vista para o rio. “No momento em que entramos no apartamento, soubemos de imediato que era o certo, embora fosse menor e numa zona que não estava nos nossos planos. É importante ter uma mente aberta e explorar uma variedade de opções, uma vez que todas as propriedades em Lisboa são únicas“.
"No momento em que entramos no apartamento, soubemos de imediato que era o certo, embora fosse menor e numa zona que não estava nos nossos planos. É importante ter uma mente aberta e explorar uma variedade de opções, uma vez que todas as propriedades em Lisboa são únicas.”
De acordo com os dados da Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal (APEMIP), no ano passado, um quinto das habitações compradas em Portugal foi adquirido por investidores internacionais, com os franceses (29%) e os brasileiros (19%) no topo. No entanto, o interesse por parte de norte-americanos tem vindo a aumentar, representando atualmente 6% do mercado em Lisboa, sendo a quinta nacionalidade que mais compra na cidade.
Na imobiliária Porta da Frente Christie’s, os dados são ainda mais conclusivos. No ano passado, os investidores norte-americanos presenciaram um aumento de 1.100% face ao ano anterior, acabando por aumentar o valor médio de compra de 200.000 euros em 2016 para 900.000 euros em 2017. “O mercado norte-americano é um dos novos mercados que começa a ver Portugal como uma opção muito interessante para investimento imobiliário, bem como para as famílias se estabelecerem. O crescimento económico e tecnológico do país, acompanhado por uma qualidade de vida imbatível, tornam o país bastante apelativo“, explica ao ECO Rafael Ascenso, diretor geral da Porta da Frente Christie’s.
Foi através dessa imobiliária que, assim como Elizabeth Di Cioccio e o marido, também Joshua Madan, engenheiro informático com 59 anos, comprou casa em Lisboa. “Há muito tempo que admirava Portugal e, especialmente, a capital. Eu já visito Lisboa ocasionalmente há alguns anos. Sempre gostei da qualidade de vida cá e sempre a achei uma cidade bonita“, começa por explicar ao ECO o norte-americano. Apesar de não poder cá vir com frequência, Lisboa entra nos planos futuros em visitas algures pela Península Ibérica.
"Há muito tempo que admirava Portugal e, especialmente, a capital. Eu já visito Lisboa ocasionalmente há alguns anos. Sempre gostei da qualidade de vida cá e sempre a achei uma cidade bonita.”
Foi numa dessas passagens ocasionais pela capital que Joshua decidiu comprar cá uma casa. E o impulso para essa aquisição foram os vistos gold. De acordo com dados do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), em termos acumulados, desde que começaram a ser atribuídos, o investimento total captado com estes vistos “dourados” ascendeu aos 3,6 mil milhões de euros, dos quais 3,26 mil milhões provêm da compra de bens imóveis. Desde essa data e até ao final de fevereiro deste ano, foram atribuídos 5.876 vistos gold pelo requisito da aquisição de bens imóveis, sendo que 51 se destinaram a cidadãos norte-americanos, totalizando 2,2 milhões de euros, de acordo com os dados que o ECO obteve junto do SEF.
Joshua encontrou o seu cantinho, pronto a habitar, na zona do Príncipe Real, uma localização escolhida pela “sua beleza e comodidades, bem como pela proximidade com outras partes da cidade”. Um apartamento T2+1, com 145 metros quadrados, com “bastante luz e com muitas das características arquitetónicas originais mantidas”. Em termos de custos, estes superaram um pouco os limites definidos previamente: “Gastei um pouco mais do que aquilo que tinha planeado, mas não muito. Foi mais por uma questão de certas características que eu queria ter, como um terraço“, conta. Mas, quando comparado com Nova Iorque ou Londres, o norte-americano defende que os preços não são assim tão exorbitantes.
O mesmo defende Elizabeth, que conta que adquiriu o apartamento num valor em linha com as expectativas que ela e o marido tinham. “Ao longo da nossa procura, fomo-nos informando sobre os preços dos imóveis nas várias zonas. Percebemos que o preço por metro quadrado pode variar, mesmo em locais semelhantes, então tentamos ter tempo para nos adaptarmos a esses valores”, diz ao ECO. E quanto ao futuro dos preços das casas, que continua a aumentar para máximos de 2011, a norte-americana acredita que as subidas não vão parar por aqui, mas que, mesmo assim, “Lisboa vai continuar a ter bons valores em comparação com outras capitais europeias e do mundo”.
De acordo com os dados da Porta da Frente Christie’s, o mercado norte-americano tem preferência por Lisboa, com 72,7% das vendas de imóveis a serem realizadas na capital no ano passado, e ainda por Cascais, com 27,3% das transações. Em termos de valor médio, esse quadruplicou de 2016 para 2017, passando de cerca de 200.000 euros por imóvel para 900.000 euros.
No futuro próximo, nenhum dos mais recentes habitantes de Lisboa pensa em vender o imóvel que adquiriu. Joshua põe essa hipótese, mas “apenas daqui a muitos anos”. Por sua vez, Elizabeth assegura que vai ser “extremamente relutante” nessa venda, ainda que tenha noção que o valor do seu apartamento aumentou consideravelmente. No entanto, é uma questão em cima da mesa, uma vez que está a tratar dos documentos necessários para adquirir uma segunda casa em Cascais, perto da praia, onde espera “passar mais tempo no verão”.
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